Anna Muylaert: Lula precisa proteger profissionais do audiovisual dos streaming

A cineasta diz confiar que Lula vai legislar sobre empresas estrangeiras no Brasil, como Netflix, que viraram “terra de ninguém”

A cineasta Anna Muylaert. foto: Cezar Xavier

A cineasta Anna Muylaert é conhecida pelo seu engajamento político. Por isso, não poderia deixar de se posicionar neste fim de primeiro turno eleitoral. Ela foi das centenas de personalidades das artes que lotaram o Anhembi, nesta segunda (26) chuvosa e fria, para a super live Brasil da Esperança, que reuniu personalidades das artes com Lula e Alckmin.

Autora do comovente longa-metragem Que Horas Ela Volta?, Anna dirigiu com Lô Politi, em 2021, o documentário Alvorada, em que traz o dia-a-dia da presidenta Dilma Rousseff durante seu processo de impeachment, em que revelou o ambiente misógino e reacionário que sabotou o governo daquela mulher. Ao falar rapidamente com o Portal Vermelho, ela sinalizou suas principais angústias sobre este governo pós-golpe.

Ele qualifica o governo Bolsonaro como um “desgoverno da destruição” da Ancine, a agência nacional do cinema, e outras instituições culturais. Ela mencionou o modo como a luta pela Lei Aldir Blanc, de fomento cultural foi tratada pelo Executivo, dificultando sua implementação. Todo o setor cultural foi atingido pelo desmonte desse governo, especialmente na pandemia.

Ela fez referência aos eleitores que ainda resistem em votar em Lula pela polarização e a violência política que a acompanha. “São pessoas que não queriam o mesmo líder de 20 anos atrás. Eu entendo e respeito quem queira votar nesses candidatos intermediários, mas esse voto leva Bolsonaro ao segundo turno. Acredito que só tem uma possibilidade, e acho que o Lula vai ganhar”.

Novo paradigma do audiovisual

A entrada do streaming com capital estrangeiro sem qualquer regulação é sua preocupação principal. Ela espera que um futuro governo se comprometa em estabelecer regras para o funcionamento dessas corporações estrangeiras no Brasil, como Netflix, Amazon, HBO, entre outras. “Eu confio muito no Lula e em sua equipe”, afirmou.

Para a cineasta, o audiovisual deixou de ser uma área da cultura, para ser um mercado internacional. Novas regras, novo jogo, novo paradigma, de acordo com ela, em que o profissional da cultural é muito mais desvalorizado que nos anos anteriores. “A obra deixou de ter valor pelo autor, e só quem manda é o imediatismo de mercado, os patrocínios, os executivos, que não se sabe quem são”, criticou.

“A obra deixa de ter importância como cultura, para ser um produto que tem que fazer sucesso instantâneo numa semana, para que outra entre no lugar na semana seguinte. Um volume muito grande de dinheiro, que é conduzido de uma maneira muito superficial.”

Ela admite que o streaming tornou a área muito aquecida, com muita produção nacional, como ocorreu com a Lei que regulamentou a TV Paga nos governos anteriores. “Porém, como não tem regulamentação, as formas de trabalho estão sendo muito abusivas, com as pessoas tendo burnout (esgotamento profissional), sem proteção trabalhista. Virou uma terra de ninguém”, concluiu.

Autor