Democracia fuzilada

Ao crivar de balas a viatura policial, atirou contra todo país, ao atirar contra os policiais, atirou contra todo o povo brasileiro

Roberto Jefferson, ex-deputado federal pelo Rio de Jáneiro, é o melhor exemplo do que o Bolsonarismo é capaz de produzir. Sim, a sua postura extremista e a sua mais recente monstruosidade devem ser colocadas na conta do atual presidente da República que concorre à reeleição, Jair Bolsonaro.

Desde a política de liberação de armas, passando por sua conduta beligerante contra as instituições do país, como o STF, e o incessante questionamento do processo eleitoral pelo presidente, tem formado o caldo de cultura que permite a proliferação de comportamentos de ódio e antidemocráticas que culminam em desfechos como esse do domingo, 23/10, em que quatro policiais federais foram atacados pelo ex-deputado, sendo dois feridos à bala, ao tentarem dar cumprimento a um mandado de prisão autorizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Depois que veio à tona o depoimento do atirador, fica difícil acreditar na versão que ele criou de que não tinha intenção de matar os policiais, pois confessou ter arremessado três granadas e desferido 50 tiros de fuzil na direção dos policias. Aliás, que tipo de gente, presa em regime domiciliar, tem em casa granadas, fuzil, mais de 25 armas e farta munição? Talvez o fato que provocou tamanha coragem para atirar foi ele ter visto que entre os policiais havia uma mulher. Bolsonaristas tem apresentado uma inusitada característica de predileção por atacarem mulheres. Na véspera, ele já havia divulgado um vídeo com ataques machistas de baixíssimo nível contra a ministra Carmem Lúcia.

Leia também: Lula quer regulamentar a isonomia salarial entre homens e mulheres

O vídeo contra Carmen Lúcia motivou sua prisão, não pelo que disse, infelizmente, mas pelo ato de sua divulgação em redes sociais, pois na medida em que cumpria prisão estava impedido por lei de se utilizar de tal recurso.

O teor das ofensas já deve lhe render algum processo futuro. Mas a sua reação atirando nos policiais é um fato gravíssimo e não pode ser minimizado dentro do “modus operandi” da narrativa Bolsonarista. Nada justifica. Seus defensores falam envergonhados que ele reagiu a uma perseguição do ministro Alexandre de Moraes. Tal sentimento não lhe dá o direito de matar ou atentar contra a vida de alguém, ainda mais contra servidores que cumpriam o seu dever laboral. Ao crivar de balas a viatura policial, atirou contra todo país, ao atirar contra os policiais, atirou contra todo o povo brasileiro.

O partido do Roberto Jefferson, PTB, vem funcionando como uma linha auxiliar do Bolsonaro. Como bem disse recentemente um jornalista, tornou-se uma espécie de “barriga de aluguel” do atual presidente. Tentaram lançar o Jefferson candidato a presidente, mas a sua condição de preso não permitiu.

Fabricaram um autointitulado “padre” Kelmon, um candidato que vestiu a farda do jogo sujo nos debates presidenciais. Mas as digitais bolsonaristas aparecem com maior evidência no PTB, com as presenças de Daniel Silveira, que foi preso por ameaçar os membros do STF e Fabrício Queiroz, operador das rachadinhas na Assembleia do Rio de Janeiro. Ambos se candidataram pelo PTB.

Leia também: Lula garante aumento real dos salários e isenção do IR até R$5 mil

De uma tacada só, Roberto Jefferson constrangeu a Policia Federal e o Exército. A primeira porque foi recebida a bala, teve seus membros atacados, ainda precisaram aguardar oito longas horas para que a prisão ocorresse e da forma que o preso quis.

Já o exército foi exposto ao descobrir que suas regras de registro de armas foram desrespeitadas. Desde a sua prisão, mesmo domiciliar, Roberto Jefferson deveria ter entregue as armas que possuía, já que perdeu a autorização para mantê-las em sua posse e não o fez. Imaginemos como seria tratado um outro cidadão qualquer que tivesse armas de forma ilegal e efetuasse 50 disparos contra a Polícia Federal e não fosse amigo do presidente da República.

Nunca antes na história desse país se viu tamanha ousadia. É preciso frear tais atitudes. A democracia está em risco e a melhor arma para assegurar a sua defesa nesse momento é a atual eleição presidencial.

Lula não é mais candidato de si mesmo. Sua tarefa é bem maior agora. Passou a ser o instrumento para derrotar o bolsonarismo de Roberto Jefferson e companhia. Chegou o momento de Ciro Gomes e outros líderes deixarem de lado as diferenças e se mirarem no exemplo de Simone Tebet.

É hora de entrar firme na campanha para eleger Lula e para derrotar o bolsonarismo. A ordem dos fatores não altera o produto final. Não podemos mais aceitar que o discurso de Deus, Pátria e família sirva para esconder o verdadeiro intuito de ódio e violência que vem se instalando no Brasil desde a ascensão de Bolsonaro e que se tornaram as reais ameaças às nossas famílias e a nossa pátria.

Ou os derrotamos agora ou nos preparemos para conviver cada vez mais com granadas e fuzilamentos.