Número de greves cresce 76% em 2022 com caráter defensivo

A maioria das greves ocorre entre categorias do funcionalismo público e envolve defesa de condições de trabalho, em vez de avanços reivindicativos.

Motoristas de ônibus foram das categorias mais mobilizadas em defesa de seus direitos no setor privado. Greve em São Paulo. Fotos: Rovena Rosa/Agência Brasil

O mundo do trabalho em 2022 foi marcado pela multiplicação de greves, em números inéditos desde 2018. Segundo estudo do Dieese, a maioria dessas greves foram defensivas, em vez de ofensivas em busca de avanços e novos direitos. O funcionalismo público reuniu a maior parte das categorias insatisfeitas com suas condições trabalhistas, muitas delas com descumprimento de seu piso salarial, mas também em protesto por reformas previdenciárias extremamente prejudiciais tanto aos trabalhadores na ativa, quanto aos aposentados.

Mais da metade das greves deflagradas no primeiro semestre (53%) envolvia descumprimento de direitos, como atraso no pagamento de salários, férias ou 13º, entre outros. Segundo o Dieese, que divulgou balanço dos movimentos na primeira metade do ano, os chamados itens de caráter defensivo, em defesa de direitos e condições de trabalho, estavam na pauta de 80% das 663 paralisações pesquisadas. Esse número (663) representa 76% de aumento em relação a igual período de 2021. Basicamente, pelo crescimento no setor público.

Assim, a quantidade de greves só não é maior que a do primeiro semestre de 2018 (901). As horas paradas quase dobraram, chegando a 37 mil. Mas o número de paralisações no setor privado e nas estatais praticamente não se alterou. Já no funcionalismo público, se multiplicou por cinco – de 82 para 412.

Leia também: Trabalhadores da Mercedes aprovam greve contra 3.600 demissões no ABC

Correndo atrás do prejuízo

“Questões salariais como reajuste (48%) e pagamento do piso (31%) foram as mais frequentes”, informa o instituto. “Itens relacionados à alimentação (tíquetes, cestas básicas) vêm em seguida: estiveram presentes em 19% das greves. O pagamento de vencimentos em atraso (salários, férias, 13º) continua entre as principais reivindicações – com uma participação diminuída, no entanto (16%).”

Das 663 greves registradas de janeiro a junho, 438 (66%) foram de trabalhadores no setor público, sendo 412 no funcionalismo (62%) e 26 (4%), em estatais. As paralisações “de advertência” (com anúncio antecipado de duração) representaram 45% do total (setores público e privado), enquanto 53% foram por tempo indeterminado. Em 2% dos casos, não havia informação disponível.

Professores na vanguarda

Já movimentos que envolveram categorias profissionais inteiras predominaram, com 60% do casos. Outros 40% foram em empresas ou unidades do funcionalismo.

Os profissionais da Educação cumpriram importante papel na deflagração das greves – em especial aqueles que, pelos municípios do país adentro, ocupam-se dos primeiros anos da infância. Greves pelo cumprimento de um piso salarial legalmente instituído e para o qual são destinados recursos para que prefeituras e estados possam realizá-lo.

Leia também: Após três meses, acaba greve no Banco Central

“A frequência da deflagração das greves neste primeiro semestre também se associa a questões salariais – reajuste nos valores e pagamento do piso”, comenta o Dieese. “De janeiro a março, a presença conjunta dos dois itens vai progressivamente se destacando na pauta das mobilizações. Abril marca novamente um recuo e também o início do distanciamento entre os dois itens, com a reivindicação por reajuste salarial tornando-se preponderante.” O instituto destaca a forte mobilização pelo piso salarial nacional da educação básica.

Das 412 greves no setor público, 72% foram deflagradas por servidores municipais, 19% por estaduais e 8%, por federais. Mais da metade (55%) foi de advertência, enquanto 87% envolveram categorias profissionais.

“Itens de caráter defensivo estiveram presentes na grande maioria das pautas grevistas (79%)”, lembra o Dieese. “Ainda assim, itens propositivos também foram muito frequentes (68%). A maioria das greves trouxe, de modo combinado, reivindicações caracterizadas das duas maneiras.” Reivindicações de salários e pisos foram as mais frequentes, com 58% e 48%, respectivamente.

Por sua vez, no setor privado, de 223 paralisações registradas, 161 (72%) foram no setor de serviços e 62 (28%), na indústria. Diferente do setor público, só 28% foram de advertência e 67%, por tempo indeterminado. Também predominaram as greves por empresa ou unidade: 85% do total. O setor de transportes foi dos mais mobilizados em defesa de seus direitos.

Leia também: Ao longo de 2021 ocorreram 721 greves, aponta DIEESE

“Na pauta reivindicatória de 82% das greves deflagradas estiveram presentes itens de caráter defensivo, com predominância de pleitos relativos ao descumprimento de direitos (62%)”, diz ainda o estudo do Dieese. “A exigência de regularização de valores em atraso (salários, férias, 13º) compôs a pauta da maioria (47%) das mobilizações. Itens relativos à alimentação (tíquete, cesta básica) vieram a seguir (38%). A reivindicação por reajuste salarial esteve presente em quase um terço das greves (31%).”

Em 210 registros de greves (32% do total) há informações a respeito do modo como foram encerradas. Na maioria dos casos (65%) houve algum êxito no atendimento das reivindicações.Na maioria, ou seja, 71%, houve abertura de negociações. Em mais da metade, 54%, houve envolvimento da Justiça do Trabalho.

Autor