Economia e luta de classes

Recuperação econômica se dá pela conjunção de vários elementos, endógenos e exógenos,

Saiu o dado do Banco Central (BC), sobre a atividade econômica, o IBC-BR, recuou 2,0% em maio, quando relacionado a abril. No ano acumula alta de 3,61% no ano e de 3,43% em 12 meses. A divulgação desse dado provocou reação diversa, na esquerda, que teve um surto de desespero, pois esperava que Lula tivesse uma varinha mágica, bastando dar um “pirlimpimpim” e a economia, destroçada por quatro anos de gestão criminosa de Bolsonaro, voltaria a se comportar como “uma China dos trópicos”; do outro a direita fascista, que comemorou o fato, apenas e tão somente por ser uma “derrota” de Lula.

Mas o que é real, nesse resultado, é o papel que o Banco Central, transformado em “entidade independente” a partir de 2021, tornou-se a ponta de lança dos interesses do capital financeiro já que manter uma taxa de juros em 13,75% estrangula qualquer tentativa de retomada de crescimento. Uma Lei Complementar tronou-se um dos principais instrumentos da luta de classe, que os incautos acreditam ter sido superada pelo fim da URSS, há mais de 30 anos, e o poder emanado dessa “entidade” agora se mostra claramente.

Os especialistas (ah os especialistas!) já afirmaram que o “mercado”, esse ente onipresente, projetou o crescimento do PIB em 2,24%, com base no crescimento de 1,9% no primeiro trimestre e é bom lembrar que no começo de 2023, a projeção era de 0,78%. Ora se esses mesmos especialistas estão (ou estavam) esperançosos de um crescimento superior ao de 2022, omitem que esse resultado é consequência direta da atividade predatória do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, cujo mandato, de acordo com o que foi aprovado em 2021, só terminará em 31 de dezembro de 2024, é o principal trunfo do mercado financeiro.

Obviamente que é necessário ponderar que acreditar que recuperar um país literalmente devastado por 6 anos de desmonte, e aqui eu coloco o governo Temer na conta, um apenas 6 meses de governo é um delírio, creditado aos ufanistas mais ousados, visto que a recuperação econômica se dá pela conjunção de vários elementos, endógenos e exógenos, que exigem uma condução de política econômica orientada para o desenvolvimento.

Se olharmos o ambiente externo, marcado pelas agruras de uma economia mundial marcada por uma guerra europeia, que afeta o mercado mundial de alimentos e de combustíveis; e o ambiente interno, caracterizada pela permanente busca do governo em ter condições de governabilidade, num ambiente hostil, visto que o parlamento eleito em 2022 é dominado pelas forças reacionárias e conservadoras, além de um conjunto de governadores nada simpáticos ao governo.

E é nesse contexto que a Luta de Classes se mostra claramente. A luta histórica entre as diversas frações da burguesia e os diversos segmentos que formam o proletariado, dessa vez utilizando uma instituição republica, o Banco Central, mostra que a burguesia, um nome que parecia démodé, mantém incólume seus interesses, defendendo-os com unhas e dentes, ora financiando políticos reacionários, para formar uma base parlamentar para resguardar seus ganhos; ora apoiando governos reacionários e fascistas, no caso os governos Temer e Bolsonaro; ora controlando diversos segmentos do aparelho de Estado. A burguesia não dorme.

O proletariado, enfraquecido devido ao fato de que suas representações sociais se debilitaram ao longo dos anos, quer aceitando o conceito falacioso de “conciliação de classes”, que asseverava ser possível construir uma sociedade “onde todos ganham”, uma pilhéria convenhamos; quer perdendo espaço no campo institucional, atropelado pela aliança entre a burguesia e a extrema-direita mundial, que destroçou a social-democracia e os pretensos “socialistas”. O encolhimento da esquerda foi funesto para o proletariado e este vem pagando caro por essa derrota histórica.

Não se espere, nos próximos meses, o arrefecimento das contradições que hoje estão presentes na economia e na sociedade brasileira, mas é necessário, acima de tudo, preservar o pouco ganho que foi conseguido até agora, graças a um governo centrista, mas que tem a pretensão de recuperar o próprio capitalismo no Brasil, e isso implica numa grande coalizão de forças que enfrentem os interesses do capital financeiro e das forças reacionárias que,  derrotadas momentaneamente, continuam muito fortes e influentes.

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