Israel tenta testar resistência libanesa com ataque aéreo

O ataque da Força Aérea Israelense contra um posto do partido de resistência islâmica Hezbolá no sul do Líbano, próximo à fronteira com a Síria, foi um teste para a possibilidade de alterar as regras do jogo, escreve Yahya Dbouk, para o portal libanês Al-Akhbar, nesta sexta-feira (28). A resposta no comunicado do Hezbolá consistia em uma advertência incisiva contra a tentativa israelense de forjar um pretexto para a guerra.

Sayed Nasrallah - Al-Manar

“Desde 15 agosto de 2006, no dia em que a guerra [de Israel] contra o Líbano cessou, a resistência começou a reestabelecer, desenvolver e expandir as suas capacidades militares qualitativa e quantitativamente. O seu rearmamento foi tão bem sucedido que Israel foi eventualmente forçado a admitir que o Hezbolá possui mais de 100 mil foguetes que podem alcançar qualquer alvo em seu território,” escreve Dbouk.

Assim, ganhou força a campanha para deslegitimar o Hezbolá tanto como um partido político quanto como um movimento de resistência às agressões militares, o que se verificou inclusive com a sua classificação como uma “organização terrorista” por Israel, Estados Unidos e União Europeia, por exemplo. Seu processo de rearmamento atingiu o que as autoridades israelenses classificaram de uma “linha vermelha” que lhes daria o suposto direito de “atacar preventivamente”.

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Neste processo, a cooperação com o presidente sírio Bashar al-Assad – também causa das disputas políticas dentro do Líbano – colocou o Hezbolá em meio ao conflito armado no país vizinho, para defender os territórios libaneses, também trespassados pelos grupos paramilitares e extremistas religiosos que combatem as tropas sírias, e também para apoiar o Exército da Síria contra a disseminação da violência, já de contornos regionais.

“Com o começo da crise na Síria, os israelenses ponderaram alcançar mais do que o governo sempre esperou, não apenas forçar Assad a parar de fornecer armas ao Hezbolá, mas também derrubar o seu regime completamente e produzir um novo governo anti-resistência na Síria,” afirma Dbouk.

Em janeiro de 2012, continua o autor, o ministro israelense da Defesa Ehud Barak, apoiado pelas avaliações da inteligência militar, predisse que o regime sírio iria colapsar “dentro de semanas”, enquanto outros garantiam que não duraria mais do que alguns meses. Quando o governo sírio mostrou que podia cessar o seu desmantelamento, com avanços significativos dentro e força do país, na política nacional e na diplomacia, “Israel teve de reexaminar as suas opções.”

O governo israelense estimou que um ataque contra o Estado sírio o desgastaria demais, e que o Exército sírio, apesar da sua performance eficiente e do fato de ter avançado na ofensiva contra os seus oponentes, também está dedicado ao combate às várias facções da oposição armada em todo o território. Por isso, Israel teria decidido tentar impedir a transferência de tipos específicos de armas ao Hezbolá através dos ataques militares diretos.

A série de ataques aéreos israelenses contra o território sírio começou em 31 de janeiro de 2013. As operações limitadas continuaram nos períodos seguintes, de forma que não colocaram a Síria ou o Hezbolá contra a parede a ponto de reagirem. O interesse israelense era acertar pontos no Líbano, mas Israel teria ouvido às advertências do secretário-geral do Hezbolá, Said Hassan Nasrallah, sobre a resposta violenta que receberia.

Já os ataques da segunda-feira significaram que houve uma nova decisão israelense pressionando a favor da tomada de ação, para testar se o que tem sido feito contra a Síria pode ser replicado no Líbano, afirma Dbouk, com os ataques limitados e específicos que não serão confirmados oficialmente.

O autor menciona as análises, notícias, avaliações discursivas e comportamentais na mídia israelense sobre os seus oficiais nos dias que se seguiram aos ataques aéreos. As autoridades de Israel testaram, mas receberam uma advertência do Hezbolá, ao invés de um contra-ataque. A resistência luta em duas frentes distintas, no interior do Líbano e na Síria, contra o mesmo inimigo, os grupos radicais islamitas, inclusive ligados à rede terrorista Al-Qaeda.

Resta saber, indica Dbouk, se Israel entenderá as consequências de continuar testando a resistência, cujo aumento das capacidades militares as autoridades israelenses reconhecem, e ou se provocará novamente com a continuidade das agressões, meios mais diretos de intervir a favor dos esforços de desestabilização regional.

Da redação do Vermelho,
Com informações do portal Al-Akhbar