Audiência na Câmara debate atendimento de urgência

Uma importante audiência pública marcou a agenda da Câmara Municipal de São Paulo na quarta-feira, 27 de junho. Promovido pela Comissão de Saúde, Promoção Social, Trabalho e Mulher, sob a presidência do vereador Jamil Murad (PCdoB), o evento debateu a atual situação e as propostas para melhorar o atendimento público de urgência e emergência na capital paulista.

Jamil - Priscila Lobregatte

Além dos membros da Comissão, estiveram presentes Daniel Rocha, do Ministério da Saúde; Domingos da Costa Hernandez Júnior, coordenador de Urgência e Emergência da Secretaria Municipal de Saúde; Paulo Kron Psanquevich, coordenador de Apoio ao Desenvolvimento da Gerência Hospitalar da Secretaria Municipal de Saúde; Milton Steinman, médico assistente do Serviço de Urgência e Emergência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e Renato Françoso, responsável pela Câmara Temática de Urgência e diretor de Comunicação do Cremesp.

Ao abrir os trabalhos, o vereador Jamil Murad destacou que o debate sobre a questão deve ser feito de maneira qualificada, levando em conta aspectos globais e não casos pontuais. “Devemos nos indignar com casos de mau atendimento, mas devemos considerar que o SUS é uma importante conquista e que precisa sim ser valorizado e melhorado. Precisamos seguir construindo uma ampla rede. E nosso propósito aqui é justamente verificar a situação e atuar propondo saídas para seus problemas”.

Segundo Jamil, “não é tarefa fácil montar uma rede em nenhuma cidade, mas nosso povo está construindo o sistema público. Não podemos nos esquecer de nenhuma vida que foi perdida por problemas de atendimento, mas também devemos considerar aquelas que são salvas”.

Para Daniel Rocha, do Ministério da Saúde, a discussão sobre urgência é importante porque “se trata do dia a dia da população”. Ele destacou que há uma série de medidas que têm sido tomadas pelo MS a fim de aprimorar o atendimento. Um dos desafios, conforme apontou, é que “após o atendimento em um pronto-socorro, é preciso haver leitos de retaguarda. Isso ainda é um gargalo”. Rocha apontou também a necessidade de melhorar a articulação entre o Ministério e as secretarias estadual e municipal.

Hernandez Júnior também salientou que o crescimento desordenado da cidade resultou no desenvolvimento de uma rede igualmente desorganizada, que não privilegia, necessariamente, a divisão geográfica e demográfica. “Outro problema é a gestão compartilhada dos equipamentos porque acaba havendo dois gestores com poderes semelhantes”, colocou.

A apresentação seguinte ficou a cargo de Paulo Kron. Segundo ele, há na cidade 2.092 leitos de UTI do SUS, dos quais 543 são municipais, 132 federais e 1.417 estaduais. Somando-se com os conveniados, chega-se a 2.618 leitos deste tipo. Ele também destacou a melhoria no atendimento do Samu, que hoje conta com 73 bases (contra 34 em 2004) e deve chegar ao final do ano com 100. Segundo ele, hoje o financiamento da saúde na cidade é 65,59% municipal e 34,41% federal.

“Houve importantes avanços, mas é preciso muito mais porque a sensação de urgência é do munícipe. É importante haver cada vez mais educação em saúde para que as pessoas saibam que existem diversas portas de entrada para o atendimento”.

Milton Steinman, do HC da USP, destacou a necessidade de se ampliar o financiamento. “A evolução encareceu os tratamentos”, disse. Ele também chamou atenção para o fato de que o envelhecimento da população exige mais atendimento básico. Outro fator destacado é o alto índice de gastos relacionados a acidentes. “Do total de investimentos em saúde, na ordem de 40 bilhões, estima-se que 29 bilhões sejam gastos com casos de acidentes”.

Renato Françoso, do Cremesp, por sua vez defendeu que haja continuidade nos programas mesmo com a mudança de governos. “A sociedade não pode continuar claudicando nessa questão”. No entanto, ressaltou que o SUS é um sistema ainda novo e que tem amadurecido muito ao longo de sua história. Ele defendeu maiores investimentos no sistema, especialmente em pessoal. “Não dá para termos uma saúde de qualidade sem recursos humanos devidamente preparados. Muitos dos médicos da rede pública não têm condições de atender urgência e emergência porque as faculdades não dão formação para isso”.

Françoso terminou sua participação listando os itens que julga serem essenciais para melhorar o atendimento de urgência: integrar os diferentes níveis de gestão (municipal, estadual e federal); qualificar, incentivar e fidelizar os profissionais criando programas de atualização e planos de carreira e de salários e enfrentar o problema da violência nos equipamentos de saúde especialmente nas periferias.

Encerrando os trabalhos, o vereador Jamil Murad enfatizou: “o que percebemos de ponto crucial neste debate é que de fato precisamos de maior integração e organização da rede pública de saúde, pensando sempre no seu papel primordial que é cuidar e salvar vidas. Ainda há muita gente morrendo antes da hora e não podemos nos conformar com isso”.

De São Paulo, Priscila Lobregatte para www.jamilmurad.com.br