Diferentes visões sobre o Tibete

A mídia ocidental quer apresentar os tumultos havidos no Tibete como resultante de insurgência espontânea de uma população submetida a anos de opressão religiosa e cultural por um regime impiedoso. Fortemente contrastante é a opinião que os repórteres do

Este contraste de visões cria um profundo ressentimento que ameaça prejudicar as Olimpíadas 2008 de Pequim, em agosto. É a opinião do FT, que entrevistou, entre outros, cidadãos chineses instruídos, artistas e empresários bem-sucedidos de Pequim.


 



Na Universidade Renmin, por exemplo, há uma forte convicção de que a China fez grandes esforços para desenvolver o Tibete e garantir a liberdade religiosa, depois dos primeiros anos do regime comunista. E que os países ocidentais querem ignorar esses avanços, favorecendo uma visão ''romântica'' do remoto reino no Himalaia. A posição oficial nada romântica do governo, que considera o dalai-lama um ''monstro de face humana e coração de animal'', não parece exagerada aos chineses entrevistados. Segundo eles, enviar o exército foi ''a única reação'' possível. Por trás de tudo, ao cidadão chinês importa a questão da soberania que vai além do apoio ao partido e toca o cerne da identidade nacional. [1]


 



Bastante mais grave é a denúncia do escritor estadunidense Gary Wilson. Em dois artigos recentes (“Por Trás da Campanha Anti-Olimpíadas na China” e “O Tibet e a Celebração do Levante da CIA de 10 de março”) ele afirma que o que está o ocorrendo no Tibete vem sendo preparado há tempo. Segundo ele, o “Movimento Popular pelo Levante do Tibet”, estabelecido com foco nas Olimpíadas, marcou para 10 de março a data inicial para o levante, em cuja programação houve grande movimentação entre o embaixador estadunidense na Índia e o dalai-lama. Wilson revela ainda uma intensa articulação de membros da CIA, a sempre atenta inteligência dos EUA, com os levantes.


 



Não se pode esquecer o papel preponderante exercido pela NED, National Endowment for Democracy, agência de apoio ao expansionismo dos EUA, no financiamento do grupo do dalai-lama e outras organizações tibetanas no exílio. A NED também é importante base de apoio, em diferentes regiões do planeta, ao grupo Repórteres sem Fronteiras (RSF). Coincidentemente, os protagonistas dos atos isolados que marcaram o acendimento da tocha olímpica, na Grécia, eram três homens que, detidos pela polícia grega, revelaram-se cidadãos franceses, todos empregados da RSF. Estes fatos, somados ao acervo do jornal inglês “Financial Times”, permitem uma boa desmistificação “visão ocidental” do Tibete.



 [1] Leia no Financial Times


 


***


 


Secos e molhados do “Correio Brasiliense”


 


A bem-vinda mobilização estudantil em Brasília – esquentando as comemorações dos quarenta anos do ano de 1968 (o ano que não terminou) – ofuscou um pacote que o “Correio Braziliense” (CB) deste domingo publicou para tentar turbinar a moribunda CPI da tapioca. A morte da menina Isabela, transformado em show por nossa imprensa tupiniquim, também contribuiu para a pífia exposição do aloprado pacote. O cozidão, ao pior estilo “Veja”, incluiu desde certezas sobre coisas que os cânones jornalísticos aconselham tratar como suposição até elucubrações de “analistas” com analogias de práticas do governo atual com as que seriam adotadas pelo governo Putin ou por míticas autocracias passadas.


 



Como se a elaboração de dossiê nos últimos tempos fosse uma prática exclusiva da situação, a reportagem deliberadamente esquece que dossiês e mais dossiês têm sido os instrumentos de atentados da mídia e da oposição contra o governo desde a campanha de reeleição. A tese furada do CB é de que a coordenação política do governo preparou um dossiê com gastos do ex-presidente FHC e sua mulher, uma “bomba atômica” para intimidar o demo-tucanato. O jornal não leva em consideração e trata por “ironias” do governo o fato de que as informações que circulam, com dados tanto do atual como do governo anterior, até agora somente caíram nas mãos da oposição. Inclusive aquelas protegidas pelo sigilo.


 



Os autores do pacotaço do CB omitiram ainda o fato de que o presidente da OAB, a exemplo do Ministro da Justiça, declarou que não há nenhum crime em se elaborar um banco de dados ou dossiê. E que o crime é a manipulação e a divulgação de informações nele contidas. Esta interpretação, porém, é tratada com desdém pelos repórteres do CB como “cantilena cara a Dilma Rousseff e Tarso Genro”. Essa atitude atua como blindagem aos senadores Álvaro Dias e Artur Virgílio. O primeiro confessou ter passado à revista “Veja” o dossiê, que tanto pode ter sido elaborado na Casa Civil como no gabinete do outro senador tucano, detentor de arquivos de sua passagem pela mesma Casa Civil na era FHC.


 



A primeira notícia do dossiê foi uma referência à compra de um pênis de borracha pelo Palácio do Planalto dos tempos de FHC, “para uma aula de educação sexual numa escola pública”. A notícia foi divulgada pelo jornalista João Domingos do jornal “O Estado de S.Paulo”, em 19 de fevereiro, e não pelo governo. Foi também da oposição a notícia de gastos sigilosos da viagem do presidente Lula aos Estados Unidos. Como foram revelados pelo próprio CB do último sábado os gastos com massagem feitos pelo ministro da Reforma Agrária do governo tucano, Raul Jungmann. A divulgação desses gastos é o crime apontado pela OAB. Outro crime é ver o Correio Braziliense entregue à mesmice do não-jornalismo.


 


Brasília, 18 de abril de 2008

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor