Globo quer polarização política no BBB22

Corrida para emparedar bolsominions começou, enquanto posições progressistas hegemonizam a opinião pública, pelo menos, desde 2020. Segundo Léo Dias, há sinais de que a polarização política será o tema desta edição.

Bolsonaro e Lula podem se tornar tema de debates no Big Brother Brasil 2022

As manifestações políticas no Big Brother Brasil sempre foram sutis, sem menções explícitas a candidatos, e havia até mesmo afirmações de que haveria um manual ameaçando repreensões. Em pleno ano eleitoral, a produção do reality show dá sinais de que não só flexibilizará o assunto nas conversas entre os participantes, como parece que vai estimular.

A considerar que a Rede Globo e seu jornalismo é um dos que faz oposição mais evidente ao governo e seu presidente, – sofrendo as consequências econômicas disso em queda na publicidade oficial -, não é de se duvidar. Por outro lado, a emissora não tem muito a perder, com engajamento pelo debate eleitoral. Para os participantes, trata-se de uma faca de dois gumes, bolsonaristas podem sair laureados e lulistas podem se queimar em meio ao debate acalorado, e vice-versa. Para Boninho, tanto faz.

Um dos jornalistas e “fofoqueiros” mais conceituados da mídia, Léo Dias, deu a senha na noite de ontem, por ocasião da estreia da 22a. edição do jogo de relacionamentos. Segundo ele, as edições tentam imprimir um tema para catalizar atenções nas redes sociais. Durante a pandemia, a edição de 2020 gerou furor quando as mulheres cobraram os homens sobre atitudes machistas, quando aqui fora todo mundo via os homens, por semanas, mancomunados fazendo comentários grosseiros e armando estratégias abusivas contra as mulheres. Na edição seguinte, no ano passado, o tema do racismo explodiu na primeira semana, conforme a concentração de participantes negros de diversas correntes ideológicas (inclusive bolsonarista), era nove dentre 20.

Na opinião de Léo Dias, a edição deste ano vai tentar imprimir um clima de polarização política dentro da casa. A presença de uma cantora travesti, a Linn da Quebrada, com posicionamentos políticos fortes, é um desses pólos, assim como negros, gays e lésbicas já conhecidos por sua oposição a Bolsonaro. Outro indício foi o Boninho, da direção do programa, ter feito questão de ir às redes sociais garantir que nenhum participante será impedido de dar suas opiniões políticas ou até citar seus candidatos.

Bolsominions 

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) publicou em suas redes um levantamento que recebeu, com oito participantes já identificados como “bolsominions”, contra 12 que não defendem abertamente o presidente, ou são explícitos na defesa de candidaturas de esquerda em 2022. Os oito apoiadores de Bolsonaro conhecidos, curiosamente, são os que menos cresceram nas redes sociais, se comparados com os demais. É preciso ter claro, no entanto, que a lista não tem rigor científico, com muitos dos bolsominions e antibolsonaro tendendo mais para isentões do que para alguma posição mais clara.

Linn da Quebrada em conversa com Lula

Os perfis mais claramente lulistas são o da atriz e cantora carioca Maria, 21 anos, que não esconde sua rejeição a Bolsonaro, e o ator carioca Douglas Silva, 33 anos, que já se reuniu com Lula. O grupo fecha com a atriz e cantora paulistana, Linn da Quebrada, 31 anos, que, em setembro, debateu pautas LGBTQIAP+ com o ex-presidente no programa da ex-BBB Thelma Assis.

Na edição anterior, informações que vinham a público sobre apoio de algum participante a Bolsonaro eram motivo para votação contrária no paredão. Foi o caso de uma participante favorita para vitória, que disse simpatizar com Bolsonaro e depois contou que não respeitou o lockdown e participou de festas. Foi um dos fatores para sua saída com alta rejeição. Da mesma forma, um cantor sertanejo (que disse que deixou de apoiar Bolsonaro, agora), expressou opiniões homofóbicas e racistas e acabou expulso pelo voto popular.

A lista desses participantes rotulados como adeptos de Bolsonaro circula por incontáveis perfis no Facebook e Instagram em uma campanha para eliminá-los logo nos primeiros paredões. A intenção de voto de cada participante se tornou informação para determinar torcida a favor ou contra. Há uma corrida dos administradores de redes sociais desses participantes para apagar apoios a Bolsonaro, opiniões políticas e deixar de seguir páginas de direita. O esforço é inglório, pois, rapidamente, os minions já estão expressando suas opiniões controversas dentro da casa

Durante uma conversa entre os participantes, Natália Deodato falou sobre escravidão e se tornou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais. A modelo, que integra o grupo ”Pipoca”, disse que os negros se tornaram escravos por serem ”fortes e eficientes”. 

“Eu sou preta. Realmente, tem a história que a gente veio e viemos como escravos sim. Por que? Porque a gente era eficiente. Porque a gente era forte. Por que a gente veio como escravo? Porque a gente era bom no que a gente fazia. Se colocasse, talvez uma pessoa lá para fazer aquilo, não conseguiria. Entendeu?”, comentou a moça de 22 anos. Os demais integrantes que estavam na cozinha durante a conversa não se pronunciaram. 

O fato de ser uma mulher negra causou profundo incomodo nas personalidades que criticaram a declaração que soa como justificativa para a escravidão e torná-la mais branda. O cuidado com Natália (apontada como bolsominion), se deve ao modo como outras participantes negras foram canceladas no ano passado. 

No BBB21, quando os participantes negros Lucas Penteado, Karol Conká e Lumena Aleluia se confrontaram, a rejeição às mulheres negras pareceu a muitos desproporcional, já que homens brancos são acolhidos quando cometem erros até mais graves. Cita-se muito o caso do DJ Ivis, na mesma época, que foi filmado agredindo a mulher, foi preso, mas amplamente acolhido no mundo da música.

A médica Laís Caldas, natural de Crixás, no interior de Goiás, é apontada como apoiadora de Bolsonaro: “Ela como médica, protestou contra o programa Mais Médicos, do governo Dilma, que levou médicos às pessoas mais pobres.

A cantora sertaneja Naiara Azevedo já posou feliz da vida ao lado da cúpula do governo. Ela também compôs uma canção em que debochou de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e sua falecida mulher, Marisa Letícia. Além disso, está envolvida numa confusão com a família da falecida cantora Marília Mendonça, acusada de oportunismo ao lançar música dentro da casa vigiada, sem avisá-los.

O atleta olímpico paulista Paulo André de Oliveira, também seria um apoiador do atual presidente brasileiro: Nas redes sociais, em 2018, ele colocou: ‘p**** namoral, PT de novo não dava não kkkk’. Também proferia frases machistas e xingava internautas de ‘viado’.

Além da conversa controversa na noite de ontem, a modelo e empresária mineira Natália Deodato seguia Bolsonaro nas redes sociais, além de acompanhar também uma página de direita conservadora (perfil Direita Vespasiano), no Instagram. Momentos antes do anúncio oficial do programa, os adms trataram de deixar de seguir, para não deixar rastro.

O engenheiro Lucas Bissoli, de Vila Velha (ES) tem clara simpatia pelo presidente extremista de direita. Autodeclarado hetero-top, ele compartilha mensagens de apoio a Bolsonaro.

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