Basta de genocídio

Bolsonaro continua perigoso no governo mais pelo mal que causa que pela força que ainda possui

Foto: Alex Pazuello/Semcom/Prefeitura de Manaus

O Brasil avança acelerado para 400, 500, 600 mil mortes. Sem trégua ou grandes e eficientes barreiras, o vírus encontra ambiente propício para se alastrar e se multiplicar em cepas, aumentando o descontrole e a insegurança. Assistimos um dos maiores produtores de vacina manietado pela dependência de insumos, condenando a população a arrastar-se dramaticamente entre a expectativa e a frustração, a cura próxima e a mortandade galopante.

O país se isola no ranking de mortes diárias e entre as nações. Virou pária. Hoje são 19 milhões de famintos, 116 milhões com insegurança alimentar, 14 milhões de desempregados; o amanhã, com os míseros 250 reais, em média, de auxílio emergencial, alcançando menos famílias, projeta uma estatística de mais fome e morte. As empresas falem e abandonam o país; a taxa de selic aumenta criminosamente; são retirados dinheiro de serviços públicos essenciais para garantir o pagamento da dívida pública.

Não bastasse a dor e o pânico da tragédia, os brasileiros e brasileiras sofrem o escárnio e o ataque sistemático de um presidente, que se elegeu com 57,8 milhões de votos, cuja obrigação era defendê-los e não jogá-los à fogueira. Só esse fato é o suficiente para impedir esse genocida e condená-lo. No entanto, alguns empresários aplaudem o assassino; outros querem furar a fila da vacina; parlamentares fisiológicos enchem as burras de suas emendas para apoiá-lo; ministro bolsonarista joga contra o distanciamento social.

Apesar das baixas, a estratégia da necropolítica e do oportunismo fascista continua passando sem maiores impedimentos, alimentando o caos e usufruindo das incertezas; aproveita-se da situação cujo primeiro ato é a sobrevivência, da falta de mobilização, das dificuldades de um amplo movimento articulado que barre essa caravana da morte. No entanto, o mais crítico, além da insensibilidade e dos crimes cometidos, é a conivência involuntária daqueles que sonham com as mudanças só em 2022, com um Bolsonaro enfraquecido.

Podemos entender a falta de visão e os limites da política, a legitimidade de projetos, a insuficiência de grandes construtores e a ausência de grandeza, mas é inaceitável os cálculos eleitorais diante do precipício que se avizinha, do estado de grangrena social iminente. Essa catástrofe exige atitudes de desprendimento, de indignação e solidariedade; a radicalização nos sobreviventes instrumentos de institucionalidade.

Bolsonaro continua perigoso no governo mais pelo mal que causa que pela força que ainda possui. Sobrevive de expediente em expediente; de aplausos interesseiros, de manifestações cada vez mais minguadas e de apoios movediços. Segue pateticamente em um Baile da Ilha Fiscal que se arrasta em noite longa tenebrosa.

A instalação da CPI da Pandemia é um fato alvissareiro nessa realidade nebulosa e triste. Seu funcionamento precisa ser o portal de mudança ao atingir o coração da estratégia genocida, revelando ao público os crimes de lesa-pátria. Sua dinâmica e resultados, se não forem obstaculizados, podem propiciar o azougue e o oxigênio necessários a amplas forças que desejam e devem retirar, o mais rápido possível, Bolsonaro e seus acólitos do Palácio do Planalto.

A morte e a fome não esperam e nem se ajustam às lógicas pré -concebidas ou veleidades fora do tempo. Cada dia é um dia perdido para a vida e para o Brasil. O genocídio tem que acabar.

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