Tensões regionais e internas aumentam com atentados no Líbano

Ao menos 13 pessoas morreram e mais de 50 ficaram feridas em duas explosões na cidade de Trípoli, no norte do Líbano, nesta sexta-feira (23), de acordo com testemunhas locais e fontes da segurança. Os atentados, que pareceram coordenados, aconteceram fora de duas mesquitas, enquanto as orações islâmicas de sexta-feira terminavam. A missão da ONU presente no país teria avisado o Exército libanês sobre os planos para outros dois atentados recentes.

UNIFIL - Reuters

“Eu vi corpos dentro de vários carros queimados”, disse à Reuters uma testemunha, em declarações dadas perto da mesquita de Taqwa, frequentada por islamitas sunitas, onde a primeira explosão aconteceu.

Uma fonte dos serviços de segurança disse que várias pessoas foram mortas na segunda explosão, fora da mesquita Al-Salam: “Há muitas mortes nas duas mesquitas, ainda não temos uma ideia clara dos números”.

Leia também:
Atentados no Líbano buscam desestabilizar a Resistência
Autoridades libanesas acusam Israel de envolvimento em atentado
Explosão em Beirute mata 24 enquanto tensões políticas aumentam
Conselho de Segurança amplia e estende missão da ONU no Golã

Na semana passada, uma explosão matou quase 30 pessoas no subúrbio da capital libanesa, Beirute, em um centro do movimento de resistência islâmica e partido político, Hezbolá. O presidente libanês, Michel Suleiman, a liderança do Hezbolá e outras autoridades afirmam acreditar que Israel esteja por trás dos atentados.

“As digitais do terrorismo israelense estão por toda parte. O objetivo deles é desestabilizar a região e prejudicar a confiabilidade do povo libanês”. O líder druso (comunidade religiosa autônoma de influência islâmica e outras), Walid Jumblatt, também atribui as explosões a Israel.

Entretanto, há também suspeitas de um grupo islamista sunita liderado pelo xeique extremista Ahmad al-Assir, que também envia combatentes para lutar contra o governo sírio e com quem o Exército libanês tem combatido.

Além disso, o grupo islamita autodenominado Brigadas de Aisha reivindicou a responsabilidade pela explosão, e afirmou que tinha como alvo o Hezbolá, além de prometer mais atentados.

Dimensões regionais e tensões em ascensão

As tensões sectárias no Líbano estão se aprofundando devido ao conflito na vizinha Síria, além das próprias mudanças políticas no país, que atravessa um período de incertezas no governo, sustentado através de acordos frágeis entre diferentes grupos religiosos.

Na semana passada, a explosão foi o segundo evento do tipo em um mês, no sul de Beirute, em área maioritariamente xiita, de apoio ao Hezbolá. Grupos opositores do presidente sírio Bashar Al-Assad ameaçaram retaliar contra o movimento de resistência islâmica por intervir no conflito da Síria ao lado do Exército, contra os grupos rebeldes, cujos membros islamistas são maioritariamente sunitas.

De acordo com o jornal Al-Akhbar, citado pela emissora libanesa Al-Manar, a inteligência do Exército libanês havia recebido duas mensagens consecutivas do comando da Força Interina das Nações Unidas para o Líbano (Unifil, presente na fronteira com Israel desde 1978) nos dias 12 de 14 de agosto, com informações sobre um plano de atentado com carros-bomba.

As informações foram recolhidas pelas embaixadas dos países que compõem a força interina com tropas, e “os serviços de segurança afirmaram que os soldados da UNIFIL estão gravemente ameaçados pela Frente al-Nusra, que inseriu vários carros-bomba, da Síria ao Líbano”, segundo Al-Akhbar.

O Exército libanês também interceptou um caminhão na região de Baalbeck, no leste do Líbano, com 10 mísseis 107mm. Apesar das declarações e políticas oficiais de tentativa de distanciamento com relação ao conflito na Síria, grupos no norte do Líbano acabam por arrastar o país para a crise com a movimentação de armas e militantes na região.

De acordo com Al-Manar, o bloco parlamentar "Lealdade à Resistência" considerou, em reunião desta quinta (22), que apenas um governo de unidade nacional pode lidar com os problemas libaneses, e alertou para o fato de que desativar as instituições constitucionais do Líbano serve a projetos antagônicos que ameaçam a soberania e a estabilidade do país.

Com agências,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho