Lula eleito e agora?

Vamos precisar redobrar nossa vigilância e ampliar a incidência política das nossas organizações de luta

O resultado da disputa eleitoral de 2022 apresenta esperança e preocupação. Foi um passo em frente, dois passos atrás. A vitória de Lula é um suspiro, diante de um cenário desfavorável. A direita aliada de Bolsonaro, das forças conservadoras, reacionárias e interligadas ao fascismo contemporâneo teve um bom desempenho eleitoral, seu poder de influência tende a aumentar. O resultado de Lula no Nordeste no segundo turno, mesmo vitorioso, apresenta um dado importante sobre a direita alinhada a Bolsonaro, que é o percentual orgânico, representado predominantemente pelo setor evangélico. Veja a porcentagem de Bolsonaro no Nordeste: Piauí: 23%, Ceará: 30%, Bahia: 27,85%, Maranhão: 29%, Pernambuco: 33%, Sergipe: 32,8%, Alagoas: 41,3%, Paraíba: 33,3% e Rio Grande do Norte: 34,9%. Essa é uma configuração que se reproduz no país. Os evangélicos representam cerca de 25% a 30% do eleitorado brasileiro. Se consideramos isso como uma frente política, representa a maior força política do país com capilaridade popular e militância orgânica, esse fator se comprova com o resultado do segundo turno para a presidência da república. Junto a esse poderio, o uso da ciência, a partir das redes sociais, foi instrumento de fortalecimento ideológico, de fabricação de mentiras e de distorção da verdade.

Foi preciso uma frente mais ampla para ser capaz de derrotar o poder político e eleitoral do fascismo no país. Essa força se mantém viva, convicta e disposta a ocupar os espaços de poder. Não nos enganemos, ela é maior que a esquerda e os movimentos sociais, reúne os militantes de forma cotidiana e os instrui permanentemente.

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A tática da frente ampla demonstrou ser acertada, vale lembrar que ela esteve em disputa, pois alguns setores defendiam uma frente de esquerda, seríamos esmigalhados, mas o resultado demonstrou o acerto tático.

A vitória eleitoral de Lula desempenha papel importante na recondução do país no caminho da democracia e do desenvolvimento econômico e social, considerando os limites da democracia burguesa. Lula consegue unificar amplos setores do país. O governo Lula será limitado pela polaridade criada pela direita no país.

Serão momentos de intensa luta. Vamos precisar redobrar nossa vigilância e ampliar a incidência política das nossas organizações de luta. Será necessário radicalizar na democracia possibilitando o retorno aos mecanismos de controle e participação social, com foco no protagonismo dos movimentos sociais.

É necessário não cair no equívoco de 2003, e achar que esse será o governo da revolução. Novamente será um governo de coalizão, sem maioria no congresso nacional e nos estados brasileiros e saindo de uma disputa eleitoral que demonstra fragilidades na base social. Portanto, o governo Lula estará em disputa, tanto pela esquerda, como por setores progressistas e democráticos, como também pela própria direita que possibilitou a vitória contra o fascismo. É isso mesmo, essas são as condições objetivas, o que deverá exigir maturidade e engenharia política para o processo de acumulação de forças das esquerdas. Unidade do campo popular, democrático e esquerda é imperativo para que não seja parido novamente dentro do nosso seio forças que favoreçam a direita fascista. O exemplo das manifestações de 2013, ainda continuam quentes e repercutindo. Uma visão esquerdo-infantil pode ser fatal para a democracia. Cuidemos para não repetirmos o mesmo erro.

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Vamos juntos, movidos pela ciência, pela crença na luta revolucionária e na compreensão contextualizada e concreta da realidade. Faz-se necessário calcular a correlação das forças políticas, potencializar o nosso poder de mobilização social e lutar para incidir nos acontecimentos políticos, melhorando a qualidade de vida do nosso povo e ampliando a sua capacidade de protagonismo e intervenção política. Menos emoções para enxergar os acontecimentos atuais e atuar numa engenharia de transformação social para a classe trabalhadora.

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