Sem categoria

Fórum de São Paulo repudia Doutrina Bush na América Latina

O Grupo de Trabalho do Fórum de São Paulo, reunido na Cidade do México, durante dois dias, aprovou nesta quarta-feira (12) um forte pronunciamento de repúdio a “latinoamericanização” da Doutrina Bush pelo governo fascista de Álvaro Uribe, da Colômbia.

A importância da reunião e de suas declarações residem no fato de que é o primeiro encontro das forças de esquerda da América Latina e do Caribe após os ataques da Colômbia ao acampamento das FARC no Equador, em 1º de março último, que resultou na morte de Raul Reyes, segundo homem na hierarquia da guerrilha.



O Fórum de São Paulo, constituído em 1990, é a principal instancia plural de debates da esquerda latino-americana, com a participação de todas suas expressões políticas e ideológicas. O Grupo de Trabalho por sua vez é uma instancia de coordenação entre os Encontros anuais do Fórum. Do Brasil, participam do GT, o Partido dos Trabalhadores, que responde por sua Secretaria Executiva e o Partido Comunista do Brasil.



A reunião do México foi assistida por representações partidárias da Argentina, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Nicarágua, Peru, Porto Rico, Uruguai e Venezuela, além dos anfitriões Partido da Revolução Democrática (PRD) e do Partido do Trabalho (PT) do México. Pelo Brasil, participaram Javier Alfaya e Ronaldo Carmona, ambos da Comissão de Relações Internacionais do Comitê Central do PCdoB e Valter Pomar, Secretário de Relações Internacionais do PT.



Fórum em Montevidéu



A reunião teve o objetivo principal de preparar a realização do XIV Encontro do Fórum de São Paulo, que se realizará de 22 a 25 de maio próximos, na capital uruguaia, sob auspícios da Frente Ampla, coalizão que governa o país. Segundo proposto pelos partidos uruguaios, a reunião de maio buscará discutir o atual momento político da América Latina, marcado pela ascensão de forças democráticas, progressistas e mesmo revolucionarias aos governos nacionais de diversos paises da região. Debaterá as experiências diversas desses governos com a participação de Partidos membros do Fórum de São Paulo a frente de seus paises, além da necessidade de avançar e fazer confluir os processos de integração da América Latina, como o Mercosul e a União das Nações Sul-americanas (Unasul).



Em nome do PCdoB, Ronaldo Carmona valorizou a proposta da Frente Ampla de debater o novo quadro político latino-americano. Apoiou a idéia proposta de observar a participação das forças de esquerda a frente dessas experiências a partir da relação entre a diversidade e unidade.



Ou seja, da diversidade ideológica e programática que marcam essas forças – “como não poderia ser diferente, dada distintas formações sociais de nossas nações e objetivos estratégicos dessas forças políticas” – e da unidade, isto é, a busca de objetivos comuns por parte desses governos, “como a busca do desenvolvimento econômico e a defesa da soberania nacional, o aprofundamento da democracia e a busca de direitos para as maiorias de nossos povos”.



Carmona também defendeu que o debate no Fórum a ser realizado em Montevidéu sobre o novo momento da América Latina deve ser feito situando o contexto em que se dão esses avanços. Nesse sentido, destacou o representante do PCdoB, “é preciso valorizar a crescente contestação da hegemonia unipolar do imperialismo norte-americano no mundo, com o fracasso completo da Doutrina Bush no Iraque e no Afeganistão, assim como na tendência ao aparecimento de novos pólos e alianças de países contrárias à hegemonia neoliberal e a atual ordem internacional”. Pelo que, conclui Ronaldo Carmona, “é necessário, no debate sobre a América Latina, valorizar a luta antiimperialista e pala paz, como vetores centrais do contexto em que ocorrem essas buscas de mudanças em nossa região”. A bandeira da paz e do antiimperialismo, defendeu o representante do PCdoB, ganha centralidade nesse momento, inclusive na América Latina, com a recente agressão colombiana ao Equador.



Repudio a Bush e a Uribe



A reunião do Grupo de Trabalho do Fórum de São Paulo no México, realizada na terça e quarta-feira, também debateu longamente as agressões da Colômbia ao Equador, a partir de informações das representações da Colômbia e do Equador.



A reunião aprovou duas resoluções a respeito, uma em solidariedade ao Equador pela violação de seu território e outra em apoio a uma saída política, negociada e humanitária para o conflito interno da Colômbia. As resoluções, em fase final de revisão e tradução, serão publicada em breve pelo Vermelho, que adianta aqui suas idéias principais.



O pronunciamento do Fórum de São Paulo condenou com veemência a agressão de Álvaro Uribe – apoiado logisticamente por forças norte-americanas estacionadas no país e na vizinha Base de Manta, no Equador – contra o território do seu país vizinho e denunciou ser esta uma conseqüência direta do famigerado Plano Colômbia. Apoiou as firmes atitudes do presidente Rafael Correa e pediu respeito ao principio da não-violação da soberania territorial e o respeito ao direito internacional. Nesse sentido, a resolução denunciou a importação por Uribe, das teses centrais da Doutrina Bush, sobretudo as guerras preventivas e extraterritoriais.



A resolução pede aos países latino-americanos que tratem o tema a partir da própria região, rejeitando a interferência nefasta do imperialismo norte-americano em assuntos de nossa região. Nesse sentido valorizou a reunião do Grupo de Rio em Santo Domingos, na Republica Dominicana.



A reunião do Fórum de São Paulo também prestou solidariedade ao povo colombiano, vitima maior das agressões de Uribe, e fez um chamado a paz na Colômbia. Várias intervenções na reunião lembraram o processo da paz na América Central no final dos anos 1980 e inicio dos anos 1990, como um importante paradigma na busca da reconciliação no país.



Muitos lembraram, entretanto, que o ataque de Uribe ao acampamento das FARC no Equador mostra que não é essa a disposição do governo colombiano, ao atacar o principal negociador das libertações unilaterais de presos em poder da guerrilha. Constatou-se a importante declaração do presidente equatoriano Rafael Correa em sua visita a Nicarágua, na semana passada – quase que ignorada pela grande mídia – dando conta de avançadas negociações para a libertação da franco-colombiana Ingrid Betancourt.



A reunião também prestou solidariedade ao povo mexicano pela morte no ataque ao acampamento das FARC, de jovens estudantes da UNAM, que se encontravam legalmente em território equatoriano, inclusive com visto que lhes permitiam visitar qualquer parte do território deste país. O fato causou comoção na sociedade mexicana.



Seminário do PT mexicano



Na seqüência da reunião do Fórum de São Paulo, começa hoje na Cidade do México, o XII Seminário anual “Os Partidos e uma nova sociedade”, organizado pelo Partido do Trabalho mexicano e que conta com a participação de forças de esquerda de todo o mundo.



O Seminário, neste ano, discutirá as busca de alternativas nacionais no plano de cada pais e a contra ofensiva do imperialismo norte-americano, em especial na América Latina. O Vermelho, com informações da Cidade do México, acompanhará o desenvolvimento deste evento, no qual participam os dois representantes do PCdoB. Ronaldo Carmona também é , diretor do Cebrapaz e Javier Alfaya , vice presidente da entidade e deputado estadual pela Bahia.



Da redação, com informações da Cidade do México