Eleições, comunistas e lutas sociais

Estamos na urgência de compreender que é necessário politizar as lutas sociais

Foto: UNE/Reprodução

No artigo de semana passada, “Os comunistas e as eleições”, disse que estou a ler o livro de Rodrigo de Carvalho, intitulado O governo Lula e a mídia impressa – construção de um pensamento hegemônico, e deixei duas perguntas: como ficam as lutas sociais e como devem os comunistas participar das eleições.

Normalmente, quando argumentamos, como na semana passada, que as eleições têm centralidade na participação política do povo e na própria dinâmica da luta de classes do Brasil, e que, por isso, não há como o Partido Comunista não orientar seus procedimentos e mesmo organização para este tipo de disputa, a pergunta que logo aparece é “E as lutas sociais, como ficam?”, como se houvesse necessariamente contradição entre batalhas eleitorais e lutas do povo por melhores condições de vida.

Não há. E não há porque, tanto as eleições e as posições por meio delas conquistadas, quanto as lutas sociais – e as posições por intermédio delas conquistadas – estão para os comunistas no mesmo patamar quando se trata dos objetivos estratégicos do proletariado: são trincheiras de acumulação de forças do movimento operário e popular, e de construção da hegemonia do Partido dos proletários no seio dos trabalhadores e na sociedade.

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Em certos momentos, e mesmo em determinadas quadras históricas, as eleições ganham maior importância; alcançam foros de prioridade. E a razão é simples, tanto quanto essencial: elas polarizam as massas; delas, participam grandes contingentes do povo trabalhador. E se o processo eleitoral é aquele que catalisa a participação política das gentes do Brasil, do proletariado nacional, os comunistas devem elegê-lo como prioridade.

Isso significa que, mesmo sendo priorizadas as eleições, abandona-se as lutas sociais? Em absoluto! E aqui a pergunta ganha sentido: como ficam os chamados movimentos sociais na democracia pautada pela disputa do voto? Deve transitar em paralelo, à parte? Ou devem seus militantes mais conscientes e politizados trazê-los para o centro da disputa?

– Ô, escriba! Você acha que não se percebe vossa senhoria a torcer os argumentos para a segunda alternativa? Dá um tempo!

Daria até dois, mas, aquilo que pode parecer barra forçada é, na verdade, conclusão exigida pela História – essa mesma, com H descomunal:

O que reclama este tempo em que vivemos em perigo – este hoje cheio de riscos à vida, à civilização, à mínima liberdade – é que as lutas sociais convirjam para a luta eleitoral. É necessário que lideranças populares entendam que não há possibilidade sequer de luta sem que se inflija derrota eleitoral e política ao projeto protofascista aninhado no Planalto Central. Estamos na urgência de compreender que é necessário politizar as lutas sociais, as batalhas particulares, corporativas, setoriais, “indentitárias”; conferir a elas caráter de luta em defesa da democracia, da soberania e do desenvolvimento nacional. E nem é preciso adiantar que esse caráter está se consubstanciando a passos céleres na candidatura Lula, não é mesmo?

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Os movimentos sociais, ao não amadurecerem suas pautas de modo a que se vinculem às pautas estruturantes da luta política que toma forma de disputa eleitoral, atrasam-se e atrasam as próprias lutas; as rebaixam. Aquilata-se o alto grau de desenvolvimento das lutas sociais quando vemos suas lideranças abraçarem as candidaturas representativas das aspirações do povo e buscarem os votos necessários à vitória.

Pode a luta eleitoral se atrasar em face da luta popular? Evidente que sim. Mas, não é isso que se vê hoje, agora, neste instante em que, no Brasil, ferve o debate em torno de projetos de Nação. O povo está antenado no processo eleitoral em curso. E comunista – e democrata, e socialista, e social-democrata, e progressista – devem estar onde o povo está.

O que nos leva àquela outra pergunta: Como devem os comunistas atuar nas eleições? A pergunta já vai aqui em parte respondida – mas, não toda.

Querido leitor, caríssima leitora, mais uma vez, e todavia: hoje, só daqui sete dias.

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