Faz buraco enquanto caminho

Perdemos o olfato diante da podridão. Nos lixões, urubus e humanos disputam o horizonte

Foto: Stanislav Kondratiev

Emagreci, o cinto atesta, precisaria vazar mais dois buracos para ficar acochado. Hoje o almoço foi carne de soja e um pão, nada mais, escolha, não foi opção. Já os quilos a menos foi birra com o destino.

Estamos sempre perdendo e de vez em quando ganhamos. As estações fazem com que a pele perca a elasticidade. Tem momentos que adquirimos peso ou eles se excluem. Às vezes é a comida que perdemos por não comer, mas tem circunstâncias que não se tem o comer, como se passar fome fosse um direito. A gente perde o guarda-roupa para o cupim, água e o tempo. Perdemos tempo, mas podemos discordar em relação a isso.

Leia também: Gestores levarão demandas à equipe de Lula para reconstruir a cultura 

Perdemos o olfato diante da podridão. Nos lixões, urubus e humanos disputam o horizonte. O trem que não passa por perto, já passou e perdemos.

A terapeuta se despediu, enxuta nas palavras e com os olhos de estátua. O vinho acabou desde que parei de beber, há mais de uma década, já perdi o endereço do seu gosto.

Recebo mensagem do tio, transcrevendo a fala de Xico, um desses escritores que perdeu a norma para escrever na carne viva. Xico naquele instante achou o que eu tinha pedido. Continuei perdendo e ganhando, não era jogo, mas a vida que atravessa sem aviso prévio.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor