Presidente Biden critica Israel e expressa esperança por acordo de cessar-fogo

O presidente dos EUA fez uma das repreensões mais duras até o momento à Israel, classificando a operação para perseguir o Hamas como “exagerada”.

Crianças palestinas nos escombros da casa da família após um ataque aéreo no campo de refugiados de Rafah, no sul de Gaza

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez uma das repreensões mais duras até o momento à conduta militar de Israel em Gaza, classificando a operação para perseguir o Hamas como “exagerada”. Em uma entrevista coletiva na Casa Branca nesta quinta-feira (9), Biden também expressou otimismo em relação a um acordo em negociação, que poderia resultar na libertação de reféns e em uma pausa prolongada nos combates, potencialmente levando a uma mudança mais sustentada na guerra.

Biden pintou um quadro vívido do sofrimento em Gaza, destacando a necessidade de medidas adicionais para conter a crise humanitária na região. Suas declarações ofereceram uma nova perspectiva sobre sua visão do conflito de quatro meses, que tem testado a diplomacia americana e revelado divisões dentro de sua coalizão democrata.

“Sou da opinião, como sabem, que a condução da resposta em Gaza foi exagerada”, afirmou Biden aos jornalistas. Ele mencionou seus esforços para abrir Gaza para permitir a entrada de mais ajuda humanitária como parte de seus esforços para aliviar o sofrimento da população local.

A avaliação de Biden da campanha militar israelense como excessiva marca uma mudança significativa em sua postura pública sobre o conflito. Embora tenha apoiado firmemente Israel durante grande parte dos últimos meses, Biden expressou crescente frustração com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, por não seguir os apelos dos EUA para uma redução na intensidade dos combates.

Durante a entrevista, Biden enfatizou a situação dos habitantes de Gaza, que sofreram pesados bombardeios israelenses e enfrentam escassez de suprimentos essenciais desde os ataques terroristas de outubro. “Muitas pessoas inocentes estão morrendo de fome. Muitas pessoas inocentes estão em apuros e morrendo. E isso precisa parar”, ressaltou o presidente.

Biden enfrentou pressão crescente de membros de seu próprio partido para falar mais veementemente sobre a situação em Gaza e exigir um cessar-fogo. Ele tem sido alvo de protestos em várias partes do país por onde tem viajado nas últimas semanas.

Enquanto os negociadores americanos, cataris e egípcios continuam a trabalhar em um acordo entre Israel e o Hamas para interromper os combates em troca da libertação de prisioneiros, Biden expressou seu compromisso em resolver a situação. “Estou pressionando muito agora para lidar com esse cessar-fogo de reféns”, afirmou. “Tenho trabalhado incansavelmente nisto.”

Mas fazendo uma avaliação precisa dos últimos acontecimentos no Médio Oriente, Biden cometeu o tipo de erro que a sua equipe esperava que evitasse, dadas as questões sobre a sua idade e memória, ao confundir os presidentes do Egito e do México.

“Penso que, como sabem, inicialmente o presidente do México, Sisi, não queria abrir a porta para permitir a entrada de material humanitário”, disse ele, referindo-se a Abdel Fattah el-Sisi, presidente do Egito, não do México. “Eu falei com ele. Eu o convenci a abrir o portão. Falei com Bibi para abrir o portão do lado israelense.”

Enquanto isso, em Rafah

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ordenou uma “operação massiva” na cidade de Rafah, no sul de Gaza, um dos últimos refúgios para civis no enclave sitiado, conforme anunciado por seu gabinete na sexta-feira. Essa ação tem gerado preocupações significativas, especialmente entre autoridades dos Estados Unidos e organizações humanitárias, sobre a potencial perda de vidas civis.

Netanyahu instruiu as Forças de Defesa de Israel a apresentarem um “plano duplo” ao gabinete, visando evacuar a população civil das zonas de combate e “colapsar” os quatro batalhões restantes do Hamas que se acredita permanecer em Rafah, conforme comunicado oficial de seu gabinete. No entanto, os detalhes específicos desse plano ainda não foram divulgados, deixando incertezas sobre sua implementação e impacto.

Os ataques aéreos israelenses em Rafah durante a noite de quinta-feira resultaram em pelo menos cinco mortes, de acordo com autoridades de saúde locais, aumentando o temor entre os moradores deslocados da região. Com a população da cidade estimada em 1,4 milhões, mais de cinco vezes a contagem pré-guerra, a situação humanitária é crítica, com milhares de pessoas vivendo em condições precárias em meio à violência em curso.

As declarações recentes de Netanyahu e outras autoridades israelenses sobre a continuidade da campanha militar em Rafah despertaram alarme entre grupos humanitários e geraram preocupações internacionais. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, expressou que uma grande operação militar em Rafah seria desastrosa e enfatizou que os EUA não apoiariam tal ação.

Organizações de ajuda alertaram sobre o agravamento da crise humanitária se Israel avançar para Rafah, destacando que as doenças e a fome já são generalizadas entre os deslocados.

Diante desses acontecimentos, o Comitê Internacional de Resgate alertou que um ataque a Rafah resultaria em uma destruição ainda maior em toda Gaza, exacerbando a situação já precária dos habitantes da região. Philippe Lazzarini, chefe da Agência das Nações Unidas de Assistência e Obras aos Refugiados Palestinianos (UNRWA), expressou preocupação com a intensificação e complexidade crescente da crise, questionando por quanto tempo sua agência poderá operar em meio a um ambiente tão arriscado.

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