Fogo-preso
Por Carmo Vasconcelos (*)
Publicado 04/11/2011 14:33

Tenho um poema atado na garganta,
Como uma espinha aguda atravessada,
Cingido ao fogo-preso que o não canta,
Hirta a língua, pla verve não largada.
E a mágoa que bebi, por não ser pouca,
Pela afronta, de fel envenenada,
Traz ressaca de gelo à minha boca,
Pela amarga revolta não gritada.
Porém, se ao rubro a mágoa se agiganta,
Deitada ao gelo, breve é desmanchada,
E porque lisa… a pena já não espanta.
E liquefeito o mote, então sustido,
Corre a mágoa na verve deslaçada,
Vai-se a espinha, e o poema é engolido!
Lisboa/Portugal, 13 de setembro de 2010
(*) Carmo Vasconcelos nasceu em Lisboa/Portugal, onde reside; é autora de um livro de poemas intitulado "Geometrias incompletas" (Lisboa, Editora Veja, 2000) e tem outros livros de poemas aguardando publicação, bem como romance, palestras, conferências e ensaios. E-books: •www.delnerobookstore.com/bibliotecas_virtuais/carmo_vasconcelos