Poder militar camuflado

Como quem não quer nada, na moita, o Palácio do Planalto vem montando a estrutura de uma máquina de guerra que pode ser convocada a qualquer momento e colocada sob o comando de militares de alta patente que trabalham no governo.

O colonialismo mudou sua forma de agir, seus métodos de dominação, mas segue seu rumo por onde houver brechas, mundo afora. Planta governos alinhados por meio de eleições diretas e, através deles, controla a exploração de recursos naturais, os meios de comunicação social, as forças armadas e o sistema financeiro, como sempre fez. Há até chefe de governo que bate continência à bandeira dos Estados Unidos, por exemplo.

As forças armadas deixam de ser apenas as convencionais e ganham maior poder ao arregimentar componentes e armamentos por outros caminhos que não o estatal. Entram em cena, então, as milícias locais, bem organizadas; empresas de segurança privada, com grandes contingentes; associações de ex-militares, de caráter civil, mas muito dispostas; mercenários de todas as procedências, como os que invadiram o Iraque; e mesmo integrantes de forças regulares em atuações paralelas.

Não faltam exemplos do uso desses recursos por membros do atual governo da República do Brasil, mas dois deles ganharam grande notoriedade, justamente por se enquadrarem nessa categoria. Um, foi a tomada de quartéis da Polícia Militar do Ceará por milicianos, identificados como ex-policiais militares, que passaram a impedir a ação regular daquela força estadual. Houve a retenção de viaturas nos quarteis, com ameaças de morte a condutores desses veículos, que ficaram vários dias contidos, como se fosse uma rebelião da própria PM, o que comprovadamente não era.

Outro caso foi a morte do miliciano Adriano da Nóbrega. Em confronto armado com polícia baiana, na localidade de Esplanada, interior do Estado. Ex-capitão da PM, membro ativo da milícia do Rio de Janeiro, ele era acusado de vários assassinatos e há dois anos era apontado como foragido. Quando foi morto, porém, o caso gerou protestos do presidente da República e, com ainda mais intensidade, do seu filho Flávio Bolsonaro, apontados como amigos do criminoso morto.

Facções do crime organizado que já controlam o mercado ilegal de armas passam a integrar essas, que são chamadas de “máquinas de guerra”, pois passam a ser tão bem equipadas quanto as forças convencionais. No caso do Brasil, é possível o uso de contingentes de do Exército no papel policial de forças de segurança, modalidade inaugurada no Rio de Janeiro, com a marca de “força de pacificação”, mas com rastro de sangue por onde passou e onde estacionou.

Foram acionadas, também, pelo atual governo federal em várias tarefas especiais, como, por exemplo, a de controle de incêndios na Amazônia. No momento, contudo, essas forças estão em atividades em 16 estados brasileiros e estão prestes a, mais uma vez, serem encarregadas de apagar incêndios na Amazônia, consequência do crescimento do desmatamento nesses primeiros meses de 2020.   Madeireiros, mineradores e ruralistas receberam sinal verde das autoridades federais pra devastação que já está em curso.

O fato é que, como quem não quer nada, na moita, o Palácio do Planalto vem montando a estrutura de uma máquina de guerra que pode ser convocada a qualquer momento e colocada sob o comando de militares de alta patente que trabalham no governo. Pela proximidade do governo verde-amarelo com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é natural a conclusão de que as forças ianques estão com os coturnos em nosso território.

Mesmo que não necessite movimentar essas tropas por razões internas, portanto, o presidente brasileiro conta com a possibilidade de, a mando do poder colonial, em Washington, invadir a Venezuela, nossa vizinha do Norte, principal fornecedora de petróleo aos Estados Unidos. Está cada vez mais claro que as forças armadas a serem utilizadas serão desse novo tipo, sob a tutela do governo, não do Estado brasileiro.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *