Biden, os dois lados da moeda
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Publicado 20/05/2021 11:24

Na luta política não se deve botar sinais de igualdade em
tudo, é preciso distinguir tendências e possibilidades — aprendemos com João
Amazonas.
Correto saudar a vitória de Biden no pleito presidencial norte-americano.
Resultado que, inclusive, indiretamente enfraqueceu governantes igualmente
fascistóides, seguidores ardorosos de Trump mundo afora, inclusive o ex-capitão
Jair Bolsonaro no Brasil.
Daí a celebrar o governo Biden como possibilidade de um novo tempo de
democracia, progresso e paz e uma política externa norte-americana de
convivência pacífica e mutuamente proveitosa na cena mundial vai uma distância
estratosférica.
Biden trabalha para recuperar o dinamismo da economia interna em
frangalhos desde a eclosão da atual crise global, em 2008, tendo como epicentro
justamente os EUA. Não vacila em desrespeitar os cânones neoliberais e promove
pesados investimentos estatais em áreas cruciais para retomada das atividades
econômicas em seu país.
Impressionam o Plano Resgate Americano e o Plano de Emprego
Americano, que somam US$ 4,15 trilhões em investimentos, cerca de 20% do PIB
anual dos EUA.
Acena ao mundo com posições aparentemente progressistas em relação a temas
candentes, como a questão ambiental — com destaque para a preservação da nossa
Amazônia —, sem esconder entretanto um viés claramente intervencionista.
A pesada mão do Estado para o incremento da economia interna
norte-americana não é o mesmo que propugna para os demais países com os quais
se esforça por manter relações desiguais e de dependência, como o Brasil.
Aqui e nos demais países periféricos e em relativa a ascensão no mundo, o
novo presidente ianque segue propugnando a receita neoliberal.
Esta certamente é uma das razões que levam o outrora super ministro da economia
do Brasil, Paulo Guedes, e seus Chicago Boys, a persistirem na obsessão
fiscalista e privatista, em detrimento de absolutamente necessários
investimentos públicos para recuperação das atividades econômicas e ativação do
mercado interno.
Na euforia pós derrota de Donald Trump, em nosso país tropical abençoado
por Deus vozes situadas à esquerda não tiveram nenhum pejo em cunhar a
expressão “precisamos de um Biden”.
Ledo engano, como se dizia antigamente.
Precisamos sim superar o governo desastroso, antinacional e genocida de
Jair Bolsonaro, substituindo-o por uma ampla coalizão de caráter progressista
capaz de recuperar o país do desastre do desmonte do Estado democrático e das
salvaguardas da soberania nacional e cumprir uma nova agenda econômica pautada
por pesados investimentos públicos em infraestrutura, estímulo à produção nos
diversos níveis com a correspondente oferta de oportunidades de trabalho e
socorro a milhões de famílias brasileiras postas na sarjeta no transcurso da
pandemia e da regressão econômica.
E nesse diapasão explorar em nosso proveito as contradições que se acirram
entre os Estados Unidos e a República Popular da China em ascensão, em meio à
reconfiguração geopolítica mundial.
Nesse sentido, retomar a política externa soberana e ativa que recoloque o
Brasil no seu devido lugar no mundo.
Sem ilusões em relação a hipotéticas boas intenções do atual líder do
imperialismo norte-americano.