Mais do que suposto melindre

Aos militares envolvidos na frustrada trama golpista caberá pagar pelos seus erros conforme a lei e segundo o rito processual cabível

O general Tomás Paiva (de cinza) e o presidente Lula durante cerimônia do Dia do Exército — Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

Óbvio que há um desconforto importante nas Forças Armadas em decorrência das revelações que se sucedem a propósito da trama golpista urdida pelo então presidente da República, capitão reformado Jair Bolsonaro, e ministros e auxiliares integrantes do seu núcleo de confiança.

Ocorre que entre estes estão oficiais da mais alta patente, a exemplo dos generais Walter Braga Netto, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira.

Ao que registra a grande mídia, com o longo depoimento prestado à Polícia Federal pelo general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, a situação do ex-presidente e dos militares por ele capturados para seus intentos antidemocráticos deve se complicar mais ainda.

O nexo entre os fatos investigados vai se tornando claro e consistente.

À esquerda, pela voz de antigos e jovens militantes, se pede a cabeça dos envolvidos e se cobra do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, postura ofensiva em relação às Forças Armadas.

Mensagem nas redes, artigos em sites diversos e que tais passam a impressão de que Lula estaria vacilando diante da oportunidade de uma espécie de vingança por todos os males que, em diferentes momentos da História, o braço armado do Estado brasileiro cometeu contra a democracia.

Leia também: Maioria instável

Acusam o presidente de um suposto melindre.

Mas o buraco é muito mais embaixo. 

Evidente que Bolsonaro conseguiu comprometer parcela expressiva da caserna com seu projeto de poder. E quase o realiza, como agora se sabe.

Mas é preciso situar a questão no contexto da conjuntura política do país em seu todo. E considerar a complexa transição que o governo Lula tenta realizar – da desordem institucional, econômica e social herdada de Temer e de Bolsonaro para uma nova situação, institucionalmente minimamente plantada e politicamente bem articulada, na qual seja possível realizar um novo ciclo de transformações progressistas na sociedade brasileira.

O conjunto da população ainda permanece em grande parte dividido entre extremos. Parcela considerável sob a influência de uma direita ativa, multifacetada e sem nenhum escrúpulo.

Aos militares envolvidos na frustrada trama golpista caberá pagar pelos seus erros conforme a lei e segundo o rito processual cabível.

Ao presidente Lula cabe governar.

E ao conjunto das nossas forças, mais do que nunca mergulhar na base da sociedade para reforçar as condições necessárias para que o governo dê certo.

Os resultados até agora alcançados são muito expressivos e melhoram em certa medida as condições de existência da população mais sofrida. Atingem, portanto, base social muito ampla e diversificada.

Ao invés de cobranças inadequadas ao presidente da República, cabe mobilizar essa base social.

O mundo gira. Saiba mais  https://bit.ly/3Ye45TD

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor