“Missão Israel” é novo aceno de Caiado e Tarcísio à extrema-direita

Após participarem de ato na Av. Paulista com Jair Bolsonaro, governadores disputam espólio eleitoral do ex-presidente em visita a Israel e clara provocação ao governo Lula

Foto: Secretaria de Comunicação do Estado de Goiás/Júnior Guimarães

O espólio da extrema-direita está em disputa aberta com Jair Bolsonaro fora das próximas eleições e a possibilidade de que seja preso com o avançar das investigações sobre a minuta do golpe. Até o momento, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro corre por fora, porém já deu sinais claros que é uma postulante.

Mas quem já está nesta empreitada são os governadores de São Paulo e Goiás, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Ronaldo Caiado (União Brasil). Ambos são tidos como candidatos a disputar a presidência em 2026. No caso de Caiado, está em segundo mandato e não poderá se candidatar novamente como governador.

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O primeiro ato que reuniu os dois governadores com este indicativo foi a nefasta manifestação em São Paulo, na Avenida Paulista, promovida pelo bolsonarismo, que, entre outros momentos, teve um flerte de Jair com a confissão sobre a tentativa de golpe de Estado e pedidos de anistia para os envolvidos no 8 de Janeiro.

Agora um novo capítulo dessa corrida acontece no Oriente Médio. Tarcísio e Caiado desembarcaram no domingo (17) em Israel, a convite do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. A visita, que deve ocorrer até sexta (22), tenta captar o sentimento da extrema-direita brasileira sobre o que ela enxerga sobre o Estado bélico de Israel. A aproximação foi alimentada pelo bolsonarismo nos últimos anos, ainda que grande parte desconheça princípios básicos do país, o que os levam a acreditar, inclusive, que Israel seja uma país de maioria cristã.

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Segundo o governo de São Paulo, na agenda de Tarcísio consta encontro com a comunidade judaico-brasileira, com Netanyahu e o presidente de Israel, Isaac Herzog, além de visita a uma empresa de aviação civil e militar e a uma estação de saneamento. Estas visitas guardam especial atenção uma vez que o governo paulista utiliza um sistema de espionagem israelense (o mesmo utilizado pela Abin – Agência Brasileira de Inteligência – para espionar adversários no governo Bolsonaro), assim como a polêmica privatização da Sabesp.

Lados opostos

A ida a Israel, claramente, demonstra oposição ao governo Lula que tem posicionamento crítico à atuação do país na Faixa de Gaza. Inclusive o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, está em agenda oficial no Oriente Médio nestes dias. No domingo (17), mais uma vez, Vieira reforçou o posicionamento brasileiro pela solução de dois Estados e classificou as ações israelenses em Gaza como ilegais e imorais.

Já Tarcísio e Caiado – como se não bastasse visitar um país apontado como promotor do genocídio contra o povo palestino e se encontrarem com Netanyahu que tem baixa popularidade pelas atitudes no conflito – visitarão o Memorial/Museu do Holocausto, local envolto à polêmica com o embaixador brasileiro Frederico Meyer.

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Alvo de uma emboscada pelos extremistas israelenses, Meyer foi submetido a uma situação constrangedora promovida por Israel Katz, ministro das Relações Exteriores, que visou forçar um pedido de desculpas do governo brasileiro por seu posicionamento pró-Palestina.

Como não conseguiu dobrar o governo Lula, o ministro Katz abraçou de vez a posição indigna de se pautar pelo populismo extremista em detrimento à diplomacia. Com isso, ele se disponibilizou pela condução dos governadores na visita, em clara provocação ao governo brasileiro, e também os levará a lugares históricos com o Monte das Oliveiras, a Biblioteca Nacional Israelense e a Cidade Antiga de Jerusalém.

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Com isso, mais do que política séria e voltada para uma solução para o fim do conflito, o ‘consórcio’ Netanyahu/Katz e Tarcísio/Caiado visa fazer imagens para fomentar as redes sociais extremistas. Os primeiros visando ampliar seu “marketing de guerra”, os outros para ver quem cai nas graças dos patriotas que cantaram o hino nacional para um pneu.