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Embaixador chileno renuncia após defender ditadura de Pinochet

Após muitos pedidos de renúncia, o embaixador do Chile na Argentina, Miguel Otero, deixou o cargo na noite de terça-feira (8), por causa de declarações polêmicas sobre a repressão da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). No domingo (6), em entrevista concedida ao jornal argentino Clarín, ele afirmara que "a maioria" dos chilenos "não sentiu" os efeitos da ditadura em seu país.

Otero comunicou a decisão por telefone ao ministro de Relações Exteriores chileno, Alfredo Moreno, que estava em Lima, no Peru, participando da 40ª assembleia geral da OEA (Organização dos Estados Americanos).

"A chancelaria aceita e respeita a decisão do embaixador Otero e agradece o trabalho desenvolvido em nossa missão diplomática na Argentina", afirmou uma declaração oficial do Ministério das Relações Exteriores do Chile.

Na entrevista ao Clarín, Otero disse também que “se não fosse o período militar, hoje o Chile seria Cuba”. Para os chilenos, se Piñera não pedisse o afastamento de Otero, quebraria uma das promessas de sua campanha: não colocar no governo pessoas que tenham simpatia pelo regime militar.

O embaixador, hoje com 79 anos, disse que as violações de direitos humanos foram “atos institucionais”. Quando as críticas começaram, o embaixador se desculpou pela afirmação, em entrevista coletiva concedida na Argentina.

Segundo o jornal chileno La Nación, Otero foi o primeiro procurador da Universidade do Chile depois da chegada de Pinochet ao poder. Depois da redemocratização, ele foi acusado de ter demitido professores e expulsado alunos que simpatizavam com regimes de esquerda.

Outro jornal chileno, La Tercera, publicou que o presidente Sebastián Piñera evitou comentar o assunto e ainda não divulgou nomes para substituir Otero em Buenos Aires.

Polêmica

Com a declaração de Otero, senadores, deputados e membros de partidos políticos chilenos solicitaram que ele deixasse o cargo. O argumento era o de que o diplomata desrespeitou aqueles que sofreram com a repressão do regime militar que, no dia 11 de setembro de 1973, depôs o então presidente Salvador Allende, morto no episódio.

A primeira reação após a declaração do embaixador veio da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados do Chile. Eles pediram formalmente uma explicação do chanceler. Moreno explicou que a afirmação de Otero corresponde a "opiniões pessoais e não refletem a posição do governo de Sebastián Piñera”.

A explicação de Moreno não foi suficiente para parar as críticas de políticos. Citado pela emissora Telesur, o presidente do Senado chileno, Jorge Pizarro, disse que as declarações são muito graves e vão trazer “problemas com a América Latina por conta da sensibilidade que existe para a questão dos direitos humanos".

"As explicações não são suficientes e eu também acho delicado que o chanceler diga que são opiniões pessoais", disse Pizarro, um dos políticos que exigiu a renúncia de Otero.

Partidos

Da mesma forma, o senador Juan Pablo Letelier, do Partido Socialista chileno, chamou a atitude de Otero de "vergonhosa" e afirmou que o embaixador "se tornou inútil", citado pela BBC Mundo. 

O presidente do Partido Comunista Chileno, Guillermo Teillier, também pedia a denúncia de Otero por acreditar que é uma falta de respeito com aqueles que viveram as “atrocidades do governo militar".

A presidente do Partido pela Democracia, Adriana Muñoz, afirmou ser necessário explicar por que o chanceler argumentou tratar-se de opinião pessoal do embaixador, já que se tratava um funcionário do Chile em outro país.

Torturados e desaparecidos

A Fundação José Domingo Cañas 1367, entidade que presta homenagem a vítimas do regime de Pinochet, emitiu um comunicado criticando Otero. No documento, afirmam que "centenas de milhares de chilenos foram exilados, milhares foram assassinos e muitos outros foram presos ilegalmente e torturados".

Segundo pesquisa da Comissão Retting, de 1991 (um ano após o fim da ditadura), havia 3.197 vítimas – entre elas, 1.192 desaparecidos.

Com Opera Mundi