PCdoB-CE: Comitê Estadual debate projeto político para 2018
Na terceira reunião ordinária do novo Comitê Estadual do PCdoB-CE, realizada no último sábado (24), os dirigentes partidários debateram a atualização sobre o quadro político, tanto no cenário nacional quanto internacional, a movimentação política no Ceará que antecede o período eleitoral e ainda o projeto do Partido para o êxito nas eleições deste ano.
Publicado 26/02/2018 10:53 | Editado 04/03/2020 16:23
Luis Carlos Paes de Castro, presidente do PCdoB-CE, iniciou sua intervenção fazendo uma atualização do cenário internacional. Segundo o dirigente comunista, apesar de os Estados Unidos estarem perdendo influência no mundo, o país ainda mantém um grande poderio militar, aumentando inclusive os investimentos na área bélica. Para ele, o país imperialista procura manter sua hegemonia usando, de um lado a chantagem econômica e, de outro, a pressão militar. Paes citou exemplos da América Latina, em que países como Bolívia, Venezuela, Chile, Argentina e Brasil sofrem com a interferência dos Estados Unidos, estimulando e financiando grupos políticos ligados aos seus interesses com o objetivo de desestabilizar governos que resistem à suas políticas.
Para o presidente do PCdoB-CE, permanece a situação de instabilidade no mundo capitalista, que ainda não superou a crise de 2007/2008. “A desesperança e a revolta crescentes não têm desaguado em saídas consequentes, favorecendo na maioria das vezes projetos e forças xenófobas e conservadoras, sem compromisso com o mundo do trabalho. As escolhas por figuras como Trump, por exemplo, demonstram a insatisfação popular com os governos subordinados ao modelo neoliberal rentista mas que não significam uma ruptura com o passado, o que agravará ainda mais a situação e, mais dia menos dia, levará as forças progressistas em todo o mundo, e também no Brasil, a um posicionamento mais favorável”, considera.
Outro fenômeno apontado por Luis Carlos Paes é que países com certa estabilidade, como China, Vietnã e Cuba, consolidam-se no cenário internacional e reforçam a luta em conter o avanço do império americano. Ele citou ainda a realização das Olimpíadas de Inverno, que acontecem na Coreia do Sul. Segundo ele, a aliança do país-sede com a Coreia do Norte, liderado por Kim Jong-um, declarado desafeto de Donald Trump, criou como evento constrangedor para os Estados Unidos, promissor para a paz e o restabelecimento do diálogo entre os irmãos coreanos do norte e do sul, separados desde os anos 1950 em função da guerra de intervenção americana.
Derrotas de Temer
No Brasil, o principal destaque feito por Paes foi a recente derrota de Michel Temer, que viu fracassar sua tentativa de aprovar a Reforma da Previdência. “O povo já sentiu que a reforma impediria sua aposentadoria. Mais que isso: as pessoas perceberam que o que está por trás desta aprovação são interesses econômicos poderosos que querem viabilizar a previdência privada em sua plenitude, beneficiando grandes bancos e instituições financeiras que exploram este mercado”.
Diante desta derrota, acrescenta Paes, o governo golpista de Temer ergueu uma “nuvem de fumaça” e, na tentativa de reverter a agenda negativa, representada pela Reforma da Previdência, adota medidas numa área crítica, a segurança pública, decretando intervenção militar no Rio de Janeiro, medida que não resolverá o problema da violência urbana. “Temer age politicamente buscando criar um clima favorável junto à população e, ao mesmo tempo, acalenta o mercado apresentando para votação no Congresso matérias que o favoreçam, como a privatização da Eletrobras e a autonomia do Banco Central. Procura melhorar sua popularidade e, ao mesmo tempo, procura atender aos seus compromissos com o mercado”, avalia.
Para o presidente do PCdoB-CE, a crise continua, apesar da propaganda contrária que o governo insiste em patrocinar. “O valor real do salário mínimo aumentou menos que a inflação. Há ainda a queda no mercado imobiliário e as dificuldades em relação ao emprego formal que, em 2017, teve queda com a perda de mais de 20 mil empregos. A tendência é de que, com a Reforma Trabalhista e as terceirizações, os números impactem negativamente nas contas da previdência. Quanto menos formalização e mais empregos precários, menos recursos para a previdência, formando um círculo vicioso”, compara.
Paes citou ainda o rebaixamento da nota de avaliação de risco, pela agência internacional Fitch que, na última semana, rebaixou a nota de crédito soberano do Brasil de "BB" para "BB-". Com isso, o país ficou ainda mais longe do selo de bom pagador de dívida. “O mercado financeiro internacional continua chantageando o Brasil para aprovar as reformas que os beneficiem”.
Na área política, o dirigente comunista afirma que os “golpistas permanecem sem coesão”. “O problema é ainda maior quanto à escolha de um nome de expressão que agregue todas as vertentes. Qual nome poderia unificar? Jair Bolsonaro, Henrique Meirelles, Geraldo Alckmin, João Dória, Luciano Huck, Michel Temer?”, questiona. Segundo ele, apesar de o campo da esquerda ainda estar “meio tonto com a derrota no pós-golpe”, vem conseguindo avanços no período mais recente. “A resistência ao governo Temer e suas contrarreformas tem possibilitado uma maior união de forças no campo popular e progressista. A luta contra a Reforma da Previdência, por exemplo, levou a união das centrais, dos sindicatos, dos movimentos sociais e partidos de esquerda, que conseguiram construir um movimento amplo e vitorioso”.
Frente Ampla
Luis Carlos Paes citou também como exemplo desta unidade o lançamento do manifesto que, em Brasília, reuniu as Fundações do PCdoB, PT, PDT, PSB e PSOL, apresentando à sociedade a defesa de um novo projeto de desenvolvimento para o país, buscando um programa mínimo que unifique o campo progressista e de esquerda, mesmo que não seja possível uma frente ampla na disputa do primeiro turno. “Neste contexto, reforçamos a importância da pré-candidatura da Manuela D’Ávila à Presidência da República. Ela é uma liderança política jovem, mas com grande capacidade política e compreensão do momento que vivemos no País. É necessário que reforcemos o seu nome e suas propostas, que são as propostas do Partido, em todos os municípios onde estamos organizados. Fortalecer a pré-campanha de Manuela é fortalecer o PCdoB no meio do povo e o nosso próprio projeto de aumentar nossas bancadas em todo o país”, reitera.
No Ceará, Paes comemora as boas chuvas que têm atingido todas as regiões do Estado e renovam a esperança de dias melhores, com aumento da safra e da melhoria de vida do povo. Para o dirigente, surge a necessidade de reforçar o PCdoB e seu projeto eleitoral, garantindo as atuais vagas nas casas legislativas e buscando ampliar espaço nos parlamentos estadual e federal.
Ele destacou as filiações recentes de novos quadros que chegam para reforçar as fileiras de militantes comunistas no Estado, entre elas, o advogado Marcos Colares, histórico militante das causas dos direitos humanos, professor aposentado da UECE, professor da Faculdade de Direito da UFC e ex-conselheiro nacional da OAB, pré-candidato a deputado federal; e a também advogada Raquel Andrade, funcionária do IFCE, membro do Comitê Retroceder Jamais, que chega como pré-candidata a deputada estadual. “Temos boas chances de garantir uma grande votação e termos êxito em nosso projeto eleitoral. O PCdoB é um partido que tem uma história rica, um posicionamento político ajustado e uma visão de saída para o Brasil que atende aos interesses da maioria do povo. São muitos os desafios, mas são em cenários complexos como o que estamos vivendo que o PCdoB mais cresce”, considera.
Ao longo do dia, foi aberta a fase de intervenções, onde os comunistas discutiram o informe político e também sobre a estruturação do Partido em todo o Estado, a partir de intervenção da Secretária Estadual de Organização, Teresinha Braga. Ao final do encontro, foi aprovada uma resolução política onde o partido ratifica a luta contra o golpe e defende a constituição de uma frente ampla em defesa do Brasil, da democracia e dos direitos do povo trabalhador.