Há fortes razões para ainda crer
Pouco conhecido em seu país, o poeta Geraldino Brasil tem sua obra estudada em países como Argentina, Venezuela e especialmente Colômbia, onde seus versos tiveram larga divulgação e influência sobre gerações mais jovens
Por Beatriz Brenner (*)
Publicado 04/11/2011 14:21

Julho de 1979 – Eu estava para concluir o meu curso de arquitetura. E já previa o meu ingresso em um mundo de incerteza profissional. Um mundo só meu para onde só eu teria que me jogar, sem saber como, desejando muitas vezes me manter na faculdade, sabendo que lá eu teria a certeza do que fazer: continuar estudando. A sensação era tal a de um feto que teima em não querer sair do conforto do útero da mãe, pela certeza de que ali ele estará protegido e sendo nutrido por mais algum tempo.
Foi exatamente naquele mês de julho de 1979 que meu pai, também, começara uma nova etapa em sua vida. Ele, então Procurador Federal e poeta, ou melhor, poeta e Procurador Federal, recebera uma carta de um tal Jaime Jaramillo Escobar, colombiano, que depois soubemos ser poeta.
Este poeta comunicava que havia traduzido para o castelhano o livro “Poemas Insólitos e Desesperados” e que já havia publicado uma mostra num suplemento dominical do segundo jornal em importância da Colômbia – “El Espectador” – com tiragem de 200.000 exemplares. E que em breve iria publicar em livro, a tradução completa para a qual necessitava da autorização do poeta brasileiro. Imagine você, leitor, poeta ou escritor, receber uma carta dessa natureza…
A partir desta data, se consolidou uma amizade de profunda estima entre ambos, que se estendeu até a morte do poeta brasileiro, Geraldino Brasil (**), em janeiro de 1996. Através de suas cartas, eles se conheciam. Riam, conversavam, trocavam ideias, não apenas a respeito da arte de fazer poemas – Não estou dizendo que minha poesia é grande. Digo até que é poesia menor. Mas o que me contenta é que seja verdadeiramente poesia (carta a Jaime de setembro de 1981) – mas e também a respeito de política, do Brasil, da Colômbia, a respeito de religião e das suas famílias, da arte de viver e de tantas outras questões de interesse mútuo e da humanidade.
Duas pessoas que não se limitaram a ser apenas poetas, mas que traziam em si, e em grandes proporções, em tudo que diziam, uma percepção muito sutil sobre tudo que rege a alma humana, expondo esses assuntos com a sutiliza, daquelas que se quer esconder das asperezas do mundo.
Tornaram-se irmãos. Quanto ganhei quando te conheci, irmão gêmeo, bom como a árvore do lado de cá da cerca (carta de 18 de abril de 1982).
A partir dali, a nossa família não continuou sendo mais a mesma. À vida de cada um de nós (meus pais, minha irmã Moema e eu) foi acrescida de algo a mais, de muito especial, que era a existência de Jaime Jaramillo, a extensão dos nossos corações na Colômbia.
Em 2010, ou seja, após 31 anos, resolvo ler essas cartas. Achei-as de uma beleza sem par, de um conteúdo poético que ainda continuam me levando às nuvens. Confesso que me sinto culpada por todo esse tempo desperdiçado. Por ter estado envolvida em tantas outras coisas, sem dar atenção que merecia ao tesouro que estava sob os meus cuidados.
Nessas cartas, encontrei informações sobre o meu pai que ainda não havia tido conhecimento e que tinham a ver com a sua família de origem, de acontecimentos graves até, como a relação com o seu irmão. Não havia ninguém para defender-me. Fiquei exposto indefeso para sofrer o crime. E me lembro que quando se afastou para – segundo pensei – ir buscar algum cacete, na verdade se afastou para abrir as portas (carta de 7 de dezembro de 1981).
Sobre a minha mãe, de forma divertida e irônica. Ela relutou em viajar, pensando em mim. Que eu não sei fazer um café nem forrar a cama. Sempre reclama porque eu não servi ao Exército. Seu irmão é coronel do Exército. Afora saber o que lhe ensinaram, e muito bem, sabe forrar a cama, lavar o banheiro, arrumar a casa. E é um exemplo contra mim (carta de 16/08/1980).
Sobre o não reconhecimento da sua poesia. Mas o importante é que escrevo poemas. E vivo em poesia. E o importante, quanto a acolhimento, é que a acolheste (carta de 16/08/1980). É possível que um dia me leiam e sobre mim escrevam. Mas talvez será preciso que venha de fora, nas tuas traduções (carta de 23/12/1980).
Sobre a sua relação com Deus. Creio em Deus porque não posso crer que tenhas gostado de minha poesia e de mim a partir de 1979. Nem que me esqueças quando eu estiver com Arango e Arturo e Ciro Mendia e Pessoa e Whitman. Creio em Deus porque continuarás querendo ver-me, quando eu estiver com Arango (carta de 18 de agosto de 1982).
Sobre a dor dos outros – Jamais olvidarias a dor dos outros, a enorme dor da rua…. mostrar que a dor dos outros também existe (carta de 16/08/80).
Sobre a política do Brasil e do mundo da época. Não sei se já te mandei um poema “Planejamento Familiar”, este novo eufemismo de matar. É alguma coisa sobre nossa economia (carta de 18 de fevereiro de 1981).
Sobre a morte. A morte nos é triste e pesada porque só vemos um dos seus lados, o da partida, mas não o outro, o da chegada, o do reencontro com outros da nossa afinidade maior (carta de 17/07/ 1981).
Sobre a distinção entre as canções colombianas e brasileiras – A tristeza das canções colombianas é autêntica e permanente tristeza. Já a canção brasileira, triste, pode de repente deixar de sê-lo. O brasileiro pega uma canção tristíssima e a deixa assim enquanto a quer triste (carta de 18/02/1981).
Sem contar a sua impressão sobre mim mesma! Sobre Moema já te falei, e você me pergunta sobre Beatriz. É estudante de arquitetura e tem muita coisa de mim. Daí a minha atenção, quando estou diante dela, para ela não saber sobre mim, completamente (carta de 17/03/80).
Geraldino Brasil fala com afeto e profunda admiração sobre a poesia e pessoa Mário Quintana, Joaquim Cardoso, Manuel Bandeira e em especial sobre Fernando Pessoa e sua mediunidade. Sobre Fernando Pessoa: deves lê-lo sem pressa. Aos poucos ele te irá conquistando. E depois ficarás com ele à mão, para sempre (carta de 18/04/1982). E sobre o campo e a cidade. E sobre espiritualidade.
Seria impossível expor neste texto os inúmeros assuntos abordados. Eles ficarão para ser lidos, posteriormente, em um livro que pretendo escrever. Mas, para que ele seja concretizado, uma leitura atenta, verdadeiramente atenta, e minuciosa de cada termo, de cada linha, de cada parágrafo dessas cartas será necessária. E isso levará algum tempo.
O tempo passou e esses dois nunca tiveram a chance de se encontrar.
No início deste ano, escrevo – já não mais por carta, mas por e-mail – ao Jaime para informá-lo sobre a ideia de escrever um livro baseado nas cartas.
Com emoção recebo sua resposta: Querida Beatriz, qué grata sorpresa y qué coincidencia. Actualmente se está impimiendo acá, por una prestigiosa e importante editorial, el libro “Cartas con Geraldino Brasil”. Será una bella edición, ilustrada con un manuscrito y fotografia de Geraldino, y con un grabado de Creusa….
Senti uma grande emoção, não pela coincidência sobre a qual Jaime se refere, porque aprendi que não existem coincidências, mas, e sim, pela forte sintonia e afinidade que não morreram com o tempo e que, pela força da poesia, ainda se conservam até hoje. Assim, como papai mesmo disse, e novamente cito: Creio em Deus porque não posso crer que tenhas gostado de minha poesia e de mim a partir de 1979. Nem que me esqueças quando eu estiver com Arango e Arturo e Ciro Mendia e Pessoa e Whitman. Creio em Deus porque continuarás querendo ver-me, quando eu estiver com Arango (carta de 18 de agosto de 1982).
Após ter sabido sobre a publicação do “Cartas con Geraldino Brasil”, tive a forte sensação de que eu não poderia perder mais tempo e que conhecer Jaime pessoalmente era vital. Conhecer este homem que tem feito o meu pai tão feliz desde 1979. Olhar em seus olhos, ouvir sua voz, saber onde mora, conhecer seus amigos e sobre o que pensam dele. Saber o que e como pensa.
Eu, decididamente, me pus determinada a conhecer Jaime Jaramillo Escobar, excluí-lo definitivamente do papel de escrivinhador de cartas, de poeta e crítico e de tradutor dos poemas de Geraldino Brasil e me colocar diante dele para não apenas lhe agradecer por tudo, mas para abraçá-lo e conviver com ele por alguns dias.
Mas finalmente quem é Jaime Jaramillo Escobar? Jaime é o maior poeta colombiano vivo – ele nasceu em 1932 em Pueblorrico, Antioquia. Publicou 31 livros, três deles são traduções de poemas de Geraldino Brasil: “Poemas de Geraldino Brasil”, 1982, “Tercer Mundo, Bogotá”; “Poemas Útiles de Geraldino Brasil”, 2003, “Pre-Textos, Espanha”; “Cartas con Geraldino Brasil”, 2011, Tragaluz Editores, Medellín).
Em Medellin, onde mora atualmente, detive-me a observá-lo. Não acreditei quando o vi pela primeira vez no aeroporto. De estatura baixa, franzino, com um andar pequeno, de passinhos lépidos e ritmados. À primeira vista, ele parece frágil. No entanto, quando fala e dá a sua opinião, soa seguro e firme, muito firme. Seus amigos são muitos, todos o amam e o respeitam. E o tem como um mestre, e até o chamam de mestre. Tem um senso de organização incomum a nós, seres humanos. De humor também com a dosagem exata de ironia, a medida certa para que a sua mensagem seja satisfatoriamente assimilada. A sua poesia o revela…
Ficamos (fui acompanhada da amiga Reuja) naquela cidade de 21 a 27 de julho deste ano. E para cada dia ele proporcionou visitas e passeios interessantíssimos. Saliento as visitas a sete das 24 excelentes bibliotecas públicas. Nos surpreendemos com a imponência do projetos arquitetônicos destas bibliotecas, a funcionalidade dos espaço internos, iluminação, mobília, limpeza e higiene, jardins bem conservados e, principalmente, a presença significativa do público leitor. Tudo isso nos impressionou enormemente.
A última delas que nos levou foi a Biblioteca Piloto onde Jaime exerce suas atividades há 27 anos. É interessante sabermos que em todo o Mundo existem apenas duas bibliotecas piloto da UNESCO, a de Medellín, na Colômbia e a de Nova Delhi, na Índia.
Em cada um desses dias, Jaime nos proporcionou com a agradável companhia de um escritor ou poeta a quem chamava de ‘duende’. Todos, sem exceção, expressavam sua grande admiração pelo poeta brasileiro e quando era apresentada como ‘hija de Geraldino Brasil’ a expressão era de uma mistura de surpresa e alegria. Ouvi de um jovem poeta que Geraldino havia mudado a sua vida e que seus livros não saem da sua cabeceira. Ouvi também de um dos ‘duendes’, o poeta Verano Rios, que a poesia do poeta brasileiro está no momento sendo bem aceita pelo leitor jovem.
Bem, voltemos a Jaime Jaramillo Escobar ou X-504, que era seu pseudônimo dentro do nadaísmo, movimento literário subversivo do final dos anos 50 em Medellín, e que se caracterizava por poemas sentenciosos e irônicos. X-504 é parte do número do seu RG.
À medida que os dias passavam, fui tomando afeição por ele. Mais e mais. Um misto de sentimentos que não sei explicar. Jaime me surpreendia. Uma pessoa não apenas culta, mas, e principalmente, sábia. Tocou-me o coração quando percebi que o seu envolvimento com a vida literária e seus tantos outros afazeres não o afastou do seu vínculo com a essência humana. Com a natureza de Deus e tudo o mais que criou e que está em nossa volta. Não o fez um intelectual inacessível, de rosto estático, tenso, de olhar fixo. Não o tornou alheio à modernidade, à dinâmica das coisas e dos que estão ao seu redor. Jaime não perdeu a humanidade e se mistura à vida sem medo, trazendo-a para dentro de si e logo nos entregando de volta, agora renovada, para que não morramos de maneira insípida. Jaime tem um olhar sereno dos deuses. E, com a firmeza e sabedoria que é natural dos deuses, resignifica o pouco que enxergamos para nos darmos conta da venda que ainda cobre a nossa consciência. El mal también necesita sus poetas y sus artistas. El mal y el bien no son enemigos: son socios. (“Metódo fácil y rápido para ser poeta”, pag. 24. – 2011, Bogotá – Luna Livros).
Jaime é, antes de tudo, um filósofo. Chega a nos oferecer fórmulas para definitivamente nos pormos com os pés enraizados no chão para que, aquele que assim o fizer, passar pela vida de forma mais consciente e assim, mais plena e feliz.
Na tua poesia se revela a anterioridade e a posterioridade da alma. Na tua grande poesia vejo muito tua alma. Lendo-te, olhando para baixo, não sei onde começas, olhando para cima, não sei onde terminas., decifra muito bem Geraldino Brasil, em uma das suas cartas ao poeta colombiano. Em outras palavras, Jaime não tem limites ou até os tem, a partir do momento que, aquele que o lê, chega a alcançar e a se mesclar a sua essência, se tornando um com o poeta.
Papai não o conheceu, mas nem precisava. Através da poesia de Jaime foi possível despi-lo por inteiro. E eu, incapaz de decifrá-lo de longe, fui até a ele.
E foi este homem, hoje com 79 anos, incansável, que nos levava para todos os lados da cidade e de seus subúrbios, atualizado como um jovem frenético, sedento pelas novidades do mundo, que me fez acreditar que há fortes razões de ainda crer (carta ao Jaime de 16 de agosto de 1980).
Apontava aqui e ali o objeto, a paisagem, ou o que quer que fosse que achasse interessante para conhecermos. O seu andar ligeiro, porém curto e suave, segue o ritmo da mente ágil e criativa que foi presenteada por Deus. Mas tudo isso sem nos enfadar – muito pelo contrário – quando nos deixava no hotel, logo que dava as costas, já nos fazia falta. Muita falta.
A ideia de ter com ele algum tempo para falarmos sobre papai não chegou a acontecer como eu esperava. Isso não me importou, pensei comigo, as cartas já disseram tudo. Achei que naturalmente os encontros com ele e com os poetas amigos iriam ser valiosos nesse sentido. E foi exatamente o que aconteceu.
Em uma das noites nos levou a um teatro, Teatro Matacandelas. Mas não pensem em um teatro pomposo como o nosso de Santa Isabel não. Um teatro no centro da cidade, simples, mas super bem transado. O ambiente aconchegante, cheirava a arte, falava-se de poesia entre os poetas. A maioria, a grande maioria de jovens. E Jaime lá, sendo abraçado por todos, inclusive pelos os atores, regado às bebidas ‘calientes’ colombianas oferecidas pelo bar no interior do teatro. Seu rosto não dava sinais de cansaço depois do dia cheio que passara com as duas brasileiras.
Em uma das paredes havia um desenho dele, nu, sentado em uma cadeira e em volta poemas da sua autoria, inclusive este traduzido para o português:
Apólogo do paraíso
Eva, transformada em serpente, ofereceu a Adão uma maçã.
Foram expulsos do Paraíso, mas levaram sementes com eles
E encontraram outra terra e ali plantaram as sementes do Paraíso.
Podemos fazer sempre o Paraíso em volta de nós onde estivermos.
Basta para isso ficarmos nus.
É, querido Jaime, ‘basta para isso ficarmos nus’ do egoísmo, da vaidade, do ciúme, da maldade, do despeito, da injustiça e de tantos outros sentimentos mesquinhos que nós, humanos, ainda alimentamos – para podermos ‘fazer sempre o Paraíso em volta de nós onde estivermos’. Percebo que tudo o que é irá lhe garantir o passe que o levará ao paraíso. Será que nos encontraremos?!
Aos sábados, Jaime lidera uma Oficina de Poesias na Biblioteca Piloto onde ele vem trabalhando, como já disse, há 27 anos. Para minha alegria participei de uma das Oficinas que homenageou Geraldino Brasil, ou São Geraldino, como gosta de dizer. Vários poemas traduzidos para o espanhol, selecionados por Jaime, foram lidos pelos poetas e escritores participantes (um pouco mais de 30) do grupo. Segundo Jaime, queremos ler Geraldino hoje através de vozes diferentes. Foi emocionante. Jaime abriu a leitura, continuada pelos demais. Mas antes falou: A tradução literal acaba com o poema. Algumas coisas em português não existe em espanhol. As traduções são livres para que se adaptem ao espanhol natural, do contrário não se entende. Isto é, para que o poema se torne natural. Uma das 'muchachas' não se conteve e chorou ao ler o poema que coube a ela. Depois da leitura, aquele que quisesse opinar, opinava. E foram depoimentos belíssimos. Alguns me presentearam com seus livros e na dedicatória sempre se referiam a papai como ‘grande poeta’. Houve um espaço para perguntas, principalmente sobre a minha relação com meu ‘papá’!
Foi uma manhã de muita alegria, de muitos abraços, de reconhecimento à poesia do poeta brasileiro. Uma calorosa acolhida dos amigos colombianos dado ao amor que sentem pelo nosso país. Segundo Jaime, com um humor e ironia próprios dele – qualquer um de nós colombianos que coloca um boné do Brasil na cabeça começa a pensar de forma mais inteligente.
Os dias foram repletos de encontros maravilhosos. E tinha que ser assim.
Conheci Jaime. E por um momento, quando o abracei, senti que abraçava os dois poetas. Eu, em verdade, abraçava o amor entre dois irmãos que um dia se reencontraram ‘nus’ para fazerem o Paraíso em sua volta e alcançarem o estado de graça por milênios sem fim.
Eu, ali, abraçava um tempo que racionalmente se pode até limitar a partir de 1979, mas que há grandes possibilidades de ter sido bem antes. E também o espaço de tempo, desde a morte do meu pai até hoje. Abraçava a mim mesma, estudante de arquitetura, que gritava Pai, carta de Jaime, quando era eu quem recebia o envelope do carteiro. Abraçando Jaime, eu abraçava a minha família – hoje meus pais encantados e minha irmã morando fora do Brasil há 23 anos – representada pelo único elo que restou de um lugar do passado tão incomum.
Em Medellín, chorei várias vezes à noite. E em muitas delas, não consegui pregar o olho pela emoção de ter o merecimento de ainda poder (re)compor o cenário dessa história, cujo protagonista ainda vibrava e brilhava a minha frente. Repleto de poesia e energia.
Transcrevo alguns dos pensamentos de Jaime, retirados do seu “Método fácil y rápido para ser poeta”, como um ‘regalo’ ao merecido e querido leitor do “Interpoética” para que sinta o gostinho deste poeta e pensador colombiano. Segundo ele, este livro é um compêndio das experiências da Oficina de Poesia que vem ministrando desde 1985 con diferentes grupos de escritores, de los 15 a los 70 años, pues nunca es tarde ni demasiado temprano para empezar a meter la pata.
Las personas permanecen insensibles frente al mundo. Su actitud ante la Naturaleza es una actitud urbana, de indiferencia y destruición. Se aprecia una flor si tiene precio en el mercado. De lo contrario, se la sustituye por una imitación. Ya he visto en jaulas pájaros mecánicos, frente a los cuales se ponen frutas artificiales. El pájaro tiene un mecanismo que lo hace cantar al desputar el alba.
A pesar de la afamada “literatura urbana”, el poeta tiene que salir el campo. El poeta que no se relaciona con la naturaleza tampoco se relaciona com Dios.
Se quieres ver a Dios mira el Universo.
Si vemos un insecto lo aplatamos antes de intentar observarlo.
La sensibilidad se cultiva a través de las artes, las ciencias, la literatura, la reflexión, y hay que tener alerta todos los sentidos y el cerebro despierto durante todo el tiempo si se desea ser escritor. Los poetas de fin de semana y los pintores de fin de semana no pasan de ser aficionados, hermosos diletantes. La sensibilidad, si no se usa, se embota.
La mirada sobre los propios textos peca siempre de narcisismo. Por más exigentes que seamos sobre la obra ajena, juzagamos siempre la propria indulgencia, y no logramos tomar con ella la distancia ncesaria para verla como cosa extraña…
La poesia es la primera de las artes, porque todas las demás se nutrem de ellas.
Hace diez mil anõs que el hombre cultiva la marihuana ya la poesia. ¿Se acabará la poesia?
E assim é Jaime, como assim tem sido a nossa relação com a Colômbia. Um país que acolheu, deu força e valor à poesia do poeta Geraldino Brasil e que, de certa forma, valorizou o nome do nosso país lá fora, além do já tão conhecido e respeitado futebol brasileiro e do eterno reconhecimento ao corpo da mulher brasileira.
Não sei quando sairá o livro que me proponho a escrever, baseado nas cartas de Jaime e Geraldino, mas quem viver, o verá, ou melhor, o lerá. Quanto ao “Cartas con Geraldino Brasil”, este está previsto para ser lançado no final de setembro de 2011, na Colômbia.
… Devo terminar. Se eu começar a te falar sobre papai, mamãe e esse meu Tio Julio, voltará toda aquela infância e mocidade e iria a 10 páginas.
Mas na próxima carta te falarei sobre eles. Faço-o porque será uma maneira de entenderes mais minha poesia, sabendo da minha maneira de ser (carta a Jaime de 23 de dezembro de 1980).
Beatriz Brenner
PS: nossa viagem continuou até Bogotá. Lá tive o prazer de conhecer o poeta e outro grande admirador de Geraldino Brasil, Jotamario Arbeláez. Nos encontramos em seu apartamento super bem decorado, com paredes repletas de pinturas (inclusive um belo mural dos bustos dos nadaístas – e entre eles estava Jaime, lindo, cheio de vigor. Mas será que mudou??) e livros de arte espalhados por toda parte.
Também em Bogotá tivemos a felicidade de ficarmos hospedadas na casa de Otto Moralez Benítez (91 anos), grande intelectual, humanista, um homem universal que transcende o tempo e por tanto que tem contribuído para o seu país e para o mundo. No passado, foi indicado para se candidatar a presidência da Colômbia. Ex-Deputado, Senador, foi Ministro do Trabalho e da Agricultura. Publicou 133 livros a atualmente 44 estão para ser publicados. Grande admirador da poesia e da pessoa de Geraldino Brasil, Otto, com quem tivemos a satisfação de um encontro bastante agradável em nossa casa, juntamente com Audálio Alves, em 1985, ainda profere palestras, vai ao escritório diariamente e continua a escrever para presentear a humanidade com pensamentos profundos, ainda inexplorados. Mas sobre este homem, um longo capítulo a parte terá que ser escrito.
(*) A arquiteta pernambucana Beatriz Brenner é filha do poeta Geraldino Brasil.
(**) Geraldino Brasil (1926 – 1996) é pseudônimo do poeta Geraldo Lopes Ferreira, alagoano, nasceu no Engenho Boa Alegria, em Atalaia (AL), radicado em Recife (PE) desde 1951. Foi Procurador Federal; como poeta, foi mais conhecido fora do Brasil, especialmente na Colômbia, e também na Argentina e na Venezuela.