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Crianças do MST fazem jornada por escolas em outubro

Está chegando o dia 12 de outubro e a criançada fica ansiosa, louca por presentes. Não importa em que dia da semana será comemorado o tradicional Dia das Crianças, a data é sempre motivo de muita festa e de diversão. Certo? Mas não é só isso. Para as crianças Sem Terrinha, filhos de acampados e assentados do MST, o Dia das Crianças é muito mais que ganhar presentes.

- Arquivo MST

O mês de outubro é, principalmente, referência de luta das crianças, quando fortalecem a identidade da criança Sem Terra e realizam uma grande festa, onde também trocam experiências culturais. Por isso, desde 1994, o MST promove atividades com os Sem Terrinha.

 “A criança Sem Terrinha vem ocupando e construindo a sua organização no processo de luta do MST e sua identidade vai sendo forjada. Creio que um Sem Terrinha é uma criança organizadora, decidida, com personalidade e que não tem vergonha de dizer que está na luta para ter a terra”, afirma Márcia Mara Ramos, do setor de educação do MST. 

Em entrevista à página do MST, Márcia afirmou que o objetivo da jornada das crianças do MST, além da socialização e afirmação da identidade das crianças com a organização,  "é negociar com as autoridades locais e estaduais as demandas de escola, espaços de lazer para as crianças e infraestrutura geral nos assentamentos".

Paraná

Desta sexta-feira (8) até o próximo dia 15, cerca de 4 mil crianças de acampamentos e assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Paraná se organizam em várias regiões do estado para discutir o tema Sem Terrinha por Escola, Terra e Dignidade!.

Segundo o coordenador de Educação do MST, Alessandro Santos Mariano, apenas 100 dos 300 assentamentos existentes no Paraná têm escolas. Nesses locais, vivem cerca de 28 mil famílias. “No restante dos acampamentos as crianças são obrigadas a enfrentar transporte e estradas precárias para frequentar aulas nas cidades”, disse Mariano.

Em apenas 21 escolas há cursos de 5ª a 8ª séries e 16 oferecem até o ensino médio. “Como a maioria só garante até a 4ª série muitos desistem de estudar e entre os que continuam é grande a reprovação devido às faltas, costumeiras em alguns locais de difícil acesso”, explicou. De acordo com o coordenador, não há um índice certo, mas é muito alta a evasão escolar no campo após a 8ª série.

Além dos assentamentos, há também as escolas itinerantes que atendem acampamentos do estado. “São dez escolas onde estão matriculados 1,2 mil educandos”, informa o coordenador, acrescentando que o número de unidades escolares é muito baixo para atender todos os alunos.

”Ser criança no campo é diferente de ser criança nas cidades. Desde muito pequenas elas acompanham os pais na luta por seus direitos e já conhecem e discutem o Estatuto da Criança e do Adolescente”, disse Mariano.

A expectativa é que 18 estados realizem os encontros reunindo 12 mil crianças em todo o Brasil.

O que é a Jornada


Márcia Mara explica como surgiu a  Jornada Nacional dos Sem Terrinha: "foi sendo construída ao longo da historia do MST com a participação permanente das crianças na luta pela terra, demarcando o território na luta pelo direito à escola desde o acampamento ao assentamento e assim construindo a identidade de Sem Terrinha. A jornada é organizada a partir dos Encontros de Sem Terrinha nos Estados, com ações locais, regionais e estaduais, mas tem caráter nacional. Os encontros são espaços de socialização de conhecimentos, de brincadeiras, de reivindicação e de muita festa, alegria e compromisso que são firmados diante esse coletivo de crianças".

Para a educadora popular, esse espaço é muito importante para as crianças: "lembro do Sem Terrinha Luciano, de Pernambuco, por exemplo, que quando participou pela primeira vez do encontro relatou que tudo era muito bonito, que nunca tinha visto tanta criança junta e que iria continuar lutando porque era Sem Terrinha e tinha orgulho disso. É dessa forma as crianças que participam se comprometem com a Jornada Nacional dos Sem Terrinha".

Segundo Márica, a Jornada Nacional é um espaço para "brincar, socializar, 'arquitetar' planos e fazer um grande encontro de reivindicação, diante dos poderes públicos exigindo a efetivação dos direitos da criança e do adolescente".

Da redação, Luana Bonone, com MST e Agência Brasil

Alterado às 11h37 para acréscimo de informações