Publicado 15/05/2012 09:53 | Editado 04/03/2020 16:29
No dia a dia, por falta de tempo ou porque estamos normalmente empenhados em resolver, encaminhar ou desenvolver um número já definido de tarefas nas quais gravitam nossa existência, às vezes esquecemos de questionar com mais profundidade fatos simples e triviais ou bárbaros e sanguinários que acontecem no espaço social.
Estou me referindo às imagens repetidas mostradas pelos meios de comunicação do País após as partidas de futebol, principalmente, na final dos campeonatos estaduais. O momento, que deveria ser marcado pelas comemorações dos jogadores e das torcidas, transforma-se em cenário de guerra, diante de tantas manifestações de violência. Briga entre torcidas, mortes de torcedores, arrastões e depredações dos espaços públicos são cenas que se repetem pelos estados brasileiros como se fosse algo natural nos dias de jogos. Tudo isso no País que vai sediar a próxima Copa do Mundo de Futebol em 2014.
O cenário de violência nos estádios e em seu entorno nos dias de jogos nos leva a questionar se a prática do futebol hoje contribui para acordar e alimentar a animalidade e a rivalidade adormecida no ser humano ou seria um cimento a mais na construção do homem como animal social.
Que os envolvidos nesses atos de violência explícita não costumam frequentar nossos museus, teatros e livrarias é uma coisa que podemos afirmar com quase 100% de certeza. A estratificação que surge da forma de organização da sociedade que se baseia na valorização do capital faz com que o mesmo jogo de futebol seja visto de infinitas maneiras, e quase todas elas distorcidas, já que filhas da mesma deformação, da mesma maneira excludente com que o capitalismo vem fabricando e reproduzindo seus monstros.
De qualquer ângulo que se olhe, as deformações estão estampadas com todas as cores e formas que simbolizam nossa realidade atual. Que o salário de um jogador bem pago seja o equivalente ao de 80 deputados federais, de 1.500 vereadores ou de 2.419 trabalhadores da construção civil é uma das portas que podemos abrir para ter acesso às distorções que o capital conseguiu imprimir na lúdica atividade.
*João Ananias é médico e Deputado federal (PCdoB)
Fonte: O Povo