Um filme norte-americano indie

O indie norte americano”A Bread Factory”, de Patrick Wang.

Filme "Bread Factory" | Foto: Divulgação/Mubi

O que eu considero melhor na exibição de plataformas on-line é justamente que elas exibem os filmes ‘independentes’ norte-americanos, enquanto as salas de cinema permanecem, com raras exceções, ligadas às grandes empresas de Hollywood. E é assim que temos em exibição na Mubi o filme ‘indie’ “A bread factory”, realizado pelo cineasta Patrick Wang. Este é provavelmente de origem oriental e sua produção vem desde 2011, com alguns poucos filmes nos quais a produção é de sua autoria. O espectador realmente não encontrará filmes desse cineasta – que é escritor, economista, diretor, produtor e ator – em salas de cinema.

“A bread factory” que temos agora na Mubi é apenas a Primeira parte, e na verdade seria mais correto que a Mubi juntasse as duas partes para permitir uma visão completa dessa obra de Patrick Wang.

Na verdade, somente essa “Part one: For the sake of gold” mostra bem para o espectador que tipo de cinema estamos enfrentando. Uma peça de teatro filmada, mas não como aconteceu muito nos anos passados, quando o cineasta deixava que a estrutura da peça dominasse a estrutura do filme. Wang conduz sua narrativa de uma maneira bem cinematográfica, e não teatral. Embora todas as sequências sejam representadas por intérpretes de teatro, e a forma com que eles se pronunciam seja teatral. A peça, nesse caso, será um primeiro ato, mas não existe uma narrativa contínua. Há uma continuidade na narração, mesmo no contar a estória, mas sem a dimensão de uma peça que estivesse sendo apresentada num palco. É cada tópico que vai sendo montado e através do corte passa de um para outro. Uma parte fundamental do filme provavelmente vem da presença dos atores que, é possível, também representaram quando essa peça foi montada no palco.

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Hoje, que estou estudando o idioma inglês, aprecio melhor a narrativa falada toda ela em sintonia teatral. Mas não estou reclamando pelo teatral. Não. Pelo contrário, quero destacar que é excelente e muito bela a forma de representação de todos os atores. Tanto no comportamento funcional, quanto na sonoridade. Mas isso não prejudica a narrativa sonora. Inclusive, como o diretor Patrick Wang é um artista que não tem ligações diretas com as grandes empresas cinematográficas, ele pode criar sem preocupações em não se tornar ‘difícil’. A ironia existente em seus textos se desenvolve com largueza.

Uma sequência bem divertida é quando surge, junto a personagens que estão no ato em diálogo, e estes começam a cantar ‘China é o futuro,,, China future…” e esse refrão ganha a cena toda. Mas a sequência é colocada de tal forma que não fica claro que o autor do filme está falando de bem ou mal da China. Talvez, de verdade, as duas coisas. Mas do ponto de vista de análise do contexto do filme, o que acontece mostra o sentido ‘indie’ da obra cinematográfica.

Enfim, sempre aconteceram filmes ‘independentes’ no cinema dos Estados Unidos, principalmente na produção de Nova York. Mas hoje com as plataformas de exibição, e a própria Netflix, a exibição é muito mais independente do que antes, quando apenas existam as salas de exibição, com o domínio da maioria das salas pertencentes unicamente à empresa Luiz Severiano Ribeiro. Embora fosse uma empresa brasileira, ela era mais submissa ao cinema norte-americano do que as próprias empresas distribuidoras norte-americanas.

Olinda, 23. 06. 22

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