O lobby de Israel nos Estados Unidos
Quando no Oriente Médio ocorre um período de “calmaria”, acabo escrevendo amenidades. Desta vez, com o total fracasso já anunciado da Reunião de Annapolis na semana passada, restou-me fazer o comentário de um livro publicado recentemente nos Estados Unido
Publicado 06/12/2007 18:42
Um livro de geopolítica internacional
O livro a que me refiro é The Israel lobby and US foreing policy (em uma tradução livre seria “O lobby de Israel e a política externa dos Estados Unidos”). A autoria é do professor John J. Mearsheimer e Stephen M. Walt (editora Farrar, Strauss and Giroux, New York, 434 páginas, com preço nos Estados Unidos de US26.00). Não temos previsão, que eu saiba, de uma tradução dessa obra no país por alguma editora (espero que isso ocorra logo para podermos ter o conteúdo do livro franqueado a brasileiros interessados no conflito entre israelenses e palestinos).
Ambos os autores são renomados intelectuais estadunidenses. Mearsheimer é professor de Ciências Política da Universidade de Chicago e co-diretor do Programa de Política de Segurança Internacional. Tem vários livros publicados, especialmente The tragedy of great power politics. O outro co-autor, Walt, é professor de Assuntos Internacionais da Escola John Kennedy de Governo da Universidade de Harvard, considerada melhor Universidade do mundo. É autor, entre outras obras de Taming América power: The global response to US primary.
O tema do livro – o lobby israelense – é extremamente polêmico, seja no mundo político, seja no mundo acadêmico. Nunca se provou propriamente, a existência de um lobby organizado. É senso comum dizer, desde a falsificação da obra denominada Protocolos dos sábios do Sião, da corte do Czar Nicolau da Rússia, que os judeus dominam o mundo, o sistema financeiro internacional, os meios de comunicação etc. Sempre disse que a nossa luta deve ser contra o sistema capitalista, não contra pessoas que professam esta ou aquela confissão religiosa ou mesmo de etnias distintas.
Este livro, no entanto, me pareceu que foi o que mais fundo foi nas pesquisas referentes à ajuda que Israel sempre recebeu dos Estados Unidos e a forma simbiótica como estes dois entes políticos e institucionais têm atuado, pelo menos ao longo dos últimos 60 anos. Quando leio um livro acadêmico (ainda que sempre mescle com livros romanceados para relaxar o cérebro), vou logo nas páginas de notas de rodapé (de final de livro na verdade). Neste caso, fiquei impressionado com as exatas 1.396 notas explicativas! Isso mostra um profundo e vigoroso estudo, alicerçado por pesquisas sólidas, referenciadas em livros, estudos e tantas outras fontes confiáveis de ambos autores.
A estrutura da obra
A obra tem duas grandes partes. A primeira, cujo título é Os Estados unidos, Israel e o Lobby, os autores tratam de temas sobre Israel como o grande beneficiário desse poderoso lobby, as estratégias dos judeus no mundo e seus objetivos, a dualidade da moral política nesse caso do apoio americano aos judeus e ao seu estado nacional. Os autores procuram descrever em detalhes o que seria esse lobby, como ele funciona, quem são seus principais membros, apoiadores, articulistas etc.
Na segunda parte do livro, cujo título é O lobby em ação, os autores passam a detalhar como age o lobby, seus efeitos, suas conseqüências, seus resultados, sua força, sua influenciam no congresso e principalmente na Casa Branca. Aqui são descritos em detalhes como esse lobby vêm prejudicando os palestinos desde a criação do estado de Israel em 29 de novembro de 1947. um dos capítulos dessa segunda parte trata da invasão do Iraque, como política externa estadunidense e o “sonho” das transformação do Oriente Médio. Aborda ainda o papel da Síria nesse cenário conflitivo, do Irã e por fim, a situação do Líbano. Na verdade, como vimos comentando nos quase seis anos desta coluna, no Oriente Médio hoje os focos de tensionamento tem sido mesmo o Iraque, o Líbano, a Palestina e do outro lado do Golfo Pérsico-Arábico, a situação do Irã.
Muitas passagens me chamaram a atenção, mas os autores descrevem o apoio dos Estados Unidos a Israel em qualquer situação. Essa descrição de apoio é feita em profundidade sobre os aspectos econômicos, militares e diplomáticos. No campo econômico, os números são por demais de fartos. Fala-se em 154 bilhões de dólares a fundo perdido já teriam sido gastos nesses anos todos. Mais recentemente, a estimativa é de que de vários tipos de ajuda que os americanos dão por ano a Israel, situe-se na faixa de três a cinco bilhões de dólares.
No campo militar também os números são fartos. Os EUA sempre armaram Israel e nisso, o fizeram de forma consciente até num projeto mais abrangente e global para tentar conter a força da então União Soviética na região, cujos aliados maiores sempre foram o Egito, de Gamal Abdel Nasser e a própria Síria. Como os americanos nunca conseguiram tirar esses países da órbita de influência soviética, acabaram por apoiar firme e abertamente Israel como seus verdadeiros parceiros na região. Se eu pudesse usar um termo que se descreve essa situação, eu diria, como tenho dito de fato aqui neste espaço, que a existência de Israel é parte de um projeto de colonização da região, um projeto imperialista, expansionista, que procura criar um estado artificial, uma espécie de “cabeça de ponte”, em uma região que é inteiramente árabe (estima-se até 400 milhões de árabes, contra 15 milhões de judeus em Israel). São descritos todas as armas de destruição em massa vendidas pelos EUA a Israel e a questão desse país ter mesmo a bomba atômica, sem que os Estados Unidos nunca fizessem um movimento para que estes assinassem o Tratado de Não-Proliferação de armas nucleares (tais pressões valem apenas para o Irã, Brasil e Coréia do Norte).
No campo diplomático, chama a atenção o dado de que nada menos do que seis primeiros ministros de Israel falaram no Congresso dos Estados Unidos! Nenhum outro país e um representante seu teve tantas vezes essa presença no legislativo federal americano. Isso é de um ineditismo fenomenal e mostra a força desse lobby mesmo. Essa força diplomática se mostra sempre presente em todas as votações no Conselho de Segurança da ONU. Um dado que me chamou a atenção – mas ele em si é bem maior – é que os americanos vetaram, obstaculizaram 42 resoluções contrárias a Israel no CS das Nações Unidas entre 1972 e 2000 (vejam que a pesquisa não menciona de 1948 até 1972 e depois de 2000). Na verdade, esse número deve ser pelo menos 50% maior.
Esperemos que em breve, os brasileiros possam ter acesso a essa obra monumental. Até lá, o livro pode ser adquirido, com desconto e entregue em casa a um preço de livro comum brasileiro, no site da Amazon Books, do famoso e arquimilionário Jeff Bezos.
Israelixo
Há muitos sites na Internet, em várias línguas, que atacam e criticam diariamente o Estado de Israel, como sendo um estado terrorista, racista, discriminador e antidemocrático. No entanto, recebi hoje uma recomendação que quero compartilhar com meus leitores. Antes disso alguns esclarecimentos.
Sempre fiz uma distinção entre “judeus” e “sionistas”. Nossa luta é e sempre foi contra o sionismo político, movimento que objetivava criar um estado nacional, um lar nacional judaico para os judeus de todo o mundo na Palestina. Acho mais do que justo que todos os povos possam ter as suas terras, mas não tomando a terra de outros povos. Por isso, devemos respeitar todas as pessoas de qualquer fé ou etnia, que se proclamem um povo, que vivam em paz em qualquer lugar da aterra. O projeto sionista fracassou, pois existem mais judeus espalhados pelo mundo do que os vivendo em Israel.
O endereço que quero compartilhar é http://www.israelixo.jeeran.com/israelixo.htm
Desde já aconselho: existem algumas partes do site que é preciso ter estômago forte para serem visitadas, especialmente as fotos e os vídeos de assassinatos, massacres de palestinos e não palestinos. O site é rico em documentos que criticam, mostram dados contra Israel. É evidente que não concordo com muitas dessas passagens, especialmente a que nega a existência do holocausto judeu na segunda guerra. Não assino embaixo de muita coisa desse site, mas a consciência de cada leitor, de forma soberana, vai avaliar o seu conteúdo. Essa é a democracia e a liberdade da Internet.