Corrupção na academia
Semana passada, um texto escrito por Urariano Mota intitulado “Um caso de corrupção acadêmica”, atiçou a participação dos leitores do Vermelho a fazerem comentários. Fui um deles.
Publicado 10/02/2011 15:58
Certamente trata-se de uma daqueles temas espinhosos. Diria até que, em certa medida, um tabu. Não cabe aos pares questionar a infalibilidade doutoral. É como se um doutor no Brasil, ainda mais se for um Ph.D (simplesmente um doutor que defendeu sua tese em outro país), se tornasse uma espécie de divindade, acima do bem e do mal, incorruptível.
Debaixo das auréolas, mentes criativas onde, acobertadas pelos departamentos nas universidades, promovem muitas maldades. Algumas, inclusive, a extorquir os alunos.
Casos envolvendo diárias ilícitas, assédio moral e sexual, editais viciados, concursos manipulados, desrespeito à dedicação exclusiva e outros ilícitos não faltam. Quase todos acobertados para que não se macule o nome da Instituição. Mas um fato novo e corriqueiro chama atenção para rechear o rosário de lágrimas dos alunos em geral e dos pós-graduandos em especial. Cada vez mais um novo tipo de taxa está sendo cobrado nas universidades e recheando os bolsos dos coronéis doutores: os cursos de extensão. Como num toque de mágica a universidade brasileira passou a fazer extensão como nunca antes.
Quer fazer um curso específico sobre um programa estatístico (SAEG, por exemplo)? Não há nada na grade curricular, mas você pode fazer um destes cursos de extensão oferecidos pelo departamento de informática pelo módico “investimento” de 120 reais. Quer melhorar seu conhecimento sobre uma planilha de dados que lhe ajudará a tabular e organizar todas aquelas suas informações experimentais? Desembolse mais 80 reais. E por aí vai.
Um curso com duração de um final de semana, com 40 alunos matriculados a 50 reais por cabeça, pode render ao professor bem intencionado uma renda extra de até dois mil reais, usando-se toda a estrutura da universidade. Bom negócio.
Com isso, cada vez mais aulas que deveriam ser disponibilizadas na grade curricular normal da pós-graduação são dadas no varejo por professores que vêm nos tais cursos de extensão uma forma regular de ganhar uma graninha extra. Mas é bom destacar que tudo isso está dentro da lei, pois dizem os especialistas em direito que nem tudo que é público é gratuito e também que os cursos de extensão das universidades, desde que aprovado pelos colegiados dos departamentos, podem cobrar taxas.
Daí, um velho dilema. A universidade acaba por formar duas categorias de estudantes, mestres e doutores: os que têm bolsas ou condição financeira mais favorável e podem pagar por esses cursos, ou aqueles que não tendo recursos financeiros chupam o dedo e são penalizados com uma formação acadêmica capenga.
Pior. Professores são atraídos a oferecerem tais cursos como forma de arrecadação extra, utilizando os recursos públicos das universidades (laboratórios, sala, energia, gráficas, etc.), e penalizando os estudantes mais carentes.
Infelizmente esse não é o único caso. Os tais PhDeuses se arrogam a muito mais e sem uma fiscalização mais efetiva, pois o reitor geralmente não vai enfrentar um eleitor que compõem 70% do colégio eleitoral, fazem o que bem entendem. Ironicamente, não é raro ver esses professores vociferando em sala de aula apontando os dedos sujos para os governantes como se fossem os paladinos da ética. Como não são cobrados a seguirem um plano de ensino, usam o tempo das aulas para dar lição de moral, esquecendo de olharem para a própria cauda.
A universidade precisa ser constantemente repensada. Avançamos quantitativamente no governo Lula, mas há um enorme caminho a ser percorrido no âmbito qualitativo com o risco de a academia virar uma escola com aprendizes de corruptos e tiranetes de quinta categoria. Autonomia universitária é diferente de autonomia parasitária.