Eliana de Lima no PCdoB: "Quero ser do partido que apoia o povo"

A cantora Eliana de Lima, uma das principais vozes femininas do samba, concedeu entrevista ao Vermelho-SP onde fala sobre sua trajetória, samba, carreira e as barreiras por ser mulher. Recém filiada ao PCdoB-SP, Eliana afirma: "É aqui que eu vou ficar. Aqui que eu gostei. E daqui eu não saio mais!". Confira a íntegra abaixo:

Vermelho-SP: Fale um pouco sobre você, Eliana. Quem é Eliana de Lima?

Eliana de Lima: Bom, Eliana Maria de Lima, nome artístico Eliana de Lima. Nasci no Tatuapé, Zona Leste. Este ano comemoro 50 anos, 32 anos de carreira. Minha carreira começou, como todos já sabem, como puxadora de samba, foi uma estrada muito difícil que tive que trilhar para conseguir meu objetivo, mas consegui. Enfim, desde quando eu entrei no samba, eu comecei a cantar com 18 anos, lá atrás, eu sempre tive aquele senso de luta, sempre lutar por algo. Fui aquela cantora que lutou, primeiro, para que uma mulher tivesse o mesmo espaço do homem puxando samba-enredo. Depois lutei para que os puxadores de samba tivessem um cachê, porque não só vestir a camisa, ali pra nós tinha de ser um trabalho, na época que eu comecei não era remunerado. Batalhei e consegui também: fui a primeira puxadora que ganhou um carro na escola Leandro de Itaquera. Enfim, tenho 11 CDs gravados, sendo que acho que sou a única cantora feminina que cantou ao lado do Jamelão, que é um orgulho para mim, fui pra avenida com ele. A única cantora que vendeu um milhão de discos, isso em 1991, numa gravadora pequena que nem multinacional era. Então ao longo da minha carreira eu tenho muitas vitórias. O reconhecimento que ao longo destes 32 anos conquistei um público maravilhoso. E acho que pelos meus 32 anos de carreira em que eu levei e levo a minha música e a minha arte para o povo, eu acho que posso contribuir agora de outras maneiras também.

Vermelho-SP: Você foi a primeira mulher puxadora de samba de SP e me parece que também do Brasil? O mundo do samba é muito masculino? Você enfrentou muita resistência?

EL: O mundo do samba era um mundo muito masculino, e ainda é. Porque nós temos algumas cantoras que frequentam quadras de samba, que tem potencial e eles não deixam elas irem para aquelas escolas grandes, no máximo em escolas do grupo de acesso. Então essa política teve, e tem. Acho que eu quebrei uma barreira muito grande e foi muito difícil. Tive que batalhar muito… anos a fio… para poder provar que eu poderia estar ali, levando a escola de samba à frente mesmo, num posto que era só de homens. Então foi muito difícil. E a resistência, é lógico, foi pelos homens. E eu agradeço muito ao povo de São Paulo, porque se eu estou aqui hoje é porque o sambista de São Paulo me apoiou.

Vermelho-SP: Você fez algumas campanhas para o Lula, shows em sindicatos… De onde vem essa relação com a esquerda? E por que o PCdoB?

EL: Desde o começo. Acho que eu fui a primeira mulher a cantar um samba do PT. E eu sempre tive simpatia… porque eu quero ser do partido que apoia o povo… que se importa com o povo. Não quero ser de um partido que não está nem aí com o povo. Porque eu sou povo. Eu vim do povo e eu convivo com o povo. Até mesmo pelo meu trabalho: fazer carnaval, fazer meus shows… Eu faço show para o meu povo. Então tem tudo a ver com a minha característica.

O PCdoB é porque eu já tinha simpatia. Vendo que o Netinho hoje está onde ele está… Minha querida Leci Brandão… Desde o ano passado o partido vem me convidando para me filiar, já me filiei, já sou filha do PCdoB. Tenho muita simpatia. É aqui que eu vou ficar. Aqui que eu gostei. E daqui eu não saio mais!

De São Paulo, Mariana de Rossi Venturini