Traição do grupo Wagner serve para gerar bombardeio de mídia contra a Rússia

Para a especialista Ana Prestes, a crise entre Putin e o grupo mercenário não tem potencial para impor derrota à Rússia

O milionário russo caçado pelos EUA por ter fundado o grupo Wagner, agora deve se tornar o queridinho da CIA conforme reafirme sua rebeldia contra Putin.

De repente, a primeira página de portais de todo o mundo foram cobertos por desdobramentos da virada de casaca do grupo Wagner, que lutava pela Rússia. Aparentemente, os aliados da Ucrânia encontraram um detonador de propaganda contra o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e para criar o clima de derrota iminente. 

Putin prometeu neste sábado (24) esmagar a rebelião militar em solo russo. Em seu discurso, falou em traição do grupo mercenário, de seu antigo aliado, Ievguêni Prigozhin. Este se comporta como um comandante em luta contra corrupção, não admitindo a traição contra a pátria.

O rebelde afirmou ter tomado controle dos principais prédios administrativos da cidade de Rostov-do-Don, no sul do país, além de estruturas do Comando Militar do Sul —peça central na engrenagem da Guerra da Ucrânia, na qual o Wagner lutou e que agora é criticada por Prigozhin.

“Ambições excessivas levaram à traição. É um golpe contra a Rússia e seu povo. Nossas ações para proteger a pátria-mãe serão duras”, disse Putin. Todos que entraram deliberadamente no caminho da traição, que prepararam uma rebelião armada, que adotaram o caminho da chantagem e métodos terroristas, irão sofrer a punição inevitável.”

O Portal Vermelho consultou a especialista em Relações Internacionais, a socióloga Ana Prestes, que, em meio ao calor dos acontecimentos, antecipou que o grupo Wagner não tem potencial para impor uma derrota militar a Putin, mas será amplamente usado para propaganda contra a Rússia.

Ela admite que o “enorme potencial” do grupo mercenário será “criar fatos que justifiquem ações coordenadas do ocidente para isolar mais o governo russo e um bombardeio midiático como já estamos vendo”. Não à toa, Prigozhin está no alto do trend topics  do Twitter, os assuntos mais comentados da internet.

“Era o turning point [virada de mesa] que o ocidente queria”, disse ela sobre o efeito dramático deste evento de traição militar, justamente no momento em que havia enorme desânimo da Europa com o baixo efeito de sua investida em armas para a defesa da Ucrânia. 

Os próximos acontecimentos vão revelar muito sobre a capacidade ofensiva da Rússia ou sobre o avanço da Ucrânia. Mesmo os EUA evitam adentrar o território russo, mantendo uma capacidade defensiva na própria Ucrânia. Com a novidade do Wagner atacando cidades russas, mais os ataques não assumidos pelo presidente ucraniano Volodimir Zelensky, o clima pode esquentar contra outros países.

O que se observa, como ato contínuo, são as forças ucranianas concentrando-se em Bakhmut, onde a ocupação russa se prolonga há meses. Kiev admite estar em meio a uma difícil contraofensiva, descrita pro Zelenski como mais lenta do que o esperado. Observa-se também o modo como a opinião pública russa vai lidar com a rebeldia, sendo mobilizada contra Putin ou mantendo o apoio ao governo.

Volatilidade ideológica

Ana ainda citou o ativista libanês Hadi Nasrallah que ironizou o modo como, de repente, o grupo Wagner se tornou queridinho da mídia ocidental. “É hilário como o grupo de Wagner passou de uma milícia genocida cometendo crimes de guerra para um grupo de rebelião anticorrupção na mídia ocidental. Se a OTAN tivesse a chance, eles iriam armar Wagner e chamá-los de combatentes da liberdade”, disse ele no Twitter. 

Nasrallah disse não estar surpreso com essa guinada de opinião. “A mesma mídia ocidental passou décadas atacando a Al Qaeda e o nazismo. De repente, a Al Qaeda se tornou “rebeldes moderados” na Síria e os nazistas se tornaram “patriotas” na Ucrânia. Ambos sem remorso apoiados e armados por regimes ocidentais”, completou.

O grupo Wagner foi fundado em 2014. Uma de suas primeiras missões conhecidas foi na península ucraniana da Crimeia, naquele mesmo ano, quando mercenários com uniformes sem identificação ajudaram forças separatistas apoiadas pela Rússia a tomar a região.

Acredita-se que a maioria dos soldados era formada por ex-soldados de elite altamente treinados, como é o perfil de Putin. Mas conforme a guerra se intensificou na Ucrânia, Prigozhin teria começado a expandir o grupo, recrutando prisioneiros e civis russos, assim como estrangeiros. Mas tudo é tratado como especulação da mídia ocidental, inclusive o caráter mercenário da companhia militar, pois Prigozhin é tratado como um comandante do exército russo.

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