Congresso da UNE debate educação profissional e o mundo do trabalho

“Estudar não pode ser privilégio. Estudar é um direito. E não necessariamente vinculado ao trabalho tecnicista do mercado de trabalho”, afirmou a socióloga Camila Menezes

Debate sobre formação profissional da juventude e as transformações no mundo do trabalho no 59º Congresso da UNE. Foto: Yuri Salvador

Das inúmeras mesas de debate do 59º Congresso da União Nacional de Estudantes (UNE) realizado na manhã desta quinta-feira (19), o tema da formação profissional da juventude e as transformações no mundo do trabalho foi uma das mais requisitadas e lotou o auditório 10 da Universidade de Brasília (UnB).

Discutiram as perspectivas de trabalho para a juventude brasileira os palestrantes, João Victor, diretor de políticas públicas para a juventude do Ministério do Trabalho e Emprego; Márcio Ayer, presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro; Everton Gomes, secretário de Trabalho do Rio; Maria Carol, professora de geografia e Camila Souza Menezes, ex-diretora de Relações Internacionais da UNE, socióloga e mestranda pela UFRJ.

Todos destacaram que o desmonte de políticas públicas de geração de trabalho digno para os jovens e para os trabalhadores em geral, nos últimos anos, sob o governo de Jair Bolsonaro.

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Representante do Ministério do Trabalho e Emprego, João Victor contou dos vários desafios da pasta que foi recriada em janeiro deste ano pelo presidente Lula.

“Todas as políticas focadas na juventude, todos os debates que fizemos durante décadas foram extintos como se não houvesse necessidade de discutir políticas relativas à qualificação e geração de emprego e renda para os nossos jovens no Brasil”.

Foto: Yuri Salvador

Ele avaliou que não tem como discutir formação profissional em um espaço que discute educação universitária sem partir de um princípio básico: “não podemos submeter a nossa educação ao modo de produção. A função da universidade não é e nunca pode ser formar pessoas para o mundo do trabalho somente”, disse Victor.

“Não é sua função fazer isso, se fizermos isso, produziremos um rebaixamento do conhecimento e da produção científica em nosso país”, frisou João Victor.

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Everton Gomes, secretário do Rio, corroborou com os outros palestrantes sobre os desafios de reconstrução de políticas de formação profissional para os jovens no Brasil hoje. Segundo ele, o último governo desconstruiu e acabou com um dos grandes símbolos da nação brasileira que era o Ministério do Trabalho, criado na vigência do governo Getúlio Vargas..

Para ele, essa política simboliza todo o projeto político de ataque, principalmente, à massa trabalhadora do país. “Um dos grandes elementos que foram vitimados neste processo, certamente foi a juventude brasileira”, completou.

Segundo o secretário, “criou-se entre a juventude trabalhadora um mito sobre o empreendedorismo como grande projeto salvador da força de trabalho. E isso é uma grande falácia”, ponderou.

“Se não tem condições de fomentar, por exemplo, a partir de crédito, o empreendedorismo verdadeiro, você está fingindo que está fomentando o empreendedorismo e fazer acreditar que aquele jovem vai chegar numa posição maior a partir do seu esforço, isso não é verdade”, afirmou o secretário, citando, como bom exemplo, o fomento e a formação da juventude trabalhadora da China.

Márcio Ayer comentou que é fundamental discutir o trabalho não remunerado de cuidados que recaem sobretudo às mulheres. “Nós precisamos discutir qual será o futuro da economia de cuidados que tradicionalmente vem recaindo sobre as famílias, as mulheres e os grupos familiares, que mudaram e nós temos que discutir quem cuidará de nós”.

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“A nossa juventude tem que discutir o hoje e pensar no mundo que teremos daqui há 40 anos”, frisou Ayer.

Maria Carol, ex-diretora da UNE, professora de Geografia e mestranda da Rural do Rio de Janeiro destacou a importância da promoção do debate sobre a capacidade de interação entre a tecnologia como aliada na formação profissional dos jovens.

“Não somos inimigos da tecnologia, mas precisamos incorporar os estudos tecnológicos na formação dos jovens para gerar emprego e renda para os jovens trabalhadores do país”, disse a professora.

A professora e socióloga Camila Souza Menezes afirmou que discutir o mundo do trabalho deveria ser para a juventude uma necessidade prioritária porque não tem como desvincular educação da discussão do mundo do trabalho. Temos que discutir educação e trabalho como parceiros, como pontes que nos conectam; se isso não ocorrer, o que vamos assistir é a lógica da mercadorização, do capital financeiro, a lógica da uberização no mercado de trabalho se amplificará como um consenso para a sociedade e para os nossos currículos”, refletiu.

Para ela, a reforma do ensino médio não é um problema apenas dos estudantes secundaristas ou dos professores, o problema pode alterar a concepção do mundo do trabalho. “O diploma vai servir para que os trabalhadores sigam sendo mão de obra barata, exclusivamente técnico e desvinculado de um projeto de soberania nacional de desenvolvimento”.

“Estudar não pode ser privilégio. Estudar é um direito. E não necessariamente vinculado ao trabalho tecnicista do mercado de trabalho. Nós também queremos direitos para trabalhar”, afirmou a socióloga.

Camila completou que é preciso mudar radicalmente a compreensão do trabalho para transformar a sociedade, discutir educação em trabalho vinculada a uma perspectiva de transformação da sociedade.

“Nós, como jovens que queremos construir um outro futuro, nós devemos exigir sempre mais. Não queremos o que capitalismo tem para nos oferecer. E a gente quer ter uma sociedade melhor para os nossos filhos”, finalizou.

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