Ivina Carla – Globo e Record: "Tudo a ver"
As cenas tristes que essas duas emissoras noticiam nesse duelo de quem é a pior, é a prova de como é necessário construir outro modelo de comunicação para o nosso país. Quanta sujeira que estava por debaixo dos tapetes do Big Brothers, Fazendas, novelas aparecem.
Publicado 21/08/2009 11:55 | Editado 04/03/2020 16:34

As máscaras caem, mas mesmo assim essas duas emissoras (não troco uma pela outra) conseguiram renovar concessões, no calor da discussão sobre o arquivamento das denúncias contra o Sarney (que assim como nós, elas também já sabiam que ele era quem é), agiram mais uma vez pisoteando a Constituição.
Os momentos que presenciei desses ataques fiquei revoltada. A Igreja Universal enviando ofício para a Rede Globo propondo alugar espaço na emissora para exibição de cultos. Onde fica o estado laico nessa história? A carta magna de 1988 serve pra que? E a concessão que é um direito nosso decidir? A Record agora compra o direito de veicular o documentário do Simon Hartog (aquele mesmo que a gente reproduz para que as pessoas vejam a verdade e foi proibido no Brasil), e alguns acreditam que é um favor para a democracia. O que não é. Ela tem visão comercial assim como a Globo, só que esta teve mais tempo de ludibriar a sociedade com as inovações e fantasias da TV com o seu surgimento e a espetacular ajuda dos militares.
Bem, as duas são a mesma coisa. Dentro da teoria funcionalista, cumprem o papel de vigiar, entreter e disseminar a herança da elite dominante. Não podemos fazer o discurso de quem é a melhor: elas brigam por audiência e poder. O que a Record quer é o monopólio que a Globo ainda insiste em ter hoje. Se a emissora do Edir Macêdo quisesse mesmo detonar a Globo e fazer jornalismo sério, lançaria programas de discussão sobre a Conferência de Comunicação e a importância da participação popular nesse debate e não reproduzir a mesma agenda e programação da rival.
Na minha humilde e indignada concepção, esse é o espetáculo da miséria, da falta do que falar, da crise da mídia. O nosso país é muito rico em produção de cultura popular, poderia ter a oportunidade de vivenciar novas formas de fazer comunicação de modo que os segmentos se sentissem representados. Daí a urgência de criação de mais TVs públicas para que tenhamos a opção de escolher, de decidir e produzir.
Ivina Carla (Acadêmica de Jornalismo)
P.S : Na última quarta-feira (19), a Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado aprovou a renovação das concessões de emissoras próprias tanto da Rede Globo como da Record. Da Globo, foram renovadas as concessões das emissoras de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte. Já da Record, as de Itajaí e do Rio de Janeiro.