Ivina Carla – Globo e Record: "Tudo a ver"

As cenas tristes que essas duas emissoras noticiam nesse duelo de quem é a pior, é a prova de como é necessário construir outro modelo de comunicação para o nosso país. Quanta sujeira que estava por debaixo dos tapetes do Big Brothers, Fazendas, novelas aparecem.

Briga TVs

As máscaras caem, mas mesmo assim essas duas emissoras (não troco uma pela outra) conseguiram renovar concessões, no calor da discussão sobre o arquivamento das denúncias contra o Sarney (que assim como nós, elas também já sabiam que ele era quem é), agiram mais uma vez pisoteando a Constituição.

Os momentos que presenciei desses ataques fiquei revoltada. A Igreja Universal enviando ofício para a Rede Globo propondo alugar espaço na emissora para exibição de cultos. Onde fica o estado laico nessa história? A carta magna de 1988 serve pra que? E a concessão que é um direito nosso decidir? A Record agora compra o direito de veicular o documentário do Simon Hartog (aquele mesmo que a gente reproduz para que as pessoas vejam a verdade e foi proibido no Brasil), e alguns acreditam que é um favor para a democracia. O que não é. Ela tem visão comercial assim como a Globo, só que esta teve mais tempo de ludibriar a sociedade com as inovações e fantasias da TV com o seu surgimento e a espetacular ajuda dos militares.
Bem, as duas são a mesma coisa. Dentro da teoria funcionalista, cumprem o papel de vigiar, entreter e disseminar a herança da elite dominante. Não podemos fazer o discurso de quem é a melhor: elas brigam por audiência e poder. O que a Record quer é o monopólio que a Globo ainda insiste em ter hoje. Se a emissora do Edir Macêdo quisesse mesmo detonar a Globo e fazer jornalismo sério, lançaria programas de discussão sobre a Conferência de Comunicação e a importância da participação popular nesse debate e não reproduzir a mesma agenda e programação da rival.

Na minha humilde e indignada concepção, esse é o espetáculo da miséria, da falta do que falar, da crise da mídia. O nosso país é muito rico em produção de cultura popular, poderia ter a oportunidade de vivenciar novas formas de fazer comunicação de modo que os segmentos se sentissem representados. Daí a urgência de criação de mais TVs públicas para que tenhamos a opção de escolher, de decidir e produzir.

Ivina Carla (Acadêmica de Jornalismo)

P.S : Na última quarta-feira (19), a Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado aprovou a renovação das concessões de emissoras próprias tanto da Rede Globo como da Record. Da Globo, foram renovadas as concessões das emissoras de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte. Já da Record, as de Itajaí e do Rio de Janeiro.