Ramona Wadi: Intifada em Al-Aqsa, apelos, memória e resistência

A Intifada da [mesquita] Al-Aqsa foi marcada pela retórica de resistência intensificada pelo Hamas, que lançou uma sombra sobre as tentativas do [presidente palestino Mahmud] Abbas de abordar as violações intrínsecas ao conflito desde os Acordos de Oslo.

Por Ramona Wadi*, no Middle East Monitor

Os palestinos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia comemoraram o aniversário da Segunda Intifada [levante popular], que eclodiu com a visita do [ex-premiê israelense, então um parlamentar do partido Likud, de direita] Ariel Sharon, em 2000 [à esplanada das mesquitas, em Jerusalém], com os protestos contra a violência e o controle sionista sobre o local sagrado.

Os atos de comemoração da memória coletiva palestina foram enquadrados por duas expressões divergentes de autoridade. Enquanto o Hamas [partido islâmico que governa a Faixa de Gaza] afirmou a sua recusa em reconhecer a ocupação israelense, Abbas manteve uma posição amena em seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, quando pediu o fim dos ataques israelenses contra os religiosos palestinos [no entorno da mesquita de Al-Aqsa].

Apesar da disparidade imediata entre os apelos de Abbas e a asserção do Hamas, a diferença entre os dois pontos de vista está nas posições políticas mantidas. Enquanto Abbas busca a continuidade da conformidade com Israel e seus aliados imperiais em nome das preocupações securitárias, o Hamas consolida seu discurso dentro do direito de resistência.

De acordo com Abbas, “Deve haver um fim aos ataques quase diários aos locais religiosos na Al-Quds [Jerusalém] ocupada, principalmente na mesquita Al-Aqsa, onde a continuação de tais ataques terá graves consequências”. Estas palavras, faladas na instituição internacional conhecida por seu apoio à ocupação ilegal, dificilmente gerarão qualquer sentimento além de uma compaixão passageira.

A intifada de Al-Aqsa simboliza uma fase particular da resistência palestina contra a violência sionista. Entretanto, isolar a violência perpetrada contra os palestinos na Al-Aqsa da realidade da ocupação impõe uma dissociação entre a história e o presente. A declaração de Abbas contra a violência deveria ter mantido o reconhecimento dos eventos que impulsionaram a Segunda Intifada, assim como uma declaração contra a ocupação ilegal e sua intenção de erradicar todos os vestígios da história e da identidade palestina.

Advertir contra as graves consequências é uma realidade que, ao mesmo tempo, gera um elemento de traição aos palestinos, cujos direitos deveriam estar à frente de qualquer discurso feito por um representante governamental, ao invés de serem relegados à narrativa de barganha pela consolidação da retórica securitária.

Contrariamente, a declaração de resistência afirmada pelo Hamas não incorporou qualquer dissociação da história da ocupação ilegal. Afirmar o direito dos palestinos a “toda a Palestina”, ao contrário da solução forjada de dois Estados, não dá qualquer vestígio de legitimidade a Israel, afirmando os direitos palestinos à terra e ao estatuto nacional.

A chamada à resistência reconhece o simbolismo da [mesquita] Al-Aqsa e das intenções israelenses de judaizar Jerusalém, que leva em consideração não apenas o aniversário e o simbolismo associado a Al-Aqsa, mas também os crimes cometidos pelos sionistas no local sagrado como parte de um plano mais abrangente de opressão e erradicação da herança histórica.

O movimento manteve e renovou sua postura anterior contrária à coordenação securitária entre Israel e o Fatah [partido do presidente Abbas], assim desassociando-se constantemente da “traição ao povo palestino”, que pede autonomia com oposição às negociações que favorecem Israel.

“Instamos as forças palestinas a rejeitarem o curso absurdo das negociações, que provaram ser infrutíferas e fracassaram na realização das aspirações do nosso povo”. O Hamas articulou o que o Fatah não reconheceu: as conversações de paz ilusórias, a retórica de preocupação com as violações à luz do alegado progresso servem o objetivo do fortalecimento da supremacia de Israel apoiada no imperialismo.

*Ramona Wadi é pesquisadora e revisora literária, e contribui para o portal de notícias sobre o Oriente Médio, Middle East Monitor

Fonte: Middle East Monitor
Tradução da redação do Vermelho