Metalúrgicos do Brasil: a explosão democrática sindical
O final da década de 70 é marcado por um grande sentimento de indignação, fruto da ditadura militar repressiva e continuada e, esse clima, atinge a população como um todo. O movimento sindical, amordaçado durante todo esse período que se iniciou na déc
Publicado 13/03/2008 15:57
O movimento ganha corpo e se faz necessário a realização de um Conclat (Conferencia Nacional das Classes Trabalhadoras) em 1982. Nesse período, no entanto, já se viam sinais de divergências internamente onde um grupo que defendia a ratificação do governo brasileiro com a Convenção 87 da OIT (pluralismo e fim do imposto sindical obrigatório) e o outro afirma a necessidade da unicidade sindical para unidade de ação. Nesse processo os metalúrgicos, em especial do ABC paulista ligados a industria automobilística, tem um papel de destaque.
Toda essa disputa leva o adiamento do Conclat de fundação da Central (inicialmente marcado para 82) passando assim para 83, mas, ainda assim, o racha não é evitado e acontecem dois Conclats. Dessa forma, são criados também dois instrumentos: A Comissão Pró-Central Sindical, com o objetivo de acumular mais e ser mais ampla (Praia Grande) e a CUT (no de São Bernardo). A primeira foi articulada pelos comunistas e trabalhistas nascendo com uma grande instabilidade interna já que essas correntes polarizavam bastante à tempos, e, a segunda, nasce ligada ao grupo do chamado de ''novos sindicalistas'' que são na verdade os fundadores do PT, os mesmos que criticam os comunistas, sem compreender que novo de fato era o momento colocado.
Só, após a Constituinte de 1988, no período posterior ao 4 ConCUT em 1991, que os comunistas se incorporam à CUT, visando uma maior combatividade do movimento sindical. A Constituinte traz importantes vitorias e consolida a democratização nacional, impulsionada também pela campanha ''Diretas Já''. O movimento sindical vive um ascendente de muitas mobilizações e credibilidade frente à sociedade já que todo esse processo organizou milhares de trabalhadores em torno de bandeiras não só econômicas como também políticas e que, por isso, acabavam influenciando a vida e as condições de trabalho da maioria dos brasileiros.
Paralelamente a essa realidade brasileira, toda a Europa vive a realidade oposta: crise do trabalho e dos sindicatos de trabalhadores. A introdução de um novo regime de produção (flexível) visando à superação do até então consolidado Fordismo passa a criar novos paradigmas para o mundo e o Brasil sofre esse processo principalmente nos anos 90.
Reestruturação Produtiva e Fragmentação
A partir dos anos 90, com a eleição de Fernando Collor de Mello, o Brasil vive um período de desmonte de toda a sua estrutura estatal. Uma onda de privatizações alastrou-se pelo o país e, mesmo com a queda de Collor, após o curto governo Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso assume a presidência adotando a mesma plataforma neoliberal, só que dessa vez com muito mais energia, tendo por base o ''plano Real''.
Diversas empresas quebram e o índice de desemprego cresce absurdamente. As estatais, principalmente, demitem um enorme número de trabalhadores que vão se somar às filas dos desempregados. Simultaneamente, passa-se a privilegiar o capital financeiro em detrimento do capital produtivo e as empresas brasileiras deixam de ter sustentação, já que tudo passa a ser gerido pelo capital especulativo, volátil.
FHC chega a dizer que em seu governo ''a era Vargas acabou'' já que a ideologia neoliberal do Estado Mínimo se constitui como aspecto fundamental de sua política. É nesse período que se dão as privatizações de estatais importantes como a Companhia Siderúrgica Nacional, Companhia Vale do Rio Doce, Sistema Telebrás e tantas outras. Da mesma forma, com o crescimento do desemprego, crescem também as cooperativas de trabalho que visam nesse período, em sua maioria, estabelecer um contrato temporário de trabalho para livrar o empregador da lei e ''salvar'' o empregado do desemprego.
Técnicas pautadas na distribuição de diferentes áreas de produção ao redor do mundo com o objetivo de buscar maior produtividade e lucro acabam caracterizando o momento posterior ao fordismo em que o trabalhador passa a ter menos contato ainda com o produto final de seu ofício e se torna ainda mais despossuído e alienado. Para o setor metalúrgico em geral, esse processo é ainda percebido duramente devido principalmente às inúmeras demissões. Nesse momento, ganha força a tese de que o trabalho acabou ou perdeu sua centralidade, e que não mais existe alternativa para se contrapor a expansão e hegemonização do capital.
O golpe ao sindicato é ainda mais caxapante e, uma nova virada passa a ser fundamental já que fica cada vez mais difícil organizar o trabalhador que, entre outras questões, vivia sobre o fantasma do desemprego.
Lula e a Reforma Sindical
A eleição de Lula, um filho desse movimento na sua categoria mais expressiva da década de 80, os metalúrgicos, gera uma enorme expectativa para toda a sociedade. A idéia de uma Reforma Sindical, de nova relação com o movimento e de crescimento econômico encheu o movimento de esperança, porém, nem todas elas puderam se realizar e, mesmo as que agradaram, ficaram longe de resolver o problema de arrefecimento das mobilizações.
A CUT, por sua vez, passa a ficar mais isolada, tendo basicamente sua composição hegemonizada por correntes petistas. Fruto desse vácuo, no final de 2007, é criada a Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil (CTB), visando responder às categorias com lutas e conquistas. Os metalúrgicos também dessa vez, se colocam na ponta do processo de reconstrução, sem medo de ''começar'' uma nova etapa, em um outro momento, compondo de forma expressiva a CTB.
Desafio do Sindicalismo
Muito ainda tem que ser feito para que o movimento se fortaleça ainda mais. Diversas tentativas são desenvolvidas e a CTB nasce com o desafio fundamental de dar cabo a luta dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiras, compreendendo a heterogeneidade atual da categoria que, conta com cerca de 50% de mulheres e, com ênfase à juventude, de forma ampla e democrática.
A entidade, já na sua fundação, aprova a filiação à Federação Sindical Mundial, entidade de base progressista e representativa em âmbito internacional, com destaque a luta anti-imperialista. Saber conviver com as divergências, primar pelo diálogo de diferentes correntes políticas e a independência frente ao governo Federal são tarefas fundamentais da central que, coloca como principal bandeira para a organização do movimento sindical brasileiro a realização de um novo Conclat, como objetivo de unificar a pauta de lutas dos trabalhadores.
Os ''velhos'' trabalhadores metalúrgicos, construtores também da primeira organização sindical do Brasil, no início do século XX, se mostram jovens na perspectiva da renovação, reinvenção de um novo movimento, e ao mesmo tempo maduros, com a experiência de quem consolidou as principais vitórias dos trabalhadores brasileiros, desde o inicio de nossa formação. O desafio está lançado e, os metalúrgicos, estão na proa dessa embarcação.
Leia também a parte 1:
Os metalúrgicos do Brasil: da COB à CTB
* Luisa Barbosa é presidente da UJS da cidade do Rio de Janeiro, do Sindicato dos Sociólogos do Rio e mestranda da UFRJ em Sociologia e Antropologia.