A cor do PIB brasileiro

Um recente trabalho realizado pela BBC Brasil traçou o perfil do seleto grupo pertencente ao 1% dos mais ricos em nosso país, que absorvem a maior parte do PIB brasileiro. O resultado não surpreendeu em nada os analistas dos indicadores sociais e raciais brasileiros. Neste seleto clube, a presença de negros é de 17.4%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Muito aquém de sua representatividade na sociedade, de 53.6%

As estatísticas seriam normais e esperadas – e até veríamos isso como um dado positivo analisando o histórico de vida, oportunidades e condição social na sociedade brasileira. Mas quando o estudo considera as trajetórias destes negros para chegarem ao restrito grupo, vemos que sua ascensão econômica está ligada essencialmente ao mercado de trabalho, e não a heranças ou qualquer outro mecanismo que boa parte dos milionários brasileiros tem à sua disposição.

A entrada e permanência de negros no branco, rico e desenvolvido país do 1% afortunado passa pela porta da admissão no mercado de trabalho. Há também casos de negros que integram o 1% porque conseguiram fazer fortuna graças a um espírito empreendedor.

Em um país com população de 206 milhões de habitantes, onde os negros são mais da metade desse total, ter apenas 1,4 milhões de negros afortunados mostra um desequilíbrio estrutural na sociedade brasileira – não só econômico, mas racial.

A boa notícia vem dos indicadores dos últimos anos. Os números mostram que os negros que ocupavam 2% dos bancos das universidades, há 15 anos, hoje ultrapassam os 20%. Eles também ocupam boa parte das vagas de trainees e estagiários e já é maioria entre os empreendedores no Brasil.

Ainda há um longo caminho a ser percorrido em nosso Brasil. O setor público saiu na frente com as leis que reservam cotas raciais no serviço público. Cabe à iniciativa privada acompanhar esse movimento de forma livre organizativa e, principalmente, social.

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