O genocídio de Guedes e Bolsonaro, antes, durante e pós-pandemia
Diante dos destroços que a pandemia deixará no Brasil desgovernado por Bolsonaro, só restará uma alternativa para a recuperação econômica: o Estado brasileiro protagonizar um vigoroso programa de investimentos em infraestrutura
Publicado 13/07/2020 23:39

Pouco a pouco, o anúncio de Guedes de que a economia sob seu comando e o país sob o desgoverno de Bolsonaro vão “surpreender o mundo”, após a pandemia, vai se revelando uma grande falácia e, mesmo para os economistas mais liberais e representantes do conservadorismo político, uma bravata motivo de chacota e zombaria.
Afinal, qual é o plano miraculoso de Guedes após a maior crise sanitária de nossa história que poderia dar ao Brasil e aos brasileiros algum sinal de esperança?
Rigorosamente, nenhum, afinal, o plano pós-pandêmico do ministro da Economia mais ultraliberal de nossa história, só comparado, historicamente, a Joaquim Murtinho, do governo Campos Sales, da velha república, pela sua obsessão doentia de manter o Brasil atrelado às carcomidas oligarquias rurais de então e aos países centrais que emergiam no mundo industrial, é, rigorosamente, o mesmo que praticava antes da pandemia: a agenda privatista, fiscalista e de supressão de direitos.
Hoje, com as previsões (mais otimistas), até o momento, de que o PIB despencará pelo menos 6%, ou 10%, pelas mais pessimistas, somente o Estado será capaz de puxar um futuro crescimento, pois o parque industrial que sobreviver estará com enorme capacidade ociosa, a economia com uma taxa brutal de desemprego e as empresas extremamente endividadas. Nessas condições, é evidente que a retomada do crescimento não terá como ser liderada pelo consumo ou pelo investimento privado, nacional, muito menos estrangeiro, como sonha o ministro.
O raciocínio do atual ocupante do Ministério da Economia é um só: após a pandemia, haverá uma grande quantidade de capital acumulado em todo mundo, cujos investidores apostarão nos países que oferecerem maior reciprocidade.
Pois bem, a reciprocidade de Guedes ele próprio tem anunciado aos quatro ventos: acelerar o processo de ‘privatizações’, ou, melhor dizendo, ‘alienações’ do patrimônio público nacional, precisamente as empresas que atuam em áreas estratégicas ao desenvolvimento nacional, o que significa dizer que ele quer entregar nossas galinhas dos ovos de ouro em troca de tais “investimentos” dos bem conhecidos fundos especulativos internacionais.
Outra medida para atrair os forasteiros bem intencionados, certamente, será a manutenção de taxas de juros (Selic) em patamares acima das praticadas pelo mercado internacional, ou seja, insistirá pelo caminho da cobertura do rombo fiscal que inevitavelmente a pandemia deixará com a sangria dos frutos do trabalho e da produção nacionais.
Nada disso é novidade em se tratando de Guedes e seus meninos de Chicago.
No entanto, mesmo que isso fosse possível, pois certamente a Nação e o povo oferecerão grande resistência, há, mais uma vez, a ilusão de que o capital privado internacional ficará motivado a investir em um país cuja imagem após a pandemia será a pior possível, seja em razão da política negacionista de enfrentamento da Covid-19, seja pelas desastradas práticas no terreno ambiental, ou, ainda, das renitentes políticas de desrespeito aos direitos humanos e de afronta à democracia, aos poderes republicanos e à Constituição Federal.
Aliás, nenhum outro governo, nem mesmo o de Campos Sales a que nos referimos anteriormente do ponto de vista econômico, agrediu tanto o sistema democrático como o atual. Estaremos, sob Bolsonaro, excluídos até mesmo dos investimentos institucionais que estão sujeitos a regras rigorosas em seus países. A chance de colocarem um único centavo num o país governado por pessoas inimigas dos avanços civilizatórios é inexistente.
Portanto, diante dos destroços que a pandemia deixará no Brasil desgovernado por Bolsonaro, só restará uma alternativa para a recuperação econômica: o Estado brasileiro protagonizar um vigoroso programa de investimentos em infraestrutura, em todos os seus segmentos, com ênfase no complexo industrial da saúde, sob pena da estagnação arrastar-se por anos a fio, o que poderá representar um risco extraordinário para o país e a Nação.
A consigna central será, certamente, o aumento dos investimentos públicos, um palavrão para Guedes e sua equipe, fruto do alinhamento doentio ao pensamento único dos “investimentos privados”, preferencialmente forâneos, até porque os locais estarão fortemente deprimidos.
A retomada do investimento público, que foi seriamente comprimido no país nas últimas décadas, terá que encontrar espaço no orçamento controlado de forma fiscalista por Guedes, sendo que, hoje, o maior entrave à liberação do investimento público é a restrição auto-imposta do teto de gastos, expresso na Emenda Constitucional 95, aprovada ainda em 2016.
Mas, como congelar a despesa primária total em termos reais até 2036, como prevê aquela infortunada emenda, se, para citar apenas um exemplo, os custos previdenciários, mesmo depois da malfadada ‘reforma’ de Bolsonaro, cresce algo em torno de 3% ao ano? Impossível! Basta acrescentar que, diante o crescimento anual de 0,8% da população brasileira, congelar a despesa primária em termos reais significa reduzir a despesa primária per-capita, como bem nos ensina o professor José Luís Oreiro, da Universidade de Brasília.
Isso seria factível num país dotado de serviços públicos universais e de qualidade em áreas essenciais como saúde, educação, segurança pública e de infraestrutura, que não é o nosso caso. Em todos essas áreas, em razão das políticas ‘neo’ e ultraliberais adotadas por sucessivos governos, com raras e honrosas exceções, acumulamos déficits monstruosos, que só poderão ser superados com intensiva alocação de investimento público.
Portanto, a solução não poderá ser a revisão das chamadas despesas obrigatórias, opção pregada insistentemente por Guedes, sua equipe e alguns economistas teimosos, pois essa medida só agravará o atual quadro extremamente crítico das desigualdades sociais no país.
Uma coisa é certa: o quadro pós-pandemia se deteriorará sensivelmente pela objeção, obstrução e boicote criminoso de Bolsonaro e Guedes às ações necessárias para apoiar a população brasileira que mais precisa no enfrentamento da pandemia. As políticas de transferência de renda para os trabalhadores informais e de manutenção dos empregos e da renda dos formais não estão cumprindo a sua finalidade, muito pelo contrário. Empregos são perdidos a toda hora e a renda cai abruptamente. O socorro às empresas do setor privado, principalmente às micro, pequenas e médias, também não tem chegado, como já denunciaram exaustivamente os representantes do setor, diante da previsível onda de falências que atingirá fortemente o setor.
Apenas e tão-somente o programa emergencial vai sendo tocado aos trancos e barrancos, graças ao Congresso Nacional e à pressão da sociedade, mas é um programa absolutamente insuficiente para a tarefa grandiosa de retomar o crescimento pelo caminho do consumo das famílias, hoje dramaticamente endividadas. De qualquer forma, a pressão deve ser mantida para preservar a renda das parcelas mais vulneráveis da população brasileira e, com isso, evitar um colapso na demanda no último trimestre do ano.
Portanto, a solução para reduzir o endividamento do setor público, tão apregoado pelos economistas de viés liberal, é, nesse momento, acelerar o crescimento da economia brasileira, através de um ousado programa de investimentos em infraestrutura, algo absolutamente impensável com Guedes na Economia e Bolsonaro na Presidência do país.
Outra saída, sem embaraço com a primeira, seria a emissão monetária, através da compra de títulos do Tesouro diretamente pelo Banco Central, mas é outra medida rechaçada pelo governo como saída para a atual crise.
Nesse cenário, o plano de Guedes pós-pandemia terá consequências ainda mais desastrosas comparado ao que teve no período anterior, acarretando inevitável recrudescimento da crise política e social.
Anunciam que, após a pandemia, continuarão tratando o paciente cronicamente debilitado com o mesmo receituário que já não estava dando certo antes da crise, o que demonstra o caráter genocida de seus patrocinadores, o mesmo que estamos verificando no enfrentamento do Coronavírus.
Inevitável e previsível uma poderosa e altiva resposta do país para barrar tamanha insanidade que, hoje, mata milhares de brasileiros, e pretende, com sua sanha genocida, fulminar a nossa condição de Nação soberana.