Pela continuidade das mudanças, rumo à igualdade

* Por Abgail Pereira
A grande participação feminina no mercado de trabalho nas últimas duas décadas foi decisiva para a construção de uma nova imagem social da mulher e para a superação de conceitos históricos de inferioridade e submissão ao homem. Decisiva, também, nas lutas por outras garantias de grande valor para a conquista da cidadania plena.

Abgail P

No entanto, a trajetória da mulher no mundo do trabalho, tem sido marcada por forte discriminação que se inicia já na oferta de vagas. O mito do custo do trabalho da mulher – afastamento parto, faltas, doenças dos filhos, não possibilidade de jornadas estendidas – são fatores que a colocam em desvantagem na busca de emprego.

A essa desigualdade inicial, soma-se a discriminação na remuneração. Em todas as ocupações o rendimento médio das mulheres, em idênticas funções, mesmo com maior escolaridade, é menor do que o dos homens. Essa diferença vem sendo ligeiramente diminuída, mas se mantém como um dos principais indicadores da discriminação de gênero no mundo do trabalho, fenômeno que não ocorre apenas no Brasil.

A rotatividade também é maior para a força de trabalho feminina. Diferentes pesquisas comprovam que os homens permanecem mais tempo no mesmo emprego. O baixo número de creches públicas dificulta o acesso ao mercado de trabalho e a jornada profissional excessiva – aliada à dupla jornada – sobrecarrega as mulheres e impõe riscos à saúde física e psicológica. E, para completar o quadro de discriminação e opressão, as mulheres também são as principais vítimas de assédio moral e ou sexual em seus locais de trabalho.

A superação dessas desigualdades parte, necessariamente, da busca pela igualdade de oportunidades. Para tanto, é urgente a oferta de creches públicas em número necessário à demanda, aliada à extensão da Licença Maternidade de 180 dias para todas as trabalhadoras, obrigatória e não facultativa. Fundamental também é a necessidade de combater a diferenciação salarial entre homens e mulheres, através da aprovação de projetos de lei que apontem nessa direção.

Ao mesmo tempo, é imprescindível a ampliação das políticas públicas que reforcem a concepção de compartilhamento do cuidado dos filhos entre homens e mulheres, bem como as que garantam os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres atendidas pelo SUS. A redução da jornada de trabalho sem redução de salário e com o fim do fator previdenciário no cálculo das aposentadorias também são medidas fundamentais para as trabalhadoras, porquanto representam geração de empregos e elevação da renda per-capta.

Todas essas mudanças caminham juntas com a necessidade de conquista de maior espaço e representatividade, pois, apesar de terem alcançado importantes cargos em todas as esferas de poder, sua representação na política ainda é pouco significativa. Para que a lei de cotas de cadeiras no Congresso Nacional seja de fato eficaz, é urgente a realização de reforma política que garanta o financiamento público das campanhas, de forma a democratizar o acesso a homens e mulheres em condições igualitárias de sustentação e divulgação de suas candidaturas.

A história demonstra que as maiores conquistas do movimento feminino estão diretamente ligadas ao avanço das conquistas de toda a sociedade. Por isso, nesse importante momento da vida nacional, é preciso acertar esse passo. É preciso caminhar para a frente, para o futuro! E é nesse rumo que as mulheres querem que o país avance: o rumo das mudanças, da execução de um novo projeto nacional de desenvolvimento que contemple as reformas que o povo necessita, com soberania, democracia, valorização do trabalho e mais direitos sociais.

*Abgail Pereira é dirigente da CTB-RS