O Brasil converteu-se, em menos de ano e meio de governo Bolsonaro, num exemplo mundial de desordem econômica e política.
Já há algum tempo, a China é vista como uma grande ameaça, provavelmente sem precedentes, à liderança mundial a que os americanos tanto se apegam.
Vou me arriscar no campo pantanoso da política outra vez. Começo com a pergunta que está na cabeça de todos: Bolsonaro tem futuro? Questão crucial, pois quase equivale a perguntar: o Brasil tem futuro?
O debate econômico no Brasil mudou muito nos meses recentes, mas ainda está engatinhando em face da dimensão avassaladora da crise. Logo nos primeiros momentos, estabeleceu-se virtual unanimidade quanto à urgência de uma rápida e substancial ampliação do gasto público. “Somos todos keynesianos agora”, repetiu-se urbi et orbi. Ora, como dizia Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra – e esta não escapa à regra rodrigueana.
A dupla crise da saúde pública e da economia pode vir a ser devastadora. A pandemia não está sob controle. A recessão é inevitável a esta altura, no Brasil e em grande parte da economia mundial. A questão é se será possível evitar uma grande depressão, como a que ocorreu na década de 1930.
As emergências econômicas e políticas costumam produzir esses fenômenos que, como tudo que é humano, têm o seu lado cômico.
O que temos neste início de 2020 é a combinação de um choque importante, ainda que de magnitude e duração incertas, com vulnerabilidades pré-existentes, de ordem comercial, geopolítica e financeira.