Em reunião com Gilberto Carvalho, CMS apresenta 10 pautas
Lideranças da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) estiveram reunidas, nesta quarta-feira (13), com o secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho. As entidades expuseram 10 pontos em defesa de um projeto nacional de desenvolvimento, enfatizando a necessidade de mudanças na economia e as reformas estruturais (documento anexo ao fim da matéria). Também foi questionada a possível retomada de acordo com os Estados Unidos para instalação de base espacial em Alcântara (MA).
Publicado 14/04/2011 15:43

Em nome da Operativa da CMS, a secretária nacional de Comunicação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Rosane Bertotti, fez um breve histórico das lutas desenvolvidas pela Coordenação, que teve papel de destaque no enfrentamento à tentativa de golpe contra o presidente Lula em 2005, na defesa do protagonismo do Estado e do fortalecimento do papel do mercado interno no combate à crise internacional.
Rosane apresentou os 10 pontos centrais da pauta da CMS, resumindo: "mudanças na política econômica, reforma agrária, urbana, política, da educação e da comunicação, defesa do pré-sal, redução da jornada sem redução de salário, garantia de trabalho decente contra o trabalho escravo e a defesa conjunta em favor da saúde pública e contra o fator previdenciário. Esta é a síntese da nossa pauta, que expressa o projeto de país que queremos ver implementado por esse governo".
O presidente da União Nacional dos Estudantes, Augusto Chagas, destacou que o primeiro ponto preocupante é a política econômica, apontada como "a tampa que impede que várias conquistas sociais possam se desenvolver de uma forma mais plena". Por esta razão, frisou, o grande desafio da conjuntura é a mobilização popular para dar enfrentamento ao conservadorismo que impede o pleno desenvolvimento do Brasil. "É a pressão popular que tem condições de levar o país a um novo patamar, e o Projeto Brasil, da CMS, é a nossa plataforma para disputar novos rumos", acrescentou.
Amplitude
Representando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Paulo Rodrigues reiterou a relevância da CMS: "nenhum fórum reúne esta amplitude de forças, se afirmando como espaço privilegiado de articulação e pressão por mudanças na política econômica".
Lúcia Stumpf, da União Brasileira de Mulheres (UBM), defendeu as mudanças na política econômica como o "cerne" das propostas para que o país seja capaz de implementar reformas democráticas, como as da educação, urbana, comunicacional e agrária. "Estas transformações não serão passageiras, serão um conjunto que democratizará a estrutura de poder no país. Por isso, nos próximos meses, vamos às ruas para apoiar mudanças e garantir políticas mais ousadas".
Para Edson França, da União de Negros pela Igualdade (Unegro), a regularização de terras quilombolas é essencial para que estas comunidades centenárias tenham acesso a crédito e a políticas públicas. Edson também cobrou a plena implementação da lei sancionada pelo presidente Lula sobre a história dos afrodescendentes, "democratizando o conhecimento e o saber".
Base de Alcântara
Além dos 10 pontos centrais que foram apresentados pelas diversas lideranças presentes à reunião, um outro ponto assumiu destaque, quando a presidente do Centro Brasileiro de Luta pela Paz (Cebrapaz), Socorro Gomes, indagou a respeito da posição do governo sobre uma possível retomada de um acordo entre o Brasil e os Estados Unidos para a construção de uma base de lançamento espacial em Alcântara (MA).
Este acordo foi proposto durante o governo Fernando Henrique Cardoso e houve intensa mobilização contrária à sua efetivação, já que, como afirma Socorro, "era lesivo à soberania nacional". O Minsitro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, fez declarações na ocasião da visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil, em março deste ano, considerando a possibilidade de retomá-lo. Indagado, o ministro Gilberto Carvalho demonstoru interesse pelo assunto e respondeu que procurará saber as opiniões e encaminhamentos que têm sido discutidos e responderá às entidades.
Questão cambial
Em que pese a importância da questão, a pauta do encontro permaneceu focada nos pontos apresentados pela CMS. De acordo com Ubiraci Dantas de Oliveira (Bira), vice-presidente da CGTB, um ponto-chave a ser enfrentado neste momento é a guerra cambial desatada pelo governo dos Estados Unidos, que está arrebentando a economia nacional. "O juro alto atrai capital especulativo e deixa o real sobrevalorizado. Assim, as mercadorias de fora são colocadas dentro do país, destruindo a capacidade de produção da indústria nacional, comprometendo o salário e o emprego", acrescentou.
Para Sônia Leite, da Marcha Mundial de Mulheres, “é preciso dar atenção especial à valorização do salário mínimo, que impacta diretamente na qualidade de vida das empregadas domésticas – chamadas de ‘animal em extinção’ por Delfim Neto –, cerca de sete milhões de mulheres”. Soninha defendeu o acesso à creche como fundamental para a autonomia econômica feminina e alertou para a necessidade de mais investimentos na política nacional de atenção integral à saúde da mulher. A criminalização do aborto, disse, é outro ponto angustiante, "pois afeta principalmente pobres e negras".
Diretora da Confederação das Mulheres do Brasil (CMB), Gláucia Morelli elogiou a "postura ousada e bastante sonhada" da presidente Dilma de colocar como prioridade do governo a erradicação da miséria, mas lembrou que, para que isso aconteça, "será necessário baixar os juros, enfrentar a remessa de lucros e a guerra cambial".
Pauta estratégica
O secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, disse estar satisfeito em se reunir com "os principais movimentos do país e debatendo uma pauta estratégica, que dialoga com questões de fundo”, que “se encontram em disputa, como a política econômica”. Gilberto Carvalho disse que da parte do governo há “abertura total para o diálogo” com as entidades populares e se comprometeu a encaminhar as demandas apresentadas pela CMS aos respectivos ministérios, que deverão se reunir com a Coordenação já no início de maio.
Conforme o secretário-geral da Presidência, será mantido um canal de negociação permanente com os movimentos sociais. “Governo é datado, tem dia para acabar e atua no limite da correlação de forças. Nosso papel é fazer a realidade no limite do possível”, declarou o ministro, lembrando que “sem mobilização, as coisas não ocorrem”.
Da redação, Luana Bonone, com informações de Leonardo Severo, da CUT