Estamos nos primeiros cem dias do governo Dilma, cedo demais para firmar juízo de valor consistente. Entretanto, surgem sinais de um novo cenário em formação em que o papel dos agentes políticos tende a ser pelo menos parcialmente diverso do que ocorreu nos dois governos sucessivos do presidente Lula.
Leio no Twitter da prefeitura de Olinda informações quentíssimas sobre o desfile das “Virgens” e, na postagem seguinte, a conspícua notícia de que a partir das 10 horas haverá canto gregoriano no Mosteiro de São Bento. Carnaval é assim: contrastes para todos os gostos.
O anúncio da presidenta Dilma de que dará prioridade ao combate à miséria não é em si errado. Antes soa positivo e sublinha o compromisso social da gestão que se inicia. Entretanto, pode dar margem a interpretações incorretas, na medida em que se entenda nesse propósito um retorno ao “tudo pelo social” e coisas do gênero.
Dilma é diferente de Lula – proclamam “analistas” de todos os matizes, como se estivessem a descobrir algo surpreendente. Na verdade, usam do artifício para acentuar o que entendem por posturas conservadoras da presidenta, em seu primeiro mês de gestão. Mais: reforçam a pressão para que não se altere a política macroeconômica.
Vou logo dizendo que me custa muito assimilar essa classificação social pelas letras de A a E. Coisa de pesquisa mercadológica, sem lastro teórico consistente. Pelo menos do ponto de vista marxista – e até hoje ninguém foi capaz de refutar a explicitação da natureza de classes da sociedade tal como a fez Marx, deslindando as contradições de classe como motor do desenvolvimento da sociedade.
De vez em quando o TSE divulga estatísticas sobre filiados a partidos políticos no país. A última dá conta de que o PMDB continua no pódio com mais de dois milhões de inscritos. E há outros considerados grandes, incluindo o PT. O PCdoB se aproxima do porte médio, embora ainda muito distante do que os comunistas desejam.
Meu blog lucianosiqueira.blogspot.com é assumidamente amador, improvisado, puro lazer. Diferente do site do mandato www.lucianosiqueira.com.br que é profissional, feito por uma equipe qualificada, que trabalha uma pauta múltipla, viva (daí o sucesso medido pelo volume expressivo de acessos).
Passada a euforia da vitória e da posse, os primeiros meses de governo são sempre espinhosos – de todo governo, sobretudo o da República. A agenda é extensa e complexa, os problemas não esperam.
Li outro dia que Coelho Neto deixou setenta e quatro títulos publicados. Senti vergonha. Moro desde 1984 na Rua Coelho Neto e jamais li qualquer coisa escrita pelo homenageado. Dele sabia ter sido um combativo abolicionista e pertencido à geração de Olavo Bilac e José do Patrocínio. Jornalista, escritor, gestor público. Só.