Líder da oposição diz ter certeza que CPI do MEC chegará a Bolsonaro

“A CPI não pode convocar o presidente da República, mas eu tenho certeza que no curso da investigação nós chegaremos até ele”, diz o senador Randolfe Rodrigues

Bolsonaro junto ao seu ex- Ministro Milton Ribeiro e os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos | Foto: Catarina Chaves/MEC

Em entrevista à Folha de S.Paulo, o líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), prevê que o avanço das investigações de uma eventual CPI do MEC vai revelar o envolvimento de Bolsonaro nos casos de corrupção da pasta. “A CPI não pode convocar o presidente da República, mas eu tenho certeza que no curso da investigação nós chegaremos até ele. Não podemos quebrar os sigilos do presidente, mas, se os elementos todos apontam para a responsabilidade dele, nós podemos indiciá-lo”, disse ele.

Autor do pedido de CPI, Randolfe está na expectativa de que o requerimento de instalação da comissão seja lido nesta semana no Senado para que os líderes dos partidos e blocos indiquem seus membros. O governo trabalha ainda para retirada de nomes do documento. São 31 assinaturas de apoio, quatro a mais do mínimo necessário, 27.

“A minha expectativa é que os trabalhos dessa comissão comecem em agosto. Eu tenho muita convicção de que em 90 dias dá para concluir o trabalho. Já temos muitas informações. O primeiro passo tem que ser requisitar, para acompanhar as investigações, o delegado Bruno Calandrini. Nada melhor que o delegado que esteve na investigação esteja trabalhando junto com a CPI. Depois temos que ouvir os pastores, o ex-ministro, o empresário que denunciou”, afirmou.

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“A CPI do MEC é urgente, não podemos deixar esses escândalos passarem como se nada tivesse acontecido”, escreveu no Twitter o senador Jean Paul Prates (PT-RN), líder da minoria na Casa.

A criação do colegiado ganhou força após a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e da revelação de gravação telefônica demonstrando que Bolsonaro pode ter interferido nas investigações.

(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Entenda o caso

Em março, diversos prefeitos acusaram os pastores evangélicos Gilmar Santos e Arilton Moura, próximo ao então ministro, de pedirem propina em troca de liberação de recursos da pasta, sobretudo para a construção de escolas e creches nos seus municípios.

A saída de Ribeiro ocorreu uma semana após o escândalo. Na ocasião, Bolsonaro afirmou que colocaria “a cara no fogo” pelo ministro. Nas conversas gravadas, Ribeiro admitiu atender aos pedidos dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.

“Minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar, porque foi um pedido especial que o presidente fez para mim”, declarou o ministro envolvendo Bolsonaro no caso.

No dia 22 de junho, a Polícia Federal (PF) prendeu o ex-ministro e os pastores pela existência de um “gabinete paralelo” dentro do MEC controlado pelos evangélicos. As investigações também revelaram uma gravação telefônica, no último dia 9, na qual Ribeiro diz a sua filha que Bolsonaro lhe telefonou avisando que poderia ter busca e apreensão contra ele pela Polícia Federal (PF).

“A única coisa meio… hoje o presidente me ligou… ele tá com um pressentimento, novamente, que eles podem querer atingi-lo através de mim, sabe? É que eu tenho mandado versículos pra ele, né? disse o ex-ministro à filha.

“Ele quer que você pare de mandar mensagens?”, questionou a filha. “Não! Não é isso… ele acha que vão fazer uma busca e apreensão… em casa… sabe… é… é muito triste. Bom! Isso pode acontecer, né? Se houver indícios, né?”, disse Ribeiro.

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