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Depois do Equador, Somália também é bombardeada

Aviões dos Estados Unidos atacam território somali poucas horas depois do ataque da Colômbia contra o Equador; ações extra-territoriais indicam inflexão na metodologia de guerra.



Por Glen Ford, reproduzido do Brasil de Fato.

No mesmo final de semana que aviões da Colômbia lançaram bombas contra o Equador, aviões dos Estados Unidos bombardearam a Somália. Os ataques ocorreram por uma diferença de poucas horas – as Farc foram atingidas no sábado, dia 1º, e supostos membros da al-Qaida, no domingo, dia 2.



Sobre o ataque contra o país africano, pouca foi a repercussão, apesar de terem morrido três mulheres e três crianças e outras 20 pessoas terem ficado feridas – entre elas mais quatro crianças. Tudo indica que uma inflexão na metodologia de guerra está em curso: estabelece-se que em nome do “combate ao terrorismo”, ataques extra-territoriais possam se dar em qualquer ponto do planeta – com a expectativa da anuência da comunidade internacional.



No caso da Somália, bombardeada perto de sua fronteira com o Quênia, mísseis de precisão do Exército dos Estados Unidos foram usados contra duas casas “onde estavam conhecidos terroristas” ligados a operações da al-Qaida do Leste Africano. Leia abaixo, análise sobre os interesses dos Estados Unidos na Somália, escrita antes do ataque.



A política exterior estadunidense é a causa direta da crise humanitária na Somália – a pior de toda a África, de acordo com funcionários da ONU. Por este motivo, há pouco tempo, os meios de comunicação de massas corporativos dos EUA diziam pouco ou nada sobre as centenas de milhares de somalis – já são cerca de meio milhão – que enfrentam a morte por fome ou doenças, por causa de uma guerra instigada e facilitada por Washington.



Os meios de comunicação de massa corporativos, de maneira sistemática, evitam – e assim, encobrem – histórias que contradizem a mítica narrativa estadunidense: que os Estados Unidos querem fazer bem ao mundo, e que apenas fazem mal por engano.



O terrível dano inflingido à Somália foi absolutamente premeditado, como parte integral dos planos estadunidenses de trazer o falaz argumento da “guerra contra o terror” à África, como fachada para dominar o continente e sua riqueza. Desde o fim formal do colonialismo na África, a política dos Estados Unidos tem sido espalhar o caos naqueles lugares onde Washington fracassou em impor regras favorecidos pelos seus próprios “homens fortes”.



Quando no começo de 2006, grupos muçulmanos derrotaram os senhores da guerra da Somália – um país que é 99% muçulmano – uma aparência de paz e, pelo menos, alguma esperança pelo futuro se enraizaram no país. Em todos os aspectos, a vida estava voltando ao “normal” para um povo que só havia conhecido enfrentamentos brutais desde 1991.



Uma paz desse tipo era inaceitável para a administração Bush, que incitou uma histeria massiva nos Estados Unidos, alertando que a al-Qaida estava estabelecendo uma base na Somália, e atiçou o regime da vizinha Etiópia, histórico rival da Somália, a atacá-la.



Os Estados Unidos trabalharam de mãos dadas com os invasores etíopes em todos os níveis do Exército da Etiópia, enquanto os aviões dos EUA repetidamente provocavam o terror a partir dos céus. Assim que os etíopes plantaram a si próprios no território e impuseram seu governo-fantoche somali na capital, Mogadiscio, os Estados Unidos enviaram seus outros agentes africanos à região, o Exército de Uganda, para constituir a maioria das “forças pacificadoras” na Somália.



A resistência somali à invasão etíope considerava a estas “forças de paz” africanas em Mogadiscio como agentes dos EUA – e com respeito ao Exército ugandês, estão certos.



Se houve alguma vez uma fórmula para gerar uma guerra sangrenta e prolongada na Somália, essa é a ocupação etíope – a qual já está unificando divesos elementos da população em uma frente de resistência comum.



Esta guerra desestabilizará também a própria Etiópia, um país com mais de 1/3 de muçulmanos e casa de muitos que se opõem ao regime ditatorial de Adis Abeba.



Se o governo dos Estados Unidos estava buscando um plano para assassinar a centenas de milhares de africanos, o encontrou. Desta vez, no entanto, como no Iraque, Washington tem criado mais caos do que pode manejar.



As Nações Unidas acharam necessário organizar o envio de jornalistas estadunidenses para que testemunhassem a carnificina que seu próprio governo tem levado a cabo na Somália – os mesmos estadunidenses que clamam preocuparem-se com o povo de Darfur, e que prometem que o novo Comando Africano dos Estados Unidos trará paz ao continente.



Os estadunidenses, assim como os europeus antes deles, trazem apenas a paz dos mortos. (do Global Research, www.globalresearch.ca)



Glen Ford é editor-executivo do Black Agenda Radio Report