Governo “lavou a alma” dos cientistas brasileiros, diz ministra Luciana Santos

Ao explicar como retomou o desenvolvimento tecnológico e científico, após o desmonte bolsonarista, a ministra expressou o clima de “redenção” que a Ciência vive com as entregas que tem feito.

A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos (PCdoB), participou nesta sexta-feira (21), de uma entrevista coletiva com a imprensa alternativa. Ela falou sobre os avanços da pasta nesses sete meses de atuação, destacando o fato de já ter superado todas as recomendações feitas pelo Governo de Transição. Em apenas seis meses, ela já cumpriu todas as demandas de retomada de políticas e reconstrução de instâncias de operação do Ministério que tinha como tarefa.

Foi o caso da retomada de iniciativas como o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT), o reajuste de bolsas de estudo para pesquisa, mais recursos orçamentários para o setor, entre outras ações. Mas a superação do negacionismo científico em vigor no Governo Bolsonaro é um dos destaques que mais mexe com a ministra.

Durante a live organizada pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, o Portal Vermelho foi o último a se dirigir à ministra. Ela surpreendeu ao contar o que a emocionou dentre as entregas  que tem feito nestes 200 dias de gestão no Ministério.

Ela mencionou a devolução, no dia 12, das medalhas da Ordem Nacional do Mérito Científico para a médica sanitarista Adele Benzaken e o infectologista Marcus Vinicius Lacerda, por suas contribuições para o segmento, que haviam sido revogadas pelo governo Bolsonaro.

Benzaken foi a diretora do Departamento de HIV/Aids do Ministério da Saúde demitida em 2019, na gestão de Jair Bolsonaro, após a publicação de uma cartilha sobre prevenção de doenças destinada a homens trans. Lacerda foi autor de um dos primeiros estudos que apontaram a ineficácia da cloroquina no tratamento contra a covid-19 em 2020 e também teve a honraria cancelada em 2021. Outros 21 pesquisadores brasileiros rejeitaram a medalha em solidariedade aos dois, e portanto receberam-na no evento.

“Foi muito forte, uma redenção. Eram cientistas que foram defenestrados por afirmarem a verdade. São coisas que me emocionam pelo quanto a injustiça dói. Acho ue ali, a ciência brasileira ficou de alma lavada. Foi uma comoção. Isso se reveste de muito simbolismo e foi um momento de muita emoção”, afirmou. 

Luciana ainda citou o caso do reitor Luiz Carlos Cancellier, o então reitor da UFSC, que suicidou-se há pouco mais de cinco anos, após ser preso pela Polícia Federal. A investigação tratava sobre desvio de dinheiro de programas de ensino à distância na UFSC, de que foi inocentado, depois. Mencionou ainda Ricardo Galvão, que, à frente do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que foi exonerado por expor os dados do desmatamento na Amazônia. Hoje ele é presidente do CNPq, uma das principais entidades de incentivo à pesquisa no país.

Acesso tecnológico na educação

O Portal Vermelho também questionou sobre os gargalos de acesso tecnológico na educação brasileira, explicitados pela pandemia, uma demanda para a transversalidade entre ministérios como o MCTI, Educação, Comunicações, entre outros. 

Para Luciana, a transversalidade entre áreas ministeriais é uma chave no governo. “Quanto mais capazes formos de ter missões comuns, objetivos comuns, mais o governo vai dar respostas ao que a população merece. O desafio de todo governo é fazer com que as metas, objetivos e missões convirjam. Lula tem pressa”. 

“As guerras da Ucrania e contra a pandemia deram uma demonstração cabal de que a dependência é uma das piores mazelas que as nações podem ter. Soberania e autonomia rimam com ciência e tecnologia”, afirmou.

Luciana considera que o anúncio de escola de tempo integral pelo Ministério da Educação precisa ter como segundo tempo a Ciência na Escola. Esta é a possibilidade, na opinião dela, da juventude ter acesso à quarta revolução industrial, com robótica e a velocidade da revolução digital.

Da mesma forma, ela mencionou as intenções estratégicas de inserir o Brasil no nicho da indústria de semicondutores, que perpassa diversas cadeias produtivas. Para isso, ela defende o resgate da Ceitec, uma indústria de semicondutores em processo de liquidação, e o Padis (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores).

“Esse país tem jeito e estou convicta dessa viabilidade”, disse a ministra, esperançosa diante das entregas e expectativas em torno de sua pasta. 

Entregas

Naquela mesma solenidade de resgate do mérito dos cientistas, mencionada por Luciana, o governo também oficializou a retomada do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT) — o principal órgão de assessoramento científico do presidente da República. Esse conselho reúne a comunidade científica, a sociedade civil e o setor produtivo.

“Com o Conselho da Ciência e Tecnologia, a ciência brasileira está sendo reconhecida com Lula”, destacou a ministra.

Entre as medidas do governo Lula, Luciana Santos destacou a volta de programas e entidades de incentivo à ciência e tecnologia, além do reajuste nas bolsas de estudos para os pesquisadores.

Luciana ainda anunciou mais de 800 novas vagas para concurso público. “Vamos retomar o PCI (Programa de Capacitação Institucional) e debater o reajuste das bolsas de estudo”, anuncia. O programa é coordenado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), para apoiar e viabilizar a execução de projetos na área.

Segundo ela, um dos maiores desafios da gestão está na luta ideológica. “Precisamos enfrentar o negacionismo difundindo o que está sendo feito. Nossa produção científica é riquíssima e reconhecida mundialmente, nossas universidades e institutos de pesquisa são espaços de excelência, não podemos permitir a fuga de cérebros por falta de investimentos na ciência”, avalia.

A live foi mediada por Vanessa Martina-Silva (Barão de Itararé e Diálogos do Sul), com participação de jornalistas do ICL Notícias, do Brasil 247, da TVT, do Brasil de Fato, do Diário do Centro do Mundo (DCM) e do Portal Vermelho.

Confira aqui a íntegra da coletiva:

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