Contra inflação, greve geral para a França e surpreende governo Macron

Inflação acumulada é de 6,2% – a maior em décadas –, o que levou o movimento sindical a exigir aumentos nos salários

Os trabalhadores pararam a França nesta terça-feira (18), em meio a uma histórica greve geral de 24 horas contra a disparada de preços. Nos últimos 12 meses, a inflação acumulada é de 6,2% – a maior em décadas –, o que levou o movimento sindical a exigir aumentos nos salários. Para 82% da população, o governo Emmanuel Macron falhou no combate à inflação.

Os franceses também se solidarizam com os trabalhadores de quatro refinarias da TotalEnergies que entraram em greve em 27 de setembro. As gigantes do setor registram faturamentos crescentes. No primeiro semestre, a francesa Total lucrou US$ 10 bilhões (R$ 53 bilhões), e a norte-americana Esso-Exxon-Mobil, US$ 18 bilhões (R$ 96 bilhões).

Esses ganhos, porém, não foram em nada revertidos para os trabalhadores. Macron, em vez de ouvir as reivindicações e negociar com os petroleiros, ficou ao lado das multinacionais, tentando – em vão – criminalizar e sufocar o movimento. Depósitos e refinarias seguem bloqueados, enquanto filas quilométricas se formam nos postos de gasolina.

Com a intransigência do governo, a adesão à greve geral foi ampla no setor público e na iniciativa privada. Conforme a CGT (Confederação Geral do Trabalho), pararam “trabalhadores dos setores agroalimentar, transportes públicos, energia (inclusive centrais nucleares), educação, saúde, comércio e metalurgia”, entre outras categorias. A circulação de ônibus, VLTs (veículos leves sobre trilhos), metrô e trens foi afetada.

 “Pedimos um salário mínimo de € 2.000 (US$ 1.970), o que equivale a um aumento de € 300 (US$ 295)”, declarou Philippe Martinez, secretário-geral da CGT. Os sindicalistas contam com o apoio do movimento estudantil. Até a ultradireitista Marine Le Pen, ex-candidata à Presidência da República, aproveitou o caos para criticar o governo.

Macron apostava que o desabastecimento de combustível fosse um trunfo para jogar a população contra os grevistas. Não foi o que ocorreu. O êxito da paralisação de 24 horas surpreendeu o presidente, que tenta viabilizar, para 2023, uma nefasta reforma da Previdência. Um dos objetivos da medida é elevar a idade mínima para aposentadoria de 62 para 65 anos – o que foi rechaçado por todas as centrais sindicais.

Na visão do Le Monde, um dos mais prestigiados jornais diários da França, esta será “uma semana de fogo para o governo”. Reeleito presidente em maio, Macron vê sua popularidade cair à medida que a tensão social avança. Para aprovar o orçamento de 2023, o governo deve recorrer a poderes constitucionais especiais, já que corre o risco de sofrer derrotas no parlamento.

A agência alemã Deutsche Welle vê a greve geral como indício de uma onda de protestos por toda a Zona do Euro, onde a inflação é superior à da França. “Manifestações similares têm ocorrido em toda a Europa nos últimos meses – o alvo principal é o impacto da inflação”, aponta a DW.

Conforme a agência, “milhares protestaram em Praga duas vezes no mês passado, especialmente contra a alta dos preços. Funcionários de companhias aéreas entraram em greve em países como Alemanha e Suécia, assim como funcionários ferroviários no Reino Unido, que exigiram que seus salários acompanhem o aumento do custo de vida”. A classe trabalhadora se levanta na França e no Velho Continente.

Autor