Transporte coletivo integrado é alternativa em São Paulo
As ações do Poder Público devem priorizar o transporte público coletivo. Essa foi a constatação geral entre os convidados do Seminário “Democratização da Cidade e a Mobilidade Urbana” realizado nesta segunda-feira, dia 17 de agosto, na Câmara Municipal de São Paulo pela bancada do PCdoB.
Publicado 19/08/2009 13:15 | Editado 04/03/2020 17:18
“O transporte público deve ser planejado para dar segurança, pontualidade e conforto a baixo custo para o usuário e isto pode ser conseguido com rede de metrô, trens e ônibus modernos e de qualidade”, afirmou o vereador Jamil Murad.
Segundo Jamil, o modelo de desenvolvimento que privilegia o uso do carro particular ainda se mantém enquanto os recursos para construção de metrô, por exemplo, são sempre escassos e não estão na ordem de prioridade. “O metrô foi criado em 68 e deveria ter em dez anos 140 km mas só temos 61km mesmo passados quarenta anos”, lembrou Jamil.
O vereador comparou São Paulo com a cidade do México que possui atualmente 200 km de metrô e começou a construir ao mesmo tempo que São Paulo. Jamil citou ainda Paris com 212 km de metrô e Londres com 408 km.
Desigualdade Social
Para o professor Flávio Vilaça, urbanista da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, e um dos expositores do seminário, as ações do poder público se distribuem privilegiando áreas nobres da cidade em detrimento das regiões mais populosas e mais pobres de São Paulo.
Ele citou a região sudoeste onde se situam os bairros de Higienópolis, Pacaembu e alto de Pinheiros, entre outros, como o espaço urbano que mais concentra obras públicas na área do transporte. “Nesse local é onde moram os ricos da cidade e onde está concentrado o poder político”, lembrou Vilaça.
Jamil disse que esse cenário de desigualdade só será alterado através da mobilização da sociedade e da articulação política. “É preciso fazer pressão política para que as ações do poder público sejam democráticas”, ressaltou Jamil. O vereador Netinho de Paula lembrou que é necessário rever os critérios no investimento das verbas.”O valor investido não pode beneficiar só o transporte individual”, disse.
O deputado estadual Pedro Bigardi (PCdoB) elogiou o evento e disse que pretende levar a idéia do seminário para a Assembléia Legislativa. “É necessário o conhecimento técnico para embasar a nossa ação. Precisamos discutir como se planeja a cidade”, destacou Bigardi.
Trabalho e Moradia
“São Paulo teve projeto urbano só que não para todos”, afirmou Ailton Brasiliense, presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP). Segundo ele, que abordou no seminário o tema “O sistema público de transporte e o trânsito em São Paulo” faltam na cidade políticas públicas para dar um ordenamento ao trânsito.
“Não dá pra colocar a moradia no extremo da cidade e o empregos na área central obrigando as pessoas a viagens demoradas, caras e desconfortáveis”, ressaltou. Para Marcos Bicalho, superintendente da ANTP, as prioridades do poder público incentivam a poluição, congestionamentos e acidentes. “Este é o preço que pagamos por este modelo de mobilidade que dissocia local de trabalho e moradia, por exemplo”, disse Bicalho.
Obras Viárias
Bicalho também classificou como preocupante o pacote de obras que está sendo tocado pelo Governo do Estado e Prefeitura de São Paulo no valor de 4 bilhões de reais. “Túneis e ampliação de vias são obras para carro e carro gera tráfego. Precisamos tirar os carros da rua já e não colocar mais veículos particulares nas ruas”, sentenciou Bicalho.
Ao final do seminário, o vereador Netinho de Paula informou à platéia que as contribuições feitas no seminário pelos convidados e colaboradores serão aprofundadas e subsidiarão futuras proposituras dos mandatos dele e também do vereador Jamil Murad.
O seminário reuniu cerca de 150 pessoas entre elas o diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANTP), Alcides Amazonas; Wagner Fajardo, presidente da Federação Nacional dos Metroviários; Rosana Miranda, da FAU-USP; Julia Roland, presidente do Comitê Municipal do PCdoB; Lilian Martins, da direção estadual do PCdoB e representantes do Sindicato dos Condutores de SP, Sintaema, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, Companhia de Engenharia de Tráfego, Facesp, Movimento pelo Direito a Moradia, Sindicato dos Bancários, Ferroviários da zona Sorocabana, Empresa de Transporte e Turismo Estadual, Movimento Nossa São Paulo, entre outras organizações não governamentais e movimentos de bairros.