A mente é um caos de deleite

Desde sempre, a espécie humana tem se defrontado com algumas questões fundamentais: quem somos e de onde viemos? E sobretudo: se houve um começo, haverá um fim?

Desde sempre, a espécie humana tem se defrontado com algumas questões fundamentais: quem somos e de onde viemos? E sobretudo: se houve um começo, haverá um fim?

A exposição Darwin – Descubra o Homem e a Teoria Revolucionária que mudou o Mundo aberta à visitação no Palácio Anchieta no último dia 3 de agosto, tem como propósito principal levar o observador a refletir sobre tais indagações. Durante muito tempo, as respostas proporcionadas pelas religiões e pelas diversas mitologias satisfizeram a necessidade inata da espécie humana de conhecer a si mesma. O enigma da origem da vida sempre povoou o nosso imaginário e ocupou os nossos pensamentos.

Chama a nossa atenção o fascínio de Darwin pela natureza, pelo esplendor da biodiversidade e pela pluralidade das espécies. Somos cativados pelo seu olhar perscrutador e por seu deleite em ver no aparente caos da natureza um estímulo para o exercício do raciocínio científico e pelo desejo de vislumbrar a unidade em meio às múltiplas diferenças.

O conceito de evolução, como mola propulsora do universo, foi aos poucos se instaurando como uma verdade aceita por todos. Evoluir é o nosso destino, é a força da natureza da qual somos feitos. Acreditamos que é impossível algo surgir do Nada. Mais difícil ainda é crer que algo sempre existiu. Alguns filósofos gregos eram adeptos da existência eterna do mundo, mas a ideia de eternidade se contrapõe à finitude de todas as coisas, inclusive de nossa própria existência, daí a dificuldade em aceitá-la.

Por outro lado, se algo surgiu de algo, qual foi o algo primeiro, o que deu origem a tudo? Para a Gênesis bíblica, no princípio era o Verbo, ou seja, foram as palavras pronunciadas por Deus que criaram tudo o que há no universo. Ao mesmo tempo, João (12,24) proclama: "Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só, mas se morrer produzirá muito fruto."

A ideia central do evolucionismo é a transformação, a mutação incessante de tudo o que habita a Terra e o universo. Embora nossas instituições sejam concebidas como algo estático e permanente alimentando, por conseguinte, nossa tendência ao conservadorismo, todos sabemos no íntimo que é impossível "banhar-se duas vezes no mesmo rio".

Nossas crenças, nossa visão de mundo e nossa consciência da própria existência são constantemente influenciadas por essas forças contrárias: sabemos que tudo muda, mas queremos que tudo permaneça como está. Desse modo, construímos muitas vezes o nosso cotidiano e exploramos a natureza como se tudo fosse durar para sempre.

Nesse início do século 21, a humanidade começa a introjetar uma nova maneira de se relacionar com a natureza, e se vê obrigada a reorganizar a ordem mundial, sob a ameaça de não mais se deleitar com o caos aparente, mas de ser destruída por ele. Fritjof Capra afirma que "a consciência ecológica, em seu nível mais profundo, significa o reconhecimento intuitivo da unicidade de toda a vida, da interdependência de suas múltiplas manifestações e de seus ciclos de mudança e transformação."

Parabéns aos organizadores da exposição.

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