Olhar programático sobre conquistas parciais

Tudo é uma questão de perspectiva. Ou quase tudo. Pelo menos quando se trata da luta imediata em torno de bandeiras que nos parecem corresponder às exigências do desenvolvimento do país. As reformas estruturais, por exemplo: a agrária, a tributária, a urbana, a educacional, a política e a dos meios de comunicação.

– “Essas reformas nunca sairão do papel”, adverte o amigo ex-militante desencantado, segundo ele, com o “balanço negativo” entre perdas e ganhos ao longo de décadas desde deu os primeiros passos no movimento estudantil. Na linha do horizonte enxerga nada, salvo a permanência da ordem vigente.

Claro que tamanho pessimismo desconhece as conquistas obtidas pelo povo brasileiro ao longo da História e faz de contas que nada aconteceu de novo desde que Lula ascendeu à presidência da República, em 2003. “Questão de perspectiva”, observo, tentando, em vão, acordá-lo para a realidade em movimento.

Mas é preciso reconhecer que quando não se tem uma perspectiva, digamos, estratégica como referência, fácil se torna cair na armadilha das dificuldades momentâneas. Essa perspectiva é dada por um Programa político que, assentado nas condições reais do mundo e no país, balize o que desejamos em médio e longo prazo. Caso do novo Programa do PCdoB, submetido a debate no 12º. Congresso do Partido, em andamento.

No texto não se encontra nenhuma veleidade voluntarista. Tudo é formulado com os pés no chão, considerando o nível atual da luta que, por seu turno, é mediado pela correlação de forças na sociedade. Daí a apresentação das reformas estruturais como uma necessidade imperiosa dos nossos dias, para que o Brasil avance em seu processo civilizatório. Reformas que, se não têm o dom de resolver todos os entraves ao pleno desenvolvimento do país como nação soberana, democrática e socialmente progressista, possibilitarão entretanto conquistas expressivas – meio caminho andado para transformações de maior envergadura.

Caso da reforma dos meios de comunicação, que permeia a realização da I Conferência Nacional convocada pelo governo federal para os dias 1, 2 e 3 de dezembro. Na audiência pública que promovemos sobre o tema na Câmara Municipal do Recife, terça-feira última, veio à tona, com força, o alcance da Conferência. E um consenso na compreensão de que apesar dos seus limites, a simples realização da Conferência já será uma vitória em si, ainda que inicial, pois elevará a outro patamar a discussão do tema em âmbito nacional.

Isto numa visão em perspectiva, programática, que dá a devida dimensão às vitórias parciais.

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