As ameaças dos Estados Unidos e o risco de conflito mundial

As ameaças dos Estados Unidos e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), desde setembro, contra a Rússia, fizeram […]

As ameaças dos Estados Unidos e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), desde setembro, contra a Rússia, fizeram a tensão internacional voltar aos níveis de mais de três décadas atrás e beiram um conflito aberto.

Ela pode ser simbolizada no destino de Kaliningrado, capital da região mais ocidental da Rússia, às margens do Báltico, fronteiriça à Lituânia e Polônia, e a pouca distância da Suécia. Ela é a antiga Königsberg onde – faz mais de duzentos anos – o filósofo Immanuel Kant escreveu o livro A Paz Perpétua (1795), cuja atualidade é crescente, exortando aos homens e aos chefes de Estado (“que nunca chegam a saciar-se da guerra”) a se entregarem, como os filósofos, “a esse doce sonho”.

O apelo nunca foi ouvido e, hoje, as ações agressivas dos Estados Unidos e da Otan são reavivadas e colocam aquela cidade no centro da tormenta desde que, para defender-se dessas ameaças, os russos deslocaram para Kaliningrado mísseis Isklander, com ogivas nucleares.

Mas o epicentro do terremoto não está ali mas na Síria. O plano norte-americano e da Otan de repetir o que ocorreu no Iraque e Líbia, que foram destroçados como nações soberanas e organizadas, está na base da guerra civil síria. Ela já dura cinco anos, gerou milhões de refugiados, centenas de milhares de mortos, e propiciou o reforço de grupos terroristas que, apoiados em interpretações extremistas e guerreiras do Islã, promovem ações mundo a fora – e o principal deles é o autodenominado Estado Islâmico.

A guerra civil cresceu com a obsessão dos Estados Unidos e dos países imperialistas europeus em derrubar o presidente Bashar al Assad, da Síria. Os russos, por sua vez, insistem na não interferência de potências ocidentais nos assuntos sírios, e apoiam Assad.

A tensão cresceu desde que, atendendo aos apelos de Assad, os russos apoiam militarmente ao governo sírio, contrariando os interesses imperialistas, sobretudo dos Estados Unidos e da França.

Neste sábado (15), a reunião entre representantes norte-americanos e russos, da qual participaram outros protagonistas do conflito (Turquia, Catar e Arábia Saudita, que são contrários a Assad, e Iraque, Egito e Irã, aliados do governo sírio), ocorreu em Lausanne (Suíça) e terminou sem avanços rumo à paz. Concordaram apenas em “prolongar os contatos”, como disse o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov.

O nó das complicações que opõe Estados Unidos e Rússia é extenso. Os norte-americanos acusam, sem provas, o governo russo de apoiar ciberataques contra cidadãos e instituições do país. Os russos, por sua vez, acusam os Estados Unidos de intervenção na Ucrânia e de instalar forças da Otan próximas à fronteira russa, e encaram tais movimentos como uma ameaça grave.

É “um jogo muito perigoso”, disse Lavrov. Ele se referiu a uma “mudança fundamental de circunstâncias no que diz respeito à agressiva russofobia que agora reside no centro da política dos Estados Unidos” acompanhada de “medidas agressivas que realmente prejudicam os nossos interesses nacionais e representam uma ameaça à segurança russa”.

Esta ameaça ficou ainda maior após declarações feitas na campanha eleitoral norte-americana por Hillary Clinton, ex-secretária de Estado e candidata com chance de ser eleita presidenta. Ela, que esteve diretamente envolvida nas agressões cometidas no Oriente Médio, tem dito que, se eleita, vai endurecer as ações militares contra a Síria.

São sinais que se multiplicaram desde o final de setembro, criando uma situação de grave ameaça guerreira na qual urge a mobilização pelo “doce sonho” da paz. Ela só poderá ser “perpétua” quando os interesses imperialistas que provocam as guerras forem derrotados e não poderem mais intervir nos assuntos internos das nações soberanas.