Comitiva em Washington alerta sobre riscos à democracia no Brasil

19 organizações brasileiras participam de encontros com membros do Departamento de Estado, parlamentares, sindicalistas e organizações dos EUA; Viagem foi organizada pelo WBO (Washington Brazil Office), instituição independente que defende a democracia no Brasil

A comitiva brasileira esteve na AFLCIO, a maior central sindical dos EUA, em Washington, para alertar a sociedade civil local sobre os ataques ao sistema eleitoral e à democracia no Brasil.

19 organizações da sociedade civil brasileira estão em Washington, até esta quinta-feira (28), para uma série de encontros com políticos e representantes de instituições norte-americanas para alertar sobre as ameaças à democracia e ao sistema eleitoral do Brasil.

As organizações clamam por apoio internacional e reconhecimento para o resultado das eleições de outubro e para a confiabilidade do sistema eleitoral em meio ao clima de violência política no Brasil.

A comitiva deu início à agenda de encontros na segunda-feira (25) em um encontro com organizações da sociedade civil americana e instituições estrangeiras sediadas em Washington, como Greenpeace e Brazil Foundation.

Na terça (26), os representantes das ONGs foram recebidos pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos (no país, esse é o órgão que desempenha as funções do Ministério de Relações Exteriores).

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Os brasileiros disseram que há um ataque à democracia no Brasil e pediram que os EUA “reconheçam imediatamente o resultado da eleição presidencial de outubro, tão logo a Justiça Eleitoral divulgue a contagem dos votos, seja quem for o vencedor do pleito”, de acordo com o texto da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT).

Após a reunião com o Departamento de Estado americano, foram recebidos na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados. Também houve, durante a tarde, uma reunião com o senador Bernie Sanders e um encontro com a Missão Diplomática da Argentina.

Sanders agradeceu “a coragem da comitiva” de fazer esse enfrentamento e a “aula sobre Brasil” por parte dos integrantes. “É muito familiar para mim, soou muito familiar para mim, por causa dos esforços de Trump e seus amigos para torpedear a democracia nos EUA. Parece que Bolsonaro tenta fazer o mesmo no Brasil. Espero muito que os resultados das eleições sejam reconhecidos e respeitados e que a democracia prevaleça”, disse ele.

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O ex-ministro Paulo Vannuchi, integrante da comitiva do WBO (Washington Brazil Office), representou a Comissão Arns entre as 18 organizações brasileiras. Ele avaliou positivamente os encontros, com uma manifestação “consistente” de confiança, por parte do Departamento de Estado, da Casa Branca e de parlamentares, nas instituições e no sistema eleitoral brasileiro.

“Disse ao senador Sanders que, no Brasil, o presidente se recusou a implementar uma campanha de vacinação contra a covid-19. Só conseguimos dar início às vacinas porque ele foi muito pressionado pelo judiciário e pela sociedade civil. O número de mortos foi muito mais alto do que poderia ter sido”, contou Vannuchi.

Flávia Pellegrino, do Pacto Pela Democracia, afirmou que proteger a integridade do sistema eleitoral e do processo eleitoral brasileiro é urgente e vital para a sobrevivência da democracia no Brasil neste momento. “”Estamos vendo uma campanha infundada de deslegitimação do sistema eleitoral brasileiro, um sistema eleitoral que é mundialmente bem reputado. Não são apenas bravatas ou especulações. Queremos que o resultado da eleição seja reconhecido e respeitado, seja quem for o vencedor”.

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Kari Guajajara, da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) alertou que a democracia no Brasil está sendo ameaçada em razão dos ataques a um de seus maiores pilares, que é a eleição. “Sem eleições livres, não há democracia”, disse. “Sem democracia, não existe a garantia de direitos humanos, nem dos direitos ambientais, nem da Amazônia e muito menos dos direitos indígenas”.

Para Maria Sylvia, do Geledés, fortalecer a democracia brasileira também envolve o combate ao racismo, a luta por justiça climática e ambiental e o combate às desigualdades. “A agenda de incidência em Washington neste semana é importante para reforçar nossas mensagens sobre a defesa do sistema eleitoral brasileiro a partir de organizações que estão liderando a agenda no Brasil”, disse ela.

A Comitiva esteve com a deputada Sheila Cherfilus-McCormick, parlamentar da Flórida, pertencente à bancada negra.

Nesta quarta-feira (27), houve reuniões com vários parlamentares, inclusive, com o deputado Hank Johnson, líder do Black Caucus, seguido do evento Atlantic Council. O seminário contou com as presenças de nomes como Laura Chinchilla, ex-presidente da Costa Rica que atuou como Chefe da Missão de Observação Eleitoral da Organização dos Estados Americanos (MOE/OEA) para as Eleições Gerais do Brasil, em 2018. A jornalista Patrícia Campos Mello e o presidente do Cebrap, Marcos Nobre, também participaram das discussões.

Os trabalhos da comitiva prosseguem até sexta-feira (29), com encontros previstos com embaixadores da América Latina, com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e com deputados, correspondentes e imprensa.

“Estamos levando a mensagem de que a democracia de qualquer país do mundo importa para todos. Mas no Brasil temos a mais vasta fronteira de devastação ambiental. E essa proteção ambiental se dá, em grande parte, pela fiscalização e pelos povos indígenas. A proteção aos povos indígenas deve ser uma prioridade para garantirmos um estado democrático”, explica Vannuchi.

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Veja entrevista de Paulo Abrão, do WBO, à CNN:

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