Capistrano: Mandela, o apartheid e a mídia golpista

Dá nojo ler, ouvir e ver o noticiario da grande mídia brasileira. Ela não informa, pelo contrário, desinforma. O mais grave de tudo, ela manipula visivelmente a informação, só os menos dotados de senso crítico não veem o antijornalismo praticado pela grande mídia no nosso país. Ela distorce a verdade, tenta camuflar os fatos.

Quem gosta de ler, quem procura informações sobre o mundo, quem se atualiza sobre os acontecimentos de importancia histórica sabe do que estou falando. Agora mesmo, no caso da morte de Nelson Mandela, estamos assintindo um verdadeiro festival de hipocrisia por parte dessa mídia reacionária que sempre esteve ao lado do regime do apartheid da África do Sul e do colonialismo no continente africano.

Fico imaginado qual o interesse da mídia de enaltecer Mandela, ele que foi durante muitos anos tratado como um terrorista por ela. Mandela, o revolucionário que lutou contra a opressão colonialista, contra o apartheid, contra o regime racista da Africa do Sul, hoje, de uma hora para outra, tem a sua imagem apropriada pelos que ajudaram a sustentar os governos colonialistas e opressores, durante séculos, na África.

Mandela foi preso em 1962 com a colaboração da CIA.

A sua organização política, o Congresso Nacional Africano (CNA), foi considerada uma organização terrorista pelos Estados Unidos e pela Inglaterra durante muito tempo. Mandela e outros líderes do CNA figuraram até 2008 na lista de terroristas da CIA. Hoje é um herói.

Vale lembrar que a grande “democracia”, dita “cristã” e ocidental — cantada em prosa e verso pela grande mídia e pela direita como exemplo de regime democrático –, os Estados Unidos da América, teve o seu apartheid até o final dos anos 70 do século passado.

Nos Estados Unidos, negro tinha que estudar em escola só para negros. Bares e restaurantes também eram separados. Transporte coletivo não podia ser misturado, tinha o dos negros e dos brancos e assim por diante. Era uma verdadeira segregação racial. Quantos negros norte-americanos foram execultados pelo fato de ser negro? Milhares. Basta ler os discursos de Martin Luth King, ele mesmo foi uma vitima da intolerância racial nos Estados Unidos. Quem se lembra da famigerada Ku Klux Klan?.

Os verdadeiros amigos de Nelson Mandela foram aqueles que ajudaram na luta contra o colonialismo. O continente africano sofreu e ainda sofre com a dominação e a exploração do colonialismo, que roubou, saqueou, cometeu verdadeiros genocídios contra populações negras. A África é um continente riquíssimo, de múltiplas culturas, berço da humanidade, mas que sofreu e sofre ainda agressões cruéis do capitalismo.

Quem abastecia de armamentos o governo racista da África do Sul? Quem dava suporte político na ONU a esse governo? Esses fatos não podem ser esquecidos. Não podemos esquecer as atrocidades cometidas pelas potências colonialistas, imperialistas e capitalistas contra lideres africanos que lutavam pela libertação dos seus povos. Quem assassinou Patrice Lumumba, Samora Machel, Amilca Cabral? Alguém se lembra da Argélia? O que a França fez com o povo argelino? E o Congo Belga? Quem foi o Rei Leopoldo II da Bélgica? E as partilhas do continente africano entre as potências colonialistas? Era a geopolítica do capitalismo, frio e sanguinário. Sugando a África,

Isto só ocorreu no continente africano?

Claro que não, o continente asiático e as ex-colônias do continente americano sofreram até recentemente a mesma exploração.

São esses fatos que merecem ser refletidos. Essa é uma boa oportunidade para pensarmos sobre homens e mulheres que se doaram a luta por um mundo justo e de paz, onde cada nação tenha a sua autodeterminação respeitada.

Mandela não representa somente a luta de um continente, ele simboliza a luta de todos os povos oprimidos do mundo. As nações imperialistas e seus aliados tentam se apropriar da imagem de Mandela, mas eles foram, na verdade, os seus algozes,

Podemos colocar no mesmo patamar de líderes revolucionários do mundo contemporâneo: Mandela, Fidel, Che Guevara, Samora Machel, Patrice Lumumba, Ho Chi Mim, Amilcar Cabral, Agostinho Neto, Marighela, Padre Camilo Torres, Yasser Arafat e tantos outros que doaram a sua vida a luta do seu povo. Portando, viva Mandela, viva todos aqueles que lutaram e lutam por um mundo onde todos tenham o mesmo ponto de partida, com democracia política, econômica e social.
 

Antonio Capistrano foi reitor da Uern, é filiado ao PCdoB